O princípio da precaução e suas consequências no Direito Penal

Autores

Palavras-chave:

Princípio da precaução, Sociedade de risco, Bem jurídico, Crimes de perigo abstrato, Novos ramos do Direito

Resumo

O artigo desenvolve a possível aplicação do princípio da precaução no direito penal. Parte de sua origem no direito do ambiente e desenvolve a repercussão internacional do seu uso na dogmática penal em diversos países de bases principiológicas legais similares, como Portugal, Brasil e Alemanha. Visto que o objeto criminal atinge as liberdades das pessoas, deve-se analisar com cautela a aplicação de tal princípio, pois o mesmo reflete sobre condições incertas num ramo da ciência que exige aplicações precisas da legalidade jurídica. Trabalha ainda o paradigma moderno da «sociedade de risco» na validação dos verdadeiros bens jurídicos coletivos face aos falsos, e ainda discute a aparente legitimidade dos crimes de perigo abstrato dentro da doutrina criminal.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marine Carrière de Miranda, Universidade de Coimbra

Mestre e Doutoranda em ciências jurídico-criminais na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Investigadora da Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal (FCT).

Referências

ALBRECHT, Diego Alan Schöfer. Crimes de perigo concreto: critérios de acertamento e fundamentos materiais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013.

ALONSO, Leonardo. «O bem jurídico nos crimes contra mercado de capitais». In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 82, ano 18, 2010, p. 129-164.

AMELUNG, Knut. «El concepto “bien jurídico” em la teoria de la protección penal de bienes jurídicos». Tradução de Ortiz Gimeno. In La teoria del bien jurídico. Roland HEFENDEHL(ed). Madrid: Marcial Pons, 2007, p. 227-264.

ANDRADE, Manuel da Costa. «A dignidade penal e a carência de tutela penal como referência de uma doutrina teleológico-racional do crime». In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, ano 2, n.2, 1992, p. 178-205.

ARAGÃO, Alexandra. «Dimensões Europeias do Princípio da Precaução». In Revista da Faculdade de Direito do Porto, ano 7, 2010, p. 245-282.

_______________. «Princípio da Precaução: Manual de Instruções», In Revista CEDOUA, n. 22, 2007,p. 09-58. _______________. O princípio do poluidor-pagador. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1997

ASÚA, Luis Jiménez de. Principio de derecho penal –La ley y el delito. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1958.

BECK, Ulrich. «The Reinvention of Politics: Towards a Theory of Reflexive Modernization». In Reflexive Modernization. Politics, Tradition and Aesthetics in the Modern Social Order, 1994, p. 1-55.

_______________. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Tradução de Jorge Navarro, Daniel Jiménez, Maria Rosa Borrás. Barcelona: Paidós, 1998.

BOTTINI, Pierpaolo Cruz. «O princípio da proporcionalidade na produção legislativa brasileira e seu controle judicial». In Revista Brasileira de Ciências Criminais,n. 85, ano 18, 2010, p. 267-296.

_______________. «Princípio da precaução, direito penal e sociedade de risco». In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 61, 2006, p. 44-115.

CABEZAS, Carlos. «El bien jurídico em la reciente reforma penal chilena».In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 85, ano 18, 2010, p. 77-118.

COSTA, José de Faria, Ilícito típico, resultado e hermenêutica (ou o retorno à limpidez do essencial), Lisboa: Universidade Lusíada, 2000.

_______________. «Apontamento para umas reflexões mínimas e tempestivas sobre o direito penal de hoje». In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 81, ano 17, 2009, p. 36-47.

_______________. «Sobre o objecto de protecção do direito penal: o lugar do bem jurídico nadoutrina de um direito penal não liberal». In Revista de Legislação e Jurisprudência, ano 142, n. 3978, 2013, p. 158-173.

_______________. Noções fundamentais de direito penal. Coimbra: Coimbra Editora, 2016.

_______________. O perigo em Direito penal. Coimbra: Coimbra, 1992.

DELANNOI, Gil. «Sagesse, Prudence, Précaution». In Revue Juridique de l’enviorennemen, n. esp., 2000, p. 11-19.

DIAS, Augusto Silva. «Entre comes e bebes: debate de algumas questões polêmicas no âmbito da protecção jurídico-penal do consumidor». In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, n. 4, v. 8, 1998 (parte 1), e n. 1, v. 9, 1999 (parte 2), p. 515-592 e p. 45-84.

_______________. Protecção jurídico-penal de interesses dos consumidores. Coimbra: Faculdade de Direito, 2000.

_______________. Ramos emergentes do Direito Penal relacionados com a protecção do futuro. Coimbra: Coimbra Editora, 2008.

DIAS, Jorge de Figueiredo. «O papel do direito penal na protecção das gerações futuras». In Boletim da Faculdade de Direito, n. 75, 2003, p.1123-1138.

_______________. «O problema do Direito Penal no diabaltardo terceiro milênio››. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 99, ano 20, 2012, p. 35-51.

