Entre substâncias e relações: formação e modernização do Brasil em Raízes e Sobrados (1936)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/15174522-112158

Palavras-chave:

Pensamento social no Brasil, teoria sociológica, Raízes do Brasil, Sobrados e Mucambos, modernidade

Resumo

Interessado no potencial heurístico das edições inaugurais de Raízes do Brasil e de Sobrados e Mucambos (1936), bem como em suas eventuais interlocuções com agendas de reflexão contemporâneas, o presente artigo almeja inquirir a respeito de suas afinidades em torno de uma questão em particular. Refiro-me a certas ambivalências e tensões interpretativas latentes nos ensaios, alimentadas pela coexistência de duas visadas que fazem pender as atenções de Sérgio Buarque de Holanda e de Gilberto Freyre em direções aparentemente inconciliáveis: de um lado, um viés internalista e substancialista da formação e modernização do país e, de outro, uma perspectiva transacional desses processos. Na parte final do artigo, à luz dos insights oferecidos pelo debate sociológico relacional, teço considerações acerca das contribuições das obras para uma abordagem da vida social brasileira sensível à miríade de conexões socio-históricas implicadas em sua formação e adesão aos padrões de sociabilidade modernos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Sergio Barreira de Faria Tavolaro, Universidade de Brasília

Professor Associado do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. Doutor em Sociologia pela The New School for Social Research. Bolsista PQ do CNPq.

Referências

ARAÚJO, Ricardo. Guerra e paz: Casa-grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

BASTOS, Elide. Raízes do Brasil – Sobrados e Mucambos: um diálogo. In: MONTEIRO, P.; EUGÊNIO, J. (orgs). Sérgio Buarque de Holanda: perspectivas. Campinas; Rio de Janeiro: Editora da Unicamp; EdUERJ, 2008. p. 227-244.

BASTOS, Elide. Gilberto Freyre e o pensamento hispânico: entre Dom Quixote e Alonso El Bueno. Bauru: EDUSC, 2003.

BOMFIM, Manoel. A América Latina: males de origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 1993.

BURKE, Peter; PALLARES-BURKE, Maria L. Repensando os Trópicos: um retrato intelectual de Gilberto Freyre. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

CANDIDO, Antonio. A visão política de Sérgio Buarque de Holanda. In: MONTEIRO, P.; EUGÊNIO, J. (orgs). Sérgio Buarque de Holanda: perspectivas. Campinas; Rio de Janeiro: Editora da Unicamp; EdUERJ, 2008. p. 29-36.

CARDOSO, Fernando H.; FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

CHAKRABARTAY, Dipesh. Provincializing Europe: postcolonial thought and historical difference. Princeton: Princeton University Press, 2000.

CHERNILO, Daniel. The critique of methodological nationalism: theory and history. Thesis Eleven, v. 106, n. 1, p. 98-117, 2011. https://doi.org/10.1177/0725513611415789

CONRAD, Sebastian. What is global history? Princeton: Princeton University Press, 2016. p. 37-61.

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981.

DÉPELTEAU, François. What is the direction of the “relational turn”?. In: POWELL, C.; DÉPELTEAU, F. (eds.). Conceptualizing relational sociology: ontological and theoretical issues. Nova York: Palgrave Macmillan, 2013. p. 163-185.

DONATI, Pierpaolo. Relational Sociology and the globalized society. In: DÉPELTEAU, F.; POWELL, C. (eds). Applying relational Sociology: relations, networks, and society. Nova York: Palgrave Macmillan, 2013. p. 1-24.

EISENSTADT, Shmuel. Beyond classical revolutions – processes of change ad revolutions in neopatrinomial societies. In: EISENSTADT, S. Revolution and the Transformation of societies: A comparative study of civilizations. Nova York: The Free Press, 1978. p. 273-310.

EMIRBAYER, Mustafa. Manifesto for a relational sociology. American Journal of Sociology, v. 103, n. 2, p. 281-317, 1997. https://doi.org/10.1086/231209

ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. Vol. 2.

