A doença no Jornalismo: análise do noticiário de capa da revista Veja (1968-2014)
DOI:
https://doi.org/10.19132/1807-858320190.76-98Palavras-chave:
Doença. Jornalismo. Medicalização. Revista Veja. Saúde.Resumo
O jornalismo se constitui numa esfera de grande importância na atualidade para compreendermos as noções de saúde e doença. Pensando nisso, tomamos como objeto empírico o semanário de informação Veja, do qual investigamos o noticiário de capa produzido entre os anos de 1968 e 2014 para avaliar a ideia de doença construída pela revista. Num primeiro momento, examinamos quantitativamente a cobertura em relação aos assuntos ligados à saúde e ao noticiário geral. Em seguida, aprofundamos o olhar qualitativo a partir das três moléstias mais noticiadas dos principais grupos: o câncer (crônico-degenerativa), o HIV/AIDS (infectocontagiosa) e a depressão (transtornos mentais). Mesmo sendo doenças de grupos distintos, a cronicidade é a principal característica que as aproxima. Enfatizando a medicalização e o cuidado crônico, a Veja reforça a importância do leitor na autorregulação como forma de controle e/ou prevenção.
Downloads
Referências
A SOMBRA da AIDS. Veja, São Paulo, n. 882, p. 88-93, 31 jul. 1985.
AIDS: o vírus pega o Pelé do basquete. Veja. São Paulo: Abril, ed. 1208, n. 46, 13 nov. 1991. Semanal.
ANTUNES, E. O jornalismo é história malfeita? In: LEAL, Bruno Souza; ANTUNES, Elton; VAZ, Paulo Bernardo. Para entender o jornalismo. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. p. 155-68.
ARONOWITZ, R. A. The converged experience of risk and disease. The Milbank Quarterly, Malden, v. 87, n. 2, p. 417-42, 2009.
BENETTI, M. A ironia como estratégia discursiva da revista Veja. Líbero, São Paulo, v. 10, n. 20, p. 37-46, dez. 2007.
BENETTI, M. Revista e jornalismo: conceitos e particularidades. In: TAVARES, Frederico de Mello; SCHWAAB, Reges (Org.). A revista e seu jornalismo. Porto Alegre: Penso, 2013. p. 44-57.
BERTUCCI, L. M. Influenza, a medicina enferma: ciência e práticas de cura na época da gripe espanhola em São Paulo. Campinas: Editora Unicamp, 2004.
BORCH-JACOBSEN, M. La fabrique des folies: de la psychanalyse au psychopharmarketing. Auxerre Cedex: Éditions Sciences Humaines, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2014: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva, 2014.
CAMARGO JÚNIOR, K. R. Medicalização, farmacologização e imperialismo sanitário. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 29, n. 5, p. 844-6, maio 2013.
CASTIEL, L. D.; GUILAM, M. C. R.; FERREIRA, M.. Correndo o risco: uma introdução aos riscos em saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2010.
CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.
CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2009.
CHARAUDEAU, P; MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
CLARK, L. G. de O.. O câncer nas capas da Veja: embasamento científico das reportagens (1973-2011). 2013. Dissertação (Mestrado em Divulgação Científica e Cultura) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013.
CLARKE, A. et al. Biomedicalization: Technoscientific transformations of health, illness and u.s. biomedicine. American Sociological Review, [s.l.], v. 68, n. 2, p. 161-94. Apr. 2003.
CONRAD, P. Medicalization and social control. Annual Review of Sociology, Waltham, v. 18, n. 1, p. 209-232, Aug. 1992.
CONRAD, P. The medicalization of society: on the transformation of human conditions into treatable disorders. Baltimore. Maryland: The Johns Hopkins University Press, 2007.
CONRAD, P.; SCHNEIDER, J. Deviance and medicalization: from badness to sickness. Philadelphia: Temple University Press, 1980.
COUTINHO, D.; ALMEIDA FILHO, N. de; CASTIEL, L. D. Epistemologia da epidemiologia. In: BARRETO, M. L.; ALMEIDA FILHO, N. de. Epidemiologia e saúde: fundamentos, métodos e aplicações. São Paulo: Guanabara Koogan, 2011. p. 29-42.
EHRENBERG, A. Depressão, doença da autonomia? Ágora: estudos em teoria psicanalítica. Entrevistador: Michel Botbol. Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 143-53, jan./jun. 2004.
FARIAS, E. A. de. Jornalismo à espanhola: um olhar sobre o noticiário recifense da epidemia de gripe de 1918. 2008. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.
FAUSTO NETO, A. Comunicação e mídia imprensa: estudo sobre a AIDS. São Paulo: Hacker Editores, 1999.
FERRAZ, L. M. R. Doença, uma noção (também) jornalística: estudo cartográfico do noticiário de capa do semanário de informação Veja (1968-2014). 2015. Tese (Doutorado em Informação e Comunicação em Saúde) - Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2015.
FERREIRA, S. A evolução do conceito de depressão no século XX: uma análise da classificação da depressão nas diferentes edições do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria (DSMs) e possíveis repercussões destas mudanças na visão de mundo moderna. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 78-91, abr./jun. 2011.
FIORIN, J. L. Elementos da análise do discurso. 14. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
FRANÇA, R. O. 40 anos em revista: representações e memória social nas capas de Veja. 2011. Tese (Doutorado em Comunicação Social) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.
