“Um bombeiro pede socorro!”: socialização, treinamento e sofrimento na formação bombeiro militar

Autores

  • Fábio Gomes de França Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-Graduação do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos.
  • Luziana Ramalho Ribeiro Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-Graduação do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos.

DOI:

https://doi.org/10.1590/15174522-0215111

Palavras-chave:

Bombeiros militares. Violência. Socialização. Cultura militar.

Resumo

Objetivamos neste artigo compreender a relação que se estabelece entre a cultura militarista e processos de socialização baseados no sofrimento na formação bombeiro militar. Para tanto, analisamos o caso da morte de um aluno soldado bombeiro militar ocorrido em 2016 na cidade de Cuiabá, Mato Grosso. Por meio de uma pesquisa qualitativa e documental, analisamos o relatório final do Inquérito Policial Civil (IPC)realizado, o qual apontou a prática de tortura por parte de uma instrutora (uma Tenente) de salvamento aquático. Concluímos que uma pedagogia baseada no sofrimento físico e psíquico encontrada nas Forças Armadas e Polícias Militares também faz parte da formação bombeiro militar, a qual não deve ter por objetivo os ideais da guerra.

 

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Biografia do Autor

Fábio Gomes de França, Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-Graduação do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos.

Doutor e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba. Professor convidado do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB.

Luziana Ramalho Ribeiro, Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-Graduação do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos.

Doutora em Sociologia pela UFPB. Professora do Programa de Pós-Graduação do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB.

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Publicado

2019-08-20

Como Citar

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