Por uma cultura material cíclica da arte e do artesanato

Resumo

O desenvolvimento da minha prática artística, nos últimos anos, tem levado à busca e compreensão do próprio território como gerador de ecossistemas naturais e culturais que nos ligam intimamente ao lugar. Conhecer este lugar e a partir dele é uma premissa fundamental na realização de uma intervenção artística na paisagem. Entendo este processo criativo como uma colaboração com o ecossistema: a árvore, a terra, a água, os animais e, por extensão, o camponês, o artesão ou o pastor, são também uma parte ativa e transformadora do próprio trabalho. O processo de trabalho na natureza me coloca em contato com a realidade cotidiana, não só da paisagem, mas das pessoas que nela vivem, seus privilégios e suas dificuldades. Usar os materiais do próprio ambiente torna-se uma ferramenta de pesquisa para trabalhar, para entender o processo cíclico de transformações contínuas sobre o qual a paisagem é desenhada. O artesanato tradicional, a agricultura orgânica e o pastoreio extensivo têm sido grandes fontes de inspiração no meu processo de trabalho, revalorizando uma cultura material cíclica, que parte dos recursos próprios do território sem gerar resíduos externos. A relação com os moradores dos ambientes em que trabalho costuma ser muito próxima. Às vezes os processos de trabalho são participativos ou propostas colaborativas são geradas.