_______________. Direito Penal, Parte Geral, Tomo I, 2ª Ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2012.

_______________. Temas fundamentais de Direito Penal. Coimbra: Coimbra Editora, 2001.

DOUMA, Wybe. «The precautionary principle in the European Union». In RECIEL, v. 9, n. 2, 2000, p. 132-143.

FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

FERREIRA, Eduardo Viegas. «Prevenção Criminal –teoria e práxis». In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, n. 1, ano 18, 2008, p. 107-134.

FERRI, Enrico. Sociologia Criminal.Tomo I e II. Versão espanhola por Antonio Soto y Hernández, Madrid: Nueva Biblioteca Universal, 2004.

FISHER, Elizabeth. «Is the precautionary principle justiciable?». In Journal of Environmental Law,v. 13, n. 3, 2001, p.315-334.

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo: UNESP, 1991.

GOLDIM, José Roberto. «Rompendo os limites entre ciência e ética». In Episteme, n. 10, 2000, p. 31-37.

GOMES, Carla Amado. «Dar o duvidoso pelo (in)certo? Reflexões sobre o princípio da precaução». In Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente,n. 15/16, 2001, p. 9-38

_______________. «Le Risque, Cet inconnu...». In Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,v. 43, n. 1, 2002, p. 283-312.

_______________. «Princípios jurídicos ambientais e protecção da floresta: considerações assumidamente vagas». In RevCEDOUA,v. 17, n. 1, 2006, p.51-69.

_______________. A prevenção à prova no Direito do Ambiente.Coimbra: Coimbra Editora, 2000.

GOUVEIA, Ana. O princípio da precaução no Direito do Ambiente.Lisboa: Associação Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa, 2002

GRECO, Luís. «Princípio da ofensividade e Crimes de perigo abstrato». In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 49, 2004, p 89-140.

_______________. Modernização do Direito Penal, Bens jurídicos Coletivos e Crimes de Perigo Abstrato. Rio de Janeiro: Lummen juris, 2011.

GÜNTHER, Jakobs. Derecho Penal –Parte General. Tradução de Joaquin Cuello Contreras e Jose Luis Serrano Gonzalez de Murillo. Madrid: Marcial Pons, 1995.

HASSEMER, Winfried, e CONDE, Francisco Muñoz. La responsabilidad por el producto em derecho penal.Valência: Tirant Lo Blanch,1995.

HEFENDEHL,Roland. «El bien jurídico como eje material de la norma penal». In La teoria del bien jurídico. Roland HEFENDEHL(ed). Madrid: Marcial Pons, 2007, p. 179-196.

_______________. «Uma teoria social do bem jurídico». In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 86, ano 18, 2010, p. 101-120.

HIRSCH, Andrew Von. «El concepto de bien jurídico y el “principio del daño”». Tradução de Rafael Guirao. In La teoria del bien jurídico. Roland HEFENDEHL(ed). Madrid: Marcial Pons, 2007, p.37-52.

HOYER, Andreas. «Risco permitido e desenvolvimento tecnológico». Tradução de Susana Aires de Sousa. In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, n. 3, ano 20, 2010, p. 347-374.

KAHLO, Michael. «Sobre la relación entre el concepto de bien jurídico y la imputación objetiva em derecho penal». Tradução de Rafael Guirao. In La teoria del bien jurídico. Roland HEFENDEHL(ed). Madrid: Marcial Pons, 2007, p.53-68.

LUHMANN, Niklas. Sociología del riesgo. Tradução de Silvia Pappe, Brunhilde Erker e Luis Felipe Segura, Guadalajara: Universidad de Guadalajara, 1992.

MACHADO, Fabio Guedes de Paula, e MOURA, Bruno. «Perspectivas político-criminais e dogmáticas do direito penal no contexto da sociedade de riscos». In Revista de Ciências Penais,ano 8, n. 15, 2011, p. 357-393.

MACHADO, Marta. Sociedade de Risco de Direito Penal.São Paulo: IBCCrim, 2005.

MARTIN, Stefan. «Patenteabilidade das formas superiores de vida». In Revista de Direito Empresarial, n. 9, Curitiba, 2008, p.75-96.

MATTA, Paulo Saragoça da. «O direito penal na sociedade do risco –análise tópica e novas tendências político-criminais». In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, ano 20, v. 4, 2010, p. 513-553.

MCINTYRE, Owen e MOSEDALE, Thomas. «The precautionary principle as a norm of customary international law». In Journal of Environmental Law,v. 9, n. 2, 1997, p. 221-241.

MEIRA, Bruno Tanus Job e. «Alguns reflexos da biotecnologia no direito penal». In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, n. 18, v. 4, 2008, p. 33-46.

MENDONZA BUERGO, Blanca. «Principio de precaucíon, Derecho Penal del riesgo y delitos de peligro». In Principio de precautión, Biotecnología y Derecho. Granada: Comares, 2004, p.435-473.

