Saída do segundo armário: análise das narrativas autobiográficas de Felipe Mastrandéa
DOI:
https://doi.org/10.19132/1807-8583202050.243-262Palavras-chave:
Videografias. YouTube. Felipe Mastrandéa. Armário. HIV.Resumo
No presente artigo, apresentamos uma discussão sobre visibilização de temáticas da esfera do privado (SENNETT, 1988) e do segredo (SEDGWICK, 1990), por meio da análise de narrativas autobiográficas de Felipe Mastrandéa em seu canal no YouTube, em que o vlogger revela ser soropositivo. A partir dessa análise, objetivamos perceber como se dá a construção dessas videografias de si (COSTA, 2007; 2009), assim como a saída do chamado segundo armário (MISKOLCI, 2012a). Para tanto, recorremos a bibliografias sobre diários contemporâneos na internet e sobre o HIV e, uma vez que esse vírus, assim como outras questões relacionadas ao sexo, é alocado no âmbito do sigilo, principalmente em razão do estigma a ele atribuído historicamente, abordamos temas como público versus privado, exposição de intimidade e regimes de visibilidade, valendo-se das contribuições de Arfuch (2010), Bruno (2013), Sibilia (2003; 2016), Goulemot (2009), Ranum (2009), Foisil (2009), dentre outros autores. Como principais resultados, percebemos que as videografias são marcadas por um imbricamento do público e do privado. Neste caso específico, o domínio pessoal é publicizado com função estratégica, para adquirir visibilidade e manter um status de webcelebridade. No entanto, essa revelação é parcial, uma vez que Felipe Mastrandéa confere mais importância à exposição da identidade homossexual e menos à soropositividade. Além disso, contar que convive com HIV poderia ser utilizado por ele como um posicionamento contra discursos preconceituosos e discriminatórios, entretanto, o vlogger acaba, na contramão, reforçando os estereótipos relativos à promiscuidade e à irresponsabilidade.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Daniel Mazzaro Vilar de. Performatividades gays: um estudo na perspectiva brasileira e argentina. 2016. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.
ALMEIDA, Maria Rita; LABRONICI, Liliana. A trajetória silenciosa de pessoas portadoras do HIV contada pela história oral. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 263-274, jan./mar. 2007.
ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2010.
BEZERRA, Júlio Carlos. Nós, sujeitos autobiógrafos: uma história de narradores, romancistas e ‘cineastas do eu’. Revista Contracampo, Rio de Janeiro, n. 16, p. 199-224, 2007.
BRASIL aumenta diagnóstico e tratamento para o HIV. Portal do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais, 04 dez. 2017. Disponível em: . Acesso em: 5 fev. 2018.
BRITO, Ana Maria de; CASTILHO, Euclides Ayres de; SZWARCWALD, Célia Landmann. AIDS e infecção pelo HIV no Brasil: uma epidemia multifacetada. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 34, n. 2, p. 207-217, mar./abr. 2001.
BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2013.
CERCA de 21 milhões de pessoas vivendo com HIV estão em tratamento, diz novo relatório global do UNAIDS. Portal do UNAIDS Brasil, 20 nov. 2017. Disponível em: . Acesso em: 5 fev. 2018.
COSTA, Bruno. Videografias de si: registro do novo ethos da contemporaneidade. Cadernos da Escola da Comunicação, Curitiba, v. 1, n. 5, p. 1-15, 2007.
COSTA, Bruno. Práticas autobiográficas contemporâneas: as videografias de si. Revista Digital de Cinema Documentário, Portugal, n. 6, p. 141-157, ago. 2009.
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA PORTADORA DO VÍRUS DA AIDS. Encontro Nacional de ONG que Trabalham com AIDS, Porto Alegre, 1989.
DORNELLES, Juliano Paz. O fenômeno vlog no YouTube: análise de conteúdo de vloggers brasileiros de sucesso. 2015. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Faculdade de Comunicação Social, Pós-Graduação em Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
ERBOLATO, Mario. Técnicas de codificação em Jornalismo. São Paulo: Ática, 1991.
FOISIL, Madeleine. A escritura do foro privado. In: CHARTIER, Roger (org.). História da vida privada 3: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 321-358.
GOULEMOT, Jean Marie. As práticas literárias ou a privacidade do privado. In: CHARTIER, Roger (org.). História da vida privada 3: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 359-396.
HEINICH, Nathalie. De la visibilité: excellence et singularité en régime médiatique. Paris:Gallimard, 2012.
HELAL, Ronaldo. Mídia, construção da derrota e o mito do herói. In: HELAL, Ronaldo; SOARES, Antonio Jorge; LOVISOLO, Hugo. A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria. Rio de Janeiro: Mauad, 2001. p. 149-162.
HÉNAFF, Nolwenn. Blog: um diário pessoal para existir, ver e ser visto. In: AUBERT, Nicole; HAROCHE, Claudine (org.). Tiranias da visibilidade: o visível e o invisível nas sociedades contemporâneas. São Paulo: Fap-Unifesp, 2016. p. 153-180.
MARCONDES FILHO, Ciro. O capital da notícia: jornalismo como produção social da segunda natureza. São Paulo: Ática, 1986.
MASTRANDÉA, Felipe. Para maiores de 18 anos (289). 2017. (6m26s). Disponível em: . Acesso em: 20 maio 2018.
MASTRANDÉA, Felipe. Para maiores de 18 anos (291). 2017. (5m44s). Disponível em: . Acesso em: 20 maio 2018.
MASTRANDÉA, Felipe. Para maiores de 18 anos (292). 2017. (4m17s). Disponível em: . Acesso em: 20 maio 2018.
MISKOLCI, Richard. A gramática do armário: notas sobre segredos e mentiras em relações homoeróticas masculinas mediadas digitalmente. In: PELÚCIO, Larissa et al. (org.). Sexualidade, gênero e mídia: olhares plurais para o cotidiano. Marília: Cultura Acadêmica, 2012a. p. 35-52.
MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica; UFOP, 2012b.
PINHEIRO, Chloé. Homens jovens ou homossexuais ainda são as grandes vítimas do HIV. Saúde Abril, 30 nov. 2018. Disponível em: . Acesso em: 10 fev. 2018.
RANUM, Orest. Os refúgios da intimidade. In: CHARTIER, Roger (org.). História da vida privada 3: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 211-626.
ROJEK, Chris. Celebridade. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
SEDGWICK, Eve Kosofsky. Epistemologia do armário. Berkeley: University of California Press, 1990.
SENNETT, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
SIBILIA, Paula. Os diários íntimos na internet e a crise da interioridade psicológica. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO, 12., 2003, Recife. Anais [...]. Recife: UFPE, 2003.
SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2016.
TURNER, Graeme. Understanding celebrity. London: SAGE, 2004.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Robson Evangelista dos Santos Filho, Mariana Ramalho Procópio Xavier

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Os Direitos Autorais dos artigos publicados neste periódico pertencem aos autores, e os direitos da primeira publicação são garantidos à revista. Por serem publicados em uma revista de acesso livre, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em atividades educacionais e não-comerciais.
A revista utiliza a Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY-NC 4.0), que permite o compartilhamento de trabalhos com reconhecimento de autoria.
Auto-arquivamento (política de repositórios): autores têm permissão para depositar todas as versões de seus trabalhos em repositórios institucionais ou temáticos, sem embargo. Solicita-se, sempre que possível, que a referência bibliográfica completa da versão publicada na Intexto (incluindo o link DOI) seja adicionada ao texto arquivado.
A Intexto não cobra qualquer taxa de processamento de artigos (article processing charge).