Poder local e cultura democrática: elementos para uma abordagem multi-escópica em ciências sociais.

Resumo

Embora sempre tenha havido poder e lideranças locais, a descentralização político-administrativa, através da qual o capitalismo vem lidando com as complexidades da gestão urbana na sociedade globalizada, fez florescer, nas últimas décadas, uma renovada “questão” do poder local. Apregoado como locus e agente de democratização, não raro são encontradas no seu âmbito, no caso brasileiro, velhas práticas anti-democráticas, tais como o personalismo e o clientelismo, evidenciando que a cultura democrática não se instaura automaticamente através da inovação das práticas administrativas. Entender as dificuldades de desenvolvimento da cultura democrática no Brasil exige operar conceitualmente com uma visão multidimensional que articule a compreensão evolutiva da vida social com uma concepção hologramática do local, enquanto contexto sócio-espacial para o qual convergem, simultaneamente e transportadas pela ação individual e coletiva, diferentes temporalidades históricas correspondentes a distintos padrões de dominação. Esta visão é tecida, no artigo, articulando as abordagens de WINNICOTT e WEBER, para a questão democrática, com a epistemologia genética de PIAGET e com o paradigma da ordem implicada de BOHM.