Dossiê: A contemporaneidade da lírica: apóstrofes, endereçamentos e anacronismos
Neste ano, completa-se uma década da publicação de Theory of the lyric, importante tratado de Jonathan Culler que trouxe diversas contribuições ao pensamento acerca da poesia lírica, além de outros gêneros tangentes como, por exemplo, a canção. Traçando um arco que vai da antiguidade clássica à contemporaneidade, dentro da qual, por sua vez, elementos variados são objetos de análise, tais como a poesia em prosa e o rap, o estudo tem ponto alto quando toma por objeto uma figura característica da lírica, qual seja: o endereçamento apostrófico. Sorte de fenda temporal que rompe a teleologia de um possível entrecho para trazer o discurso ao presente de sua própria enunciação –por meio de uma interrupção protagonizada pela evocação de uma expressão entre a voz e a linguagem, como um “ó”–, ele, também, abre o eu lírico que, ao passo que se dirige a outrem, torna-se, igualmente, e talvez extrapolando um pouco o argumento de Culler, um tu para um outro, produzindo, finalmente, uma performance interativa. Não obstante, esse outro é, geralmente, extra-humano: uma montanha, uma flor, uma divindade. Com isso, permanece na lírica, mesmo na modernidade, uma dimensão ritualística, uma vez que, por meio do endereçamento, tenciona os elementos ficcionais de modo a gerar uma atualização performática do discurso que se enuncia.
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