GALTUNG, J.; RUGE, M. H.. The structure of foreign news. Journal of Peace Research, [s.l.], v. 1, n. 1, p. 64-90, 1965.
HELLER, E. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.
HOHENBERG, J. Manual de jornalismo. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1962.
JURBERG, C. et al. Perfis das notícias sobre câncer no Correio da Manhã e no The New York Times nos anos 1931-1932 e 1948-1949. Revista Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v. 58, n. 2, p. 143-52, abr./maio/jun. 2012.
Koifman, S.; Koifman, R. J. Environment and cancer in Brazil: an overview from a public health perspective. Mutation Research, Amsterdam, v. 544, n. 2-3, p. 305-11, nov. 2003.
LAGE, L. O acontecimento é o passado da notícia? In: LEAL, B. S.; ANTUNES, E.; VAZ, P. B. F. Para entender o jornalismo. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. p. 77-88.
MOULIN, A. M. O corpo diante da medicina. In: CORBIN, A.; COURTINE, J-J.; VIGARELLO, G. (Org.). História do corpo: as mutações do olhar: o século XX. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. v. 3, p. 15-82.
NEIVA, P. Malignos, comuns e traiçoeiros. Veja, São Paulo, ed. 1830, n. 47, p. 144-151, 26 nov. 2003.
PEGAR. In: HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 1.458.
PEGUEI AIDS do meu marido. Veja, São Paulo, ed. 1570, n. 44, 28 out. 1998. Semanal.
PORTELA, C. Revistas semanais de informação geral no Brasil hoje: conceituações e definições. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL DE COMUNICAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 14., 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo, 2009. p. 1-15.
ABRIL. Veja. São Paulo: PubliAbril: circulação geral, 2017.
RIBEIRO, A. P. G.. A mídia e o lugar da história. In: HERSCHMANN, M.; PEREIRA, C. A. (Org.). Mídia, memória e celebridades. 2. ed. Rio de Janeiro: E-papers, 2005. p. 105-129.
SAINT CLAIR, E. T. A depressão como atualidade midiática no Brasil contemporâneo: fazendo o arquivo falar (1970-2010). 2012. Tese (Doutorado em Comunicação) - Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
SCALZO, M. Jornalismo de revista. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
SODRÉ, M. A narração do fato: notas para uma teoria do acontecimento. Petrópolis: Vozes, 2009.
SONTAG, S. AIDS e suas metáforas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
SOUZA, C. M. C. de. A gripe espanhola na Bahia: saúde, política e medicina em tempos de epidemia. 2007. Tese (Doutorado em História das Ciências da Saúde) - Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde, Casa de Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2007.
SPINK, M. J. et al. A construção da AIDS-notícia. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 851-62, jul./ago. 2001.
TABAKMAN, R. A saúde na mídia: medicina para jornalistas, jornalismo para médicos. São Paulo: Summus Editorial, 2013.
TUCHERMAN, I.; RIBEIRO, M. S. Ciência e mídia: negociações e tensões. Revista ECO-Pós, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 244-59, jan./jul. 2006.
VAZ, P. Doença mental e consumo nas revistas semanais brasileiras. E-compós, Brasília, v. 15, n. 1, p. 1-16, jan./abr. 2012.
VAZ, P.; PORTUGAL, D. A nova “boa-nova”: marketing de medicamentos e jornalismo científico nas páginas da revista brasileira Veja. Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, v. 9, n. 26, p. 37-60, nov. 2012.
VAZ, P.; PORTUGAL, D. A felicidade segundo a razão farmacêutica: subjetividade, tecnologia e consumo de medicamentos na cultura contemporânea. In: RIBEIRO, Ana Paula Goulart; FREIRE FILHO, J.; HERSCHMANN, M. (Org.). Entretenimento, felicidade e memória: forças moventes do contemporâneo. Guararema: Anadarco, 2013. p. 87-113.
VEJA. São Paulo: Abril, ed. 239, n. 14, 4 abr. 1973. Semanal.
VEJA. São Paulo: Abril, ed. 1440, n. 16, 17 abr. 1996. Semanal.
VEJA. São Paulo: Abril, ed. 1757, n. 25, 26 jun. 2002. Semanal.
VEJA. São Paulo: Abril, ed. 1830, n. 47, 23 nov. 2003. Semanal.
WILLIAMS, S.; MARTIN, P.; GABE, J. The pharmaceuticalisation of society? A framework for analysis. Sociology of Health and Illness, Leeds, v. 33, n. 5, p. 710-25, jul. 2011.
ZOLA, I. K. Medicine as an institution of social control. The Sociological Review, Keele, v. 20, n. 4, p. 487-504, nov. 1972.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Luiz Marcelo Robalinho Ferraz

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Os Direitos Autorais dos artigos publicados neste periódico pertencem aos autores, e os direitos da primeira publicação são garantidos à revista. Por serem publicados em uma revista de acesso livre, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em atividades educacionais e não-comerciais.
A revista utiliza a Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY-NC 4.0), que permite o compartilhamento de trabalhos com reconhecimento de autoria.
Auto-arquivamento (política de repositórios): autores têm permissão para depositar todas as versões de seus trabalhos em repositórios institucionais ou temáticos, sem embargo. Solicita-se, sempre que possível, que a referência bibliográfica completa da versão publicada na Intexto (incluindo o link DOI) seja adicionada ao texto arquivado.
A Intexto não cobra qualquer taxa de processamento de artigos (article processing charge).