Chamada para o Nº 32 da Revista Conexão Letras
CONTRIBUIÇÕES DO ENSAÍSMO BRASILEIRO
Organizadores: Prof. Dra. Magali Lopes Endruweit e Prof. Dr. Antonio Marcos Vieira Sanseverino.
A escrita acadêmica tende a se cristalizar em formas rígidas, erigindo modelos que se traduzem em artigos científicos. Mesmo que o objeto seja a linguagem, literatura ou língua, a escrita impessoal se impõe como a forma naturalizada de se fazer ciência no campo das Letras.
A questão que nos persegue – a nós, na Universidade, principalmente – passa pelos modelos assumidos como próprios de um saber científico, do discurso legitimando determinados gêneros e apagando outros como impróprios para o fazer da pesquisa. Assumimos, porque estamos acostumados, que as pesquisas que circulam no ambiente acadêmico não podem fugir do formato canônico, pois colocarão em risco a seriedade necessária para a ciência. Esse formato já cristalizado alimenta o entendimento de que se escreve para comunicar resultados, como um relato do que foi feito, não como uma escrita que mostra a construção de uma pesquisa inacabada, em constante mudança. Assim, os modelos assumidos como legítimos para a escrita acadêmica consolidaram-se como os únicos possíveis e, na mesma medida, excluíram outros gêneros, entre eles, o ensaio.
Derrotar uma forma de escrita significa suprimir uma possibilidade de raciocinar, de construir o conhecimento próprio ao raciocinar por esse gênero. Há controle sobre a forma não só da divulgação, mas também da busca do saber. Larrosa (2016, p. 17) segue argumentando que “os dispositivos de controle do saber são também dispositivos de controle da linguagem e da nossa relação com a linguagem”. Portanto, se escrevemos dentro de um formato estabelecido e não podemos sair dele, devemos também pensar o que esse formato nos permite. O gênero ensaio, cujo modo livre de reflexão excede as formas aceitas na academia – opondo-se assim a forma canônica do “artigo científico” – permite um outro tipo de relação com os objetos de conhecimento, representando frequentemente uma quebra na hegemonia do saber institucionalizado, do saber domesticado.
Pensemos, então, o que significa escrever ensaio (Endruweit; Fagundes; Rigo, 2024, p. 2). O ensaio como forma, na concepção adorneana, se contrapõe à rígida separação entra ciência e arte, ao colocar como fundamental tanto a reflexão sobre o objeto quanto a forma com que a reflexão é exposta. A escolha pelo ensaio é uma opção metodológica exigente, em que a forma da escrita deve ser tão reveladora quanto o pensamento formulado. A potência do ensaio se revela em sua forma, que articula a presença do sujeito, encarnado em sua escrita, as relações conceituais sobre o objeto analisado, e a forma de exposição. Ao se arriscar para além do já pensado e por meio de modos inusuais de pensar, o ensaio tende a encontrar formulações poderosas que tanto revelam aspectos novos da natureza do objeto quanto criam modos inusitados de exposição.
Com essa chamada, os editores convidam os interessados no gênero ensaio a discutir as contribuições do ensaísmo brasileiro às diferentes áreas das Humanidades – à literatura, aos estudos linguísticos, à filosofia, à história, à antropologia etc. Incentivamos particularmente a submissão de trabalhos que busquem desnudar – pelo estudo de ensaístas, de tipos ou estilos ensaísticos, e/ou de áreas temáticas do ensaísmo brasileiro –, a relação entre aspectos livres e criativos da forma ensaio e o caráter inovador, inusitado, revelador, da reflexão apresentada nas obras estudadas. E incentivamos também contribuições que se arrisquem elas próprias a navegar pelo gênero ensaio – buscando explorar modos de apresentação e expressão criativos, potencialmente reveladores dos aspectos inusitados da contribuição discutida.
As contribuições devem ser enviadas ao editor por meio do sistema de submissões da revista (https://seer.ufrgs.br/index.php/conexaoletras) até da data-limite de 05 de maio de 2025. O editor pede, encarecidamente, que as submissões respeitem às normas de publicação exigidas pela revista.