Raízes do epistemicídio negro

análise da produção científica do ENANCIB (1994-2019)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1808-5245.29.124693

Palavras-chave:

racismo estrutural, escravidão, colonialismo, epistemicídio, ENANCIB

Resumo

Este estudo objetiva apresentar as raízes do epistemicídio negro no país em interface com as produções do maior evento da Ciência da Informação brasileira, o Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação. Discorremos brevemente sobre dois fenômenos que explicam as origens do epistemicídio negro: o colonialismo e a escravidão, que contribuíram para o desenvolvimento de um racismo estrutural no país que incidiu na exclusão social do povo negro, na sociedade brasileira, em diversos contextos, inclusive na ambiência científica e, por conseguinte, nas produções científicas. No âmbito teórico, dissertamos acerca dos impactos do colonialismo e da escravidão para a tentativa de silenciamento epistêmico imposto à comunidade negra no Brasil e dos conceitos de epistemicídio e seus desdobramentos na construção de conhecimentos do povo negro. Os resultados expostos indicaram uma baixa representatividade de estudos sobre a população negra, no evento abordado, e evidenciaram o reflexo do racismo estrutural e do epistemicídio no principal evento da área. As considerações conclusivas apontaram que a questão do epistemicídio negro, no encontro, começa a ser parcialmente resolvida com a criação do GT 12 do evento, que dará mais abertura a temas voltados para a população negra no evento. Em âmbito geral, foi considerada a necessidade de se dar um salto quantitativo e qualitativo nas discussões acerca do epistemicídio negro e de acompanhar o fenômeno em outras fontes no contexto da Ciência da Informação.

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Biografia do Autor

Felipe Arthur Cordeiro Alves, Universidade Federal da Paraíba

Mestre e Doutorando em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (PPGCI-UFPB). Especialista em Gestão de Documentos e Informações pela faculdade UNYLEYA. Graduação em Arquivologia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Mediação da Informação, Representação e Marcadores Sociais da Diferença (GeMinas) Atualmente é Técnico em Arquivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). Possui experiência em Arquivos Públicos Acadêmicos e Arquivos Eclesiásticos.

Gisele Rocha Côrtes, Universidade Federal da Paraíba

Graduada em Pedagogia (1996) e Ciências Sociais (1998) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Possui Mestrado (2002) e Doutorado (2008) em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é professora associada do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba e professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/UFPB). Atua nos seguintes temas: Organização Acesso e Uso da Informação, Mediação da Informação, Relações de Gênero e Informação étnico-racial. Atua como Coordenadora do GT3 - Mediação, Circulação e Apropriação da Informação da ANCIB (Gestão 2018-2020). Vice- Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa Mediação, Representação da Informação e Marcadores Sociais da Diferença (GeMINAS). Atualmente exerce o cargo de vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI/UFPB).

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Publicado

2023-07-07

Como Citar

ALVES, F. A. C.; CÔRTES, G. R. Raízes do epistemicídio negro: análise da produção científica do ENANCIB (1994-2019). Em Questão, Porto Alegre, v. 29, p. 124693, 2023. DOI: 10.1590/1808-5245.29.124693. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/124693. Acesso em: 25 abr. 2025.

Edição

Seção

Artigo