As Paneleiras de Goiabeiras-Velha e o discurso de tradição do saber-fazer
uma análise a partir das interações socioestatais entre as Paneleiras, a PMV e o IPHAN
DOI:
https://doi.org/10.1590/18070337-127228Palavras-chave:
Paneleiras de Goiabeiras-Velha, processo articulatório, sedimentação discursivaResumo
O primeiro registro sobre a produção de artefatos cerâmicos em Goiabeiras, Vitória-ES, data de 1815. No entanto, a partir de meados do século XX, artesãos do nordeste brasileiro passaram a se instalar na região, dando origem a novos núcleos produtores. A partir dos anos 1980, Goiabeiras se viu diante de dois conflitos: a crescente concorrência pelo mercado cultural local e a ação do Governo do Estado na área de extração da argila utilizada na produção cerâmica. Articuladas à municipalidade de Vitória e ao IPHAN, as Paneleiras passaram a se organizar como grupo político-identitário e a elaborar um discurso de legitimidade cultural. Nosso objetivo é compreender o processo articulatório e os sentidos desse discurso. Para isso, mobilizamos como marco teórico-analítico a Teoria do Discurso em Laclau e Mouffe, fazendo uso de pesquisa bibliográfica, análise documental e entrevistas em profundidade. Os resultados apontam que o discurso de “tradição”, como um significante vazio, foi sedimentado através dessa articulação, permitindo às Paneleiras ocuparem um “lugar” de destaque nacional.
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