Experiências juvenis de millennials e jovens vulneráveis
o discurso do protagonismo juvenil e seus efeitos desiguais
DOI:
https://doi.org/10.1590/18070337-125847Palavras-chave:
experiências juvenis, protagonismo juvenil, desigualdade, millennials, juventude vulnerávelResumo
Este texto discute como referenciais de mundo hegemônicos na sociedade contemporânea – individualismo, responsabilização do sujeito, meritocracia e conduta empreendedora – atravessam os esforços de governo de jovens em situações sociais muito distintas, ao mesmo tempo que produzem efeitos muito diversos sobre eles. Nesse sentido, destacamos como a noção de protagonismo juvenil materializa e alimenta a idealização de uma representação hegemônica de juventude, entendida, simultaneamente, como problema e como solução das questões sociais e econômicas de nosso tempo. Partimos de dois contextos empíricos distintos: o ambiente de startups do setor da tecnologia e o de projetos sociais destinados a jovens de periferias. A partir destes casos, buscamos apresentar e problematizar os elementos comuns que atravessam a experiência juvenil contemporânea, forjando subjetividades e produzindo formas de governo que assumem configurações muito diversas em relação a esses dois grupos. A análise cruzada destas experiências também revela como essa lógica se materializa em categorias relativas à juventude, como millennials ou juventude vulnerável, as quais, ainda que idealizadas, produzem realidade e efeitos muito concretos nos modos de governo e nas experiências juvenis. A pesquisa sobre profissionais de tecnologia em startups foi realizada a partir de entrevistas e observação em espaços de trabalho e a pesquisa de projetos sociais foi conduzida a partir de etnografia da rotina desses espaços.
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