Dôssie: Literatura, Natureza e Cultura
Embora as relações entre cultura e natureza sejam frequentemente postuladas como tema afim ao campo das Ciências Sociais, o objetivo deste Dossiê da Revista Nau Literária é o de assinalar como a Literatura e seus desdobramentos críticos e teóricos são um lugar de grande riqueza para se pensar as múltiplas implicações de tal relação. As entradas são muitas: poderíamos começar lembrando da importância dos Estudos Literários e Linguísticos para a conformação do Estruturalismo francês – além de suas refrações naquilo que se habituou a designar como Pós-estruturalismo –, notadamente a importância de Roman Jakobson para a antropologia de Claude Lévi Strauss, para a qual natureza e cultura era um nó decisivo. Regressado um tanto, poderíamos, num sentido radicalmente diverso, relembrar do comumente papel moralizante atribuído à literatura, segundo o qual sua função seria a de realizar uma passagem unívoca da natureza à cultura via domesticação, isto é, a assim chamada purificação dos afetos ou superação do sensível. Isso, inclusive, em muito se assemelha ao posterior ímpeto de correção da natureza a que se propunha o Realismo-Naturalismo, tal como consta nas palavras de Émile Zola em seu fatídico Manifesto, cujo projeto, diga-se de passagem, parece ganhar um trato contestador nas narrativas de Machado de Assis. Pois nelas, diferentemente, não raro se ironiza o modo pelo qual a objetificação dos animais – ou dos irracionais, como os loucos – para experiência (que, no caso, muitas vezes se torna um mero sinônimo para tortura), pedra de toque do naturalismo, acaba se voltando contra o sujeito da manipulação, o qual se torna objeto de sua própria objetificação.
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