EUGÊNIO, João. Um ritmo espontâneo: o organicismo em Raízes do Brasil e Caminhos e Fronteiras, de Sérgio Buarque de Holanda. 2010. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010.

EUGÊNIO, João. Um horizonte de autenticidade – Sérgio Buarque de Holanda: monarquista, modernista, romântico (1920-1935). In: MONTEIRO, P.; EUGÊNIO, J. (orgs). Sérgio Buarque de Holanda: perspectivas. Campinas; Rio de Janeiro: Editora da Unicamp; EdUERJ, 2008. p. 425-459.

FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo: Editora Globo, 2001.

FELDMAN, Luiz. Um clássico por amadurecimento: Raízes do Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, n. 82, p. 119-140, 2013. https://doi.org/10.1590/S0102-69092013000200008

FELDMAN, Luiz. O Brasil no mundo e vice-versa: o Estado em Casa-grande & Senzala, Sobrados e Mucambos e Raízes do Brasil. 2009. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. https://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.32983

FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.

FERREIRA, Gabriela. A formação nacional em Buarque, Freyre e Vianna. Lua Nova, n. 37, p. 229-247, 1996. https://doi.org/10.1590/S0102-64451996000100012

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1996. Vol. II.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadencia do patriarchado rural no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Editora Unesp, 1991.

GO, Julian. Postcolonial thought as social theory. In: BENZECRY, C.; KRAUSE, M.; REED, I. (eds). Social theory now. Chicago: The Chicago University Press, 2017. p. 130-161.

GRUZINSKI, Serge. O historiador, o macaco e a centaura: a “história cultural” no novo milênio. Estudos Avançados, v. 17, n. 49, p. 321-342, 2003. https://doi.org/10.1590/S0103-40142003000300020

HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. Lisboa: Dom Quixote, 1990.

HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

HOLLANDA, Sérgio B. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936.

LAGE, Victor. Interpretations of Brazil, contemporary (de)formations. 2016. Tese (Doutorado em Relações Internacionais) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. https://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.27613

MARX, Karl. Capital. Londres: Penguin Books, 1990. Vol. I.

MELO, Alfredo. Mudanças em ritmo próprio. In: HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. Edição crítica. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 449-455.

MIGNOLO, Walter. The idea of Latin America. Oxford: Blackwell, 2005.

MONTEIRO, Pedro. Signo e desterro: Sérgio Buarque de Holanda e a imaginação do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2015.

MONTEIRO, Pedro; SCHWARCZ, Lília. Uma edição crítica de Raízes do Brasil: o historiador lê a si mesmo. In: HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. Edição crítica. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 11-26.

MONTERESCU, Daniel. Spatial relationality and the fallacies of methodological nationalism: Theorizing urban space and binational sociality in Jewish-Arab “mixed towns”. In: DÉPELTEAU, F.; POWELL, C. (eds). Applying relational sociology: relations, networks, and society. Nova York: Palgrave Macmillan, 2013. p. 25-50.

MOTTA, Roberto. Tempo, desenvolvimento e (in)correção histórica: a propósito da lusotropicologia de Gilberto Freyre. In: MOTTA, R.; FERNANDES, M. (orgs.). Gilberto Freyre: região, tradição, trópico e outras aproximações. Rio de Janeiro: Fundação Miguel de Cervantes, 2013, p. 213-242.

NABUCO, Joaquim. Post-scriptum: a questão da América Latina. In: NABUCO, J. Essencial Joaquim Nabuco. São Paulo: Penguin; Companhia das Letras, 2010. p. 304-310.

PARSONS, Talcott. The system of modern societies. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1971.

POWELL, Christopher; DÉPELTEAU, François. Introduction. In: POWELL, C.; DEPELTEAU, F. (eds.). Conceptualizing relational sociology: ontological and theoretical issues. Nova York: Palgrave Macmillan, 2013. p. 1-12.

PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

PRADO, Eduardo. A ilusão americana. São Paulo: Brasiliense, 1957.

PRADO, Paulo. Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

PRANDINI, Riccardo. Relational sociology: a well-defined sociological paradigm or a challeging “relational turn” in Sociology?. International Review of Sociology, v. 25, n. 1, p. 1-14, 2015. https://doi.org/10.1080/03906701.2014.997969

RAMOS, Alberto G. A redução sociológica. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.

ROCHA, João. O exílio como eixo: bem-sucedidos e desterrados – ou por uma edição crítica de Raízes do Brasil. In: MONTEIRO, P.; EUGÊNIO, J. (orgs). Sérgio Buarque de Holanda: perspectivas. Campinas; Rio de Janeiro: Editora da Unicamp; EdUERJ, 2008. p. 245-275.

RODRIGUES, Raimundo N. Os africanos no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1945.

ROMERO, Silvio. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. Tomo I.

ROSTOW, Walt W. As etapas do desenvolvimento econômico (um manifesto não-comunista). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1978.

SOUZA, Jessé. A modernização seletiva: uma reinterpretação do dilema brasileiro. Brasília: Editora UnB, 2000.

SOUZA, Jessé. A atualidade de Gilberto Freyre. In: KOMINSKY, E. et al. (orgs). Gilberto Freyre em quatro tempos. Bauru: EDUSC, 2003. p. 65-81.

SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected histories: notes towards a reconfiguration of early modern Eurasia. Modern Asian Studies, v. 31, n. 3, p. 735-762, 1997. https://doi.org/10.1017/S0026749X00017133

TAVOLARO, Sergio B. F. Imagens contra-hegemônicas da modernidade: uma visada sociológica relacional. In: F. DÉPELTEAU, F.; VANDENBERGHE, F. (org.). Sociologia Relacional. Rio de Janeiro: Ateliê das Humanidades Editorial, 2021. p. 267-301.

TAVOLARO, Sergio B. F. Stasis, motion and acceleration: The senses and connotations of time in Raízes do Brasil and Sobrados e mucambos (1936). Sociologia & Antropologia, v. 10, n. 1, p. 243-266, 2020. https://doi.org/10.1590/2238-38752019v1019

THERBORN, Göran. Entangled modernities. European Journal of Social Theory, v. 6, n. 3, p. 293-305, 2003. https://doi.org/10.1177/13684310030063002

TORRES, Alberto. A organização nacional. Brasília: Editora UnB, 1982.

VANDENBERGHE, Frédéric. The relation as magical operator: Overcoming the divide between relational and processual sociology. In: DÉPÉLTEAU, F. (ed.). The Palgrave handbook of Relational Sociology. Palgrave MacMillan, 2018. p. 35-57.

VIANNA, Oliveira. Evolução do povo brasileiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.

WAIZBORT, Leopoldo. O mal-entendido da democracia: Sérgio Buarque de Hollanda, Raízes do Brasil, 1936. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 26, n. 76, p. 39-62, 2011. https://doi.org/10.1590/S0102-69092011000200003

WEBER, Max. The protestant ethic and the spirit of capitalism. Nova York: Charles Scribner’s Sons, 1976.

WEGNER, Robert. A conquista do Oeste: a fronteira na obra de Sérgio Buarque de Holanda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.

WIMMER, Andreas; SCHILLER, Nina. Methodological nationalism and beyond: nation-state building, migration and the social sciences. Global Networks, v. 2, n. 4, p. 301-334, 2002. https://doi.org/10.1111/1471-0374.00043

Downloads

Publicado

2022-05-31

Como Citar

TAVOLARO, S. B. de F. Entre substâncias e relações: formação e modernização do Brasil em Raízes e Sobrados (1936). Sociologias, [S. l.], v. 24, n. 59, p. 238–263, 2022. DOI: 10.1590/15174522-112158. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/sociologias/article/view/112158. Acesso em: 19 abr. 2024.