MIR, José Cerezo. «Los delitos de peligro abstracto em el âmbito del derecho penal delriesgo». In Revista de Derecho Penal y Criminología, n. 10, 2002, p. 47-72.

MOURA, Bruno. «A expansão do direito penal: modelos de (des)legitimação». In Revista CEPPG, n. 21, 2009, p. 159.

_______________. «A sociedade contemporânea: alguns modelos teórico-descritivos relevantes para o Direito Penal». In Revista CEPPG, n. 24, 2011, p. 9-25.

_______________. «O normativismo jurídico-penal: consequência do ou resistência ao funcionalismo?». In Boletim da Faculdade de Direito, n. 86, 2010, p. 709-749.

OLIVEIRA, Madalena Perestrelo. «Delitos ambientais cumulativos: direito penal preventivo». In Estudos em homenagem ao Professor Doutor Alberto Xavier. Coimbra: Almedina, 2013, p. 473-490.

RADE, Christophe. «Le principe de précaution, une nouvelle éthique de la responsabilité?». In Revue Juridique de l’enviorennemen, n. esp., 2000, p. 75-91.

RIPOLLES, José Luis Díez. «Da sociedade do risco à segurança cidadã: um debate desfocado». In Revista Portuguesa de CiênciaCriminal, n. 17, v. 4, 2007, p. 547-600.

RODRIGUES, Joana Amaral. «A teoria do bem jurídico-penal: várias dúvidas e uma possível razão». In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, ano 23, n. 2, 2013, p. 167-213.

ROMEO CASABONA, Carlos Maria. «Aportacionesdel principio de precaución al derecho penal». InPrincipio de precautión, Biotecnología y Derecho. Granada: Comares, 2004, p. 385-422.

ROXIN, Claus. «O conceito de bem jurídico como padrão crítico da norma penal posto à prova». In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, ano 23, n. 1, p. 10.

_______________. Derecho Penal –Parte Geral. Tradução de Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel Diaz y García Conlledo y Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1997.

ROXIN, Claus; GRECO, Luis. Strafrecht Allgemeiner Teil -Band I: Grundlagen. Der Aufbau der Verbrechenslehre. 5ª Aufl. München: Verlag C.H.Beck, 2020.

SÁNCHEZ, Bernardo Feijoo. «Sobre a “administrativação” do direto penal na sociedade do risco. Notas sobre a política criminal no início do século XXI». In Revista Liberdades IBCCrim, n. 7, 2011, p. 23-61.

SANTIAGO, Bruno Vinga. «A prevenção e a investigação criminal». In Revista Portuguesa de Ciência Criminal, n. 3, ano 17, 2007, p. 415-458.

SCHROEDER, Friedrich-Cristian. «Principio de precaucíon, Derecho Penal y Riesgo». In Principio de precautión, Biotecnología y Derecho. Granada: Comares, 2004, p. 423-433.

SCHÜNEMANN, Bernd. «El principio de protección de bienes jurídicos como punto de fuga de los limites constitucionales de los tipos penales yde su interpretación». Tradução de María Martín Lorenzo e Mirja Feldmann. In La teoria del bien jurídico. Roland HEFENDEHL(ed). Madrid: Marcial Pons, 2007, p. 197-226.

SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansión del Derecho penal. Aspectos de la política criminal en las sociedades postindustriales. Madrid: Civitas, 2001.

SOUSA, Susana Aires de. «Responsabilidade criminal por produtos defeituosos». In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 76, 2009, p. 106-121.

_______________. «Sociedade do risco: réquiem pelo bem jurídico?». In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 86, ano 18, 2010, p. 231-246.

_______________. A Responsabilidade Criminal pelo Produto e oToposCausal em Direito Penal -Contributo para uma protecção de interesses do consumidor.Coimbra: Coimbra Editora, 2014.

_______________.Os Crimes Fiscais: Análise Dogmática e Reflexão sobre a Legitimidade do Discurso Criminalizador. Coimbra: Coimbra Editora,2006.

_______________.Questões fundamentais de Direito Penal da Empresa. Coimbra: Almedina, 2019.SUNSTEIN, Cass. «The Paralyzing Principle». In Winter,2002-2003, p. 32-37.

TROUWBORST, Arie. «The Precautionary Principle and the Ecosystem Approach in International Law: Differences, Similarities and Linkages». In RECIEL, v. 18, n. 1, 2009, p. 26-37.

WEISS, Edith Brown. «Our rights and obligations to future generations for the environment». In The American Journal of International Law, v. 94, 1990, p 198-207.

WOHLERS, Wolfgang. «Teoria do bem jurídico e estrutura do delito». In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 9, ano 19, 2011, p. 97-107.

Downloads

Publicado

01-07-2021

Como Citar

DE MIRANDA, M. C. O princípio da precaução e suas consequências no Direito Penal. Revista Eletrônica de Direito Penal e Política Criminal, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 142–173, 2021. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/redppc/article/view/112149. Acesso em: 1 maio. 2025.

Edição

Seção

Artigos