“Quem é o ‘melhor da cultura’?”: representações de gênero, raça e faixa etária nas capas da revista Bravo!
DOI:
https://doi.org/10.19132/1807-8583202049.270-289Palavras-chave:
Jornalismo. Memória. Gênero. Cultura. Revista Bravo!.Resumo
Este artigo se propõe a mapear e analisar as capas da revista Bravo! ao longo dos quase 16 anos em que esteve em circulação, observando a construção da memória coletiva sobre a cultura brasileira a partir do lugar que a revista reserva para os diferentes sujeitos neste espaço consagrado e consagrante. Após a análise quantitativa, empregamos o conceito de gênero articulado aos estudos feministas pós-estruturalistas, compreendido como categoria analítica e epistemológica (SCOTT, 1995; BONETTI, 2007) mapeando questões de gênero, raça e faixa etária em uma perspectiva interseccional (CRENSHAW, 2004). Realizamos a análise qualitativa aplicando os preceitos teórico-metodológicos da Análise Enunciativa (FOUCAULT, 2007) aos dados. Os resultados apontam que a memória construída pela revista Bravo! privilegia o sujeito masculino (74% das capas), branco (91%) e na faixa dos 60 anos ou mais de idade (60%), fortalecendo e reiterando valores sociais hegemônicos no que se refere à cultura. Além disso, verificou-se que as mulheres têm mais visibilidade nas faixas etárias que antecedem os 40 anos, enquanto os homens ganham mais legitimidade na capa da revista a partir dos 60 anos de idade. Na perspectiva interseccional, identificamos a tripla invisibilização de gênero, raça e geração que atinge as mulheres negras, presentes em apenas 0,67% das capas.
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