Batuko: alma dum povo! Vivências do batuko cabo-verdiano no período pós-independência

Autores

  • Carla Indira Semedo Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

DOI:

https://doi.org/10.1590/15174522-120602

Palavras-chave:

Batuko, Cabo Verde, batukadeiras de São Martinho Grande, empresacionalização do batuko

Resumo

Batuko, gênero músico-coreográfico de Cabo Verde – país localizado na costa ocidental africana, criado pelos africanos negros escravizados, após a independência do país em 1975 – passou por um processo de revalorização e vem sendo visto pelas batukadeiras como possibilidade de se tornar um projeto profissional. Neste artigo, viso reconstruir as múltiplas dinâmicas sociopolíticas do batuko entrecruzadas com dois momentos socio-históricos e políticos da historiografia oficial de Cabo Verde, tendo como material as narrativas e trechos de vivências das batukadeiras do coletivo de São Martinho Grande, resultantes de pesquisa etnográfica realizada em 2008. O primeiro momento se centra no período pós-colonial, após a independência de Cabo Verde em 1975. E, o segundo, no período pós-abertura política com a democratização do sistema político-partidário a partir de 1991 e, com isso, a criação de bases para a revalorização e circulação das artes musicais tidas como tradicionais. Sinalizo que as narrativas das minhas interlocutoras permitem perceber não só o efeito das narrativas hegemônicas de conformação da identidade da nação nas suas vivências do batuko, mas também os efeitos nos modos como se inscrevem como mulheres batukadeiras e almejam o projeto profissional: vir a ser artistas profissionais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Carla Indira Semedo, Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/Museu Nacional (2016). Possui mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009), graduação em Sociologia pela Universidade Jean Piaget de Cabo Verde (2005). Tem experiência de docência na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. Áreas de interesse, pós-colonialismo, memória colonial, trabalho escravizado, corporeidade, musicalidades, São Tomé e Príncipe. 

Referências

ANJOS, José Carlos dos. Intelectuais, literatura e poder em Cabo Verde: lutas de definição da identidade nacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.

BRAZ, Juliana. Mornas e coladeiras de Cabo Verde: versões musicais duma nação. 2004. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade de Brasília, Brasília, 2004.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

BUTLER, Judith. Performative acts and gender constitution: an essay in phenomenology and feminist theory. In: BIAL, Henry. The performance studies reader. Londres: Routledge, 2004.

CABO VERDE. Boletim oficial nº 13, de 31 de março de 1866. Praia: República de Cabo Verde, 1866.

COSTA, Daniel. O semipresidencialismo em Cabo Verde (1991-2000). Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.

CRUZ, Eutrópio. A música e a resistência cultural. C(k)ultura: Revista de Estudos Cabo-verdianos, p. 187-199, set. 2001.

DE CERTEAU, Michel. A invenção do quotidiano: artes de fazer. 9. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. Tomo I.

ÉVORA, Iolanda; GRASSI, Marzia (org). Gênero e migrações cabo-verdianas. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2007. p. 23-61.

FERNANDES, Gabriel. A diluição da África: uma interpretação da saga identitária cabo-verdiana no panorama político (pós) colonial. Florianópolis: EDUFSC, 2002.

FURTADO, Carmem. Conquistando o espaço público: a música enquanto vector da identidade nacional em Cabo Verde. In: ASSEMBLEIA GERAL “GOVERNAR O ESPAÇO PÚBLICO AFRICANO”, 12, 2008, Dakar. Anais [...]. Dakar: CODESRIA, 2008.

FURTADO, Claúdio. Génese e reprodução da classe dirigente em Cabo Verde. Praia: ILCD, 1987.

GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. 2. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

GONÇALVES, Carlos. Kab Verd Band. Praia: Instituto Arquivo Histórico Nacional, 2006.

INE – INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA. V Recenseamento geral da população e habitação (RGPH – 2021) - Resultados preliminares. Praia, 6 de agosto, 2021. Praia, CV: INE. 2021.

LOPES, José. A palavra morna. Cabo Verde: Boletim de propaganda e informação, v. V, n. 53, p. 27-28, 1974.

MARIANO, Gabriel. A morna expressão da alma de um povo. Cabo Verde: Boletim de propaganda e informação, v. III, n. 30, p. 18-20, 1952.

MARTINS, Vasco. Ensaio musicológico sobre a morna – forma musical cabo-verdiana. Praia: ICLD, 1990.

MARTINS, Vasco. A música tradicional cabo-verdiana I: a morna. Praia: ICLD, 1989.

MORRIS, Rosalind C. All made up: performance theory and the new Antropology of sex and gender. Annual Review of Anthropology, v. 24, p. 567-592, 1995. http://dx.doi.org/10.1146/annurev.an.24.100195.003031

NOGUEIRA, Gláucia. Batuku de Cabo Verde: percurso histórico-musical. Praia: Edições Pedro Cardoso, 2015.

PEIXEIRA, Luis. Da mestiçagem à caboverdianidade. Registros de uma sociocultura. Lisboa: Edições Colibri, 2003.

RODRIGUES, Isabel P.B. As mães e os seus filhos dentro da plasticidade parental: reconsiderando o patriarcado na teoria e prática. In: ÈVORA, Iolanda; GRASSI, Marzia (org.) Gênero e Migrações cabo-verdianas. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS), 2007. p. 123-146.

RODRIGUES, Moacyr; LOBO, Isabel. A morna na literatura tradicional: fonte para o estudo histórico-literário e a sua repercussão na sociedade. Praia: ICLD, 1996.

SAHLINS, Marshall. Metáforas históricas e realidades míticas: estrutura nos primórdios da história do reino das ilhas Sandwich. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2008.

SEMEDO, Carla. As gramáticas eróticas do Batuko cabo-verdiano. Hawò, v. 1, p. 1-34, 2020.

SEMEDO, Carla. Noções estéticas na performance do Batuko: experiência etnográfica entre as batukadeiras de São Martinho Grande (Ilha de Santiago - Cabo Verde). In: LUCAS, Maria Elizabeth (org.). Mixagens em campo: etnomusicologia, performance e diversidade musical. Porto Alegre: Edições Marca Visual, 2013. p. 109-142.

SEMEDO, Carla. Mara sulada e dã ku torno: performance, gênero e corporeidades no coletivo de Batukadeiras de São Martinho Grande (Ilha de Santiago). 2009. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

STRATHERN, Marilyn. O gênero da dádiva. Campinas: Editora Unicamp, 2006.

TAVARES, Eugénio. Mornas cantigas crioulas. Luanda: Guida, 2006.

Downloads

Publicado

2022-05-31

Como Citar

SEMEDO, C. I. Batuko: alma dum povo! Vivências do batuko cabo-verdiano no período pós-independência. Sociologias, [S. l.], v. 24, n. 59, p. 54–82, 2022. DOI: 10.1590/15174522-120602. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/sociologias/article/view/120602. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê - Sociologia da Tradução