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Edição Atual

v. 18 n. 30 (2023): ESCRITA DE MIGRANTES, REFUGIADOS E EXILADOS: A LITERATURA COMO CONEXÃO
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Editores do número: Gerson Roberto Neumann (UFRGS) e Ricardo Postal (UFPE)

 

A localização e a historicidade, bem como as imbricações do poder e das colonialidades na literatura, tudo isso gera situações de tensão, muitas delas refletidas na literatura numa época em que as mobilidades populacionais e a consequente apresentação dessas trajetórias em obras narrativas e poéticas demandam abordagens e conceitualizações diversas. Isso “[p]orque a época atual é uma época da rede. Ela demanda concepções de ciência móveis e relacionais, transdisciplinares e transareais e uma terminologia orientada pelo movimento” (ETTE, apud CAPAVERDE, 2021, p. 299). Portanto, propomos as discussões a partir da amplitude de possibilidades do conceito de “Literaturas do Mundo”, como elaborado pelo teórico comparatista alemão Ottmar Ette (2016, p. 13), em que se “mostra que as formas de produção, de recepção e de distribuição da literatura, em escala planetária, não se alimentam de uma única ‘fonte’, não são reduzíveis a uma única linha de tradição, como à tradição ocidental, por exemplo."

Tal perspectiva está presente nos projetos decoloniais do Grupo Modernidade/Colonialidade, a partir da qual se realiza um reposicionamento epistemológico em que “[a] crítica à modernidade da perspectiva decolonial concebe que a emancipação [...] só será possível uma vez que a subalternização de experiências e de epistemologias instituídas pela modernidade seja suplantada" (BALTAR, 2020, p. 38). Isso só é possível através de “um outro estatuto de alteridade, estabelecido pela transmodernidade” (idem), conceito este desenvolvido por Mignolo e Walsh (2018) e por Enrique Dussel, que o define como: “todos os aspectos que se situam ‘além’ das (e [...] ‘anteriores às’) estruturas valorizadas pela cultura euro-americana moderna, e que atualmente estão em vigor nas grandes culturas universais não europeias e foram se movendo em direção a uma utopia pluriversal.” (DUSSEL, 2016, p. 63). Esses movimentos podem ser mapeados pelos modos como se apresentam populações em (des)locamento, em obras cujos temas, perspectivas narrativas e linguagem elaborem a migração, a viagem, o exílio e o refúgio.

Nesse sentido, o presente número da Revista Conexão Letras propõe observar a participação social e o direito à voz das pessoas migradas por meio de sua produção literária, a saber, considerando-as tradutoras culturais por meio da autoria literária. A compreensão da produção literária existente, dessa forma, é também de um medium privilegiado de integração, que mobiliza a articulação entre a cultura de origem e a de acolhida.

A autoria literária, nesse sentido, abre-se como um caminho de inserção intercultural para além da dimensão de um multiculturalismo funcional, cujo objetivo assenta-se exclusivamente na promoção de uma integração dos sujeitos migrantes na lógica do sistema econômico, sem abertura para questões próprias à sua bagagem cultural (Walsh, 2009). Por meio de narrativas e poéticas de sujeitos (des)locados é possível vislumbrar uma dimensão da interculturalidade que impulsione a chegada a universos culturais ricos em processos de alteridade e que sejam capazes de ressignificar o olhar sobre os migrantes, exilados, refugiados, bem como sobre a cultura de acolhida.

Publicado: 2024-02-14

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