Os sentidos dos diagramas nas estratégias empresariais do capitalismo extrativista

Autores

  • Wendell Ficher Teixeira Assis Universidade Federal de Alagoas
  • Henri Acselrad Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.1590/18070337-119818

Palavras-chave:

diagramas, estratégias empresariais, capitalismo extrativista, responsabilidade social empresarial

Resumo

O objetivo do trabalho é compreender a “geometria política” da representação imagética presente nas estratégias de produção e divulgação de diagramas veiculados por empresas do capitalismo extrativista. Para tanto, discute-se o papel da visualidade diagramática na difusão de uma representação mitológica e não conflituosa do espaço social, analisando, em particular, as estratégias empresariais que operam na construção imagética dos espaços extramuros como socialmente harmônicos e ambientalmente sustentáveis. O artigo está ancorado na coleta e análise de diagramas veiculados nos relatórios de sustentabilidade e responsabilidade social empresarial de quatro grandes corporações do setor extrativo mineral cuja publicação foi realizada no intervalo de cinco anos, compreendidos entre 2015 e 2020.  Ademais, nutre-se da análise de documentos produzidos pelo ICMM – International Council on Mining and Metals, procurando esmiuçar o papel desempenhado pelos diagramas na formatação de ambientes favoráveis à neutralização da dissidência e da contestação aos empreendimentos minerários. Com base na pesquisa, pode-se indicar que os diagramas têm sido utilizados como mecanismos de captura de adesão, neutralização dos inconformismos e sedução das comunidades afetadas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Wendell Ficher Teixeira Assis, Universidade Federal de Alagoas

Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR/UFRJ e Professor Adjunto do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas.

Henri Acselrad, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutor em Planejamento, Economia Pública e Organização do Território e Professor titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Referências

ACSELRAD, Henri. Capitalismo extrativo. A Terra é redonda, 3 jun. 2023. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/capitalismo-extrativo/

ACSELRAD, Henri (org.). Políticas territoriais, empresas e comunidades: o neoextrativismo e a gestão empresarial do “social”. Rio de Janeiro: Garamond, 2018.

ACSELRAD, Henri; PINTO, Raquel G. A gestão empresarial do “risco social” e a neutralização da crítica. Revista Praia Vermelha, v. 19, n. 2, p. 51-64, 2009.

ADANT, Ignace; GODARD, Olivier; HOMMEL Thierry. Expertise scientifique et gestion de la contestabilité sociale en présence d’acteurs à visées stratégiques. Cahier de recherche du laboratoire d’économétrie, n. 16, p. 1-19, 2005.

BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo global. Madrid: Siglo XXI Editores, 2002

BENSON, Peter; KIRSCH, Stuart. Capitalism and the politics of resignation. Current Anthropology, v. 51, n. 4, p. 459-486, 2010. https://doi.org/10.1086/653091

BOLTANSKI, Luc. Sociologia da crítica, instituições e o novo modo de dominação gestionária. Sociologia e Antropologia, v. 3, n. 6, p. 441-463, 2013. https://doi.org/10.1590/2238-38752013v364

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas lingüísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: EDUSP, 1996.

BOURNE, Lynda; WALKER, Derek H. T. Visualising and mapping stakeholder influence. Management Decision, v. 43, n. 5, p. 649-660, 2005. https://doi.org/10.1108/00251740510597680

BOWEN, Howard R. Responsabilidades sociais do homem de negócios. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957.

BRIN, David. The transparent society: will technology force us to choose between privacy and freedom? Nova York: Perseus Books, 1998.

CAMPOS, Lucila M. de S.; SEHNEM, Simone; OLIVEIRA, Murilo de A. S.; ROSSETTO, Adriana M.; COELHO, Ana Lúcia de A. L.; DALFOVO, Michael S. Relatório de sustentabilidade: perfil das organizações brasileiras e estrangeiras segundo o padrão da Global Reporting Initiative. Gestão & Produção, v. 20, n. 4, p. 913-926, 2013. https://doi.org/10.1590/S0103-65132013005000064

CASTILHO, Rafael A. A.; VASCONCELOS, Fernanda Carla W. As diretrizes GRI e o perfil histórico de publicação de relatórios de sustentabilidade no Brasil e no mundo. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GESTÃO DE PROJETOS, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE, 5., 2016, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: SINGEP, 2016.

CATELLANI, Andrea. La justification et la présentation des démarches de responsabilité sociétale dans la communication corporate : notes d’analyse textuelle d’une nouvelle rhétorique épidictique, Études de communication, n. 37, p. 157-176, 2011. https://doi.org/10.4000/edc.3204

CEDERSTRÖM, Carl; MARINETTO, Michael. Corporate social responsibility à la the liberal communist. Organization, v. 20, n. 3, p. 416-432, 2013. https://doi.org/10.1177/1350508413478311

DE LANDA, Manuel. Deleuze, diagrams, and the genesis of form. American Studies, v. 45, n. 1, p. 33-41, 2000. https://www.jstor.org/stable/41157534

DELEUZE, Gilles. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2008.

DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.

DUPUIS, Jean-Claude. Le management responsable comme modèle de gestion de l’obsolescence morale. La Revue des Sciences de Gestion, Direction et Gestion, n. 223, p. 131-135, 2007. https://doi.org/10.3917/rsg.223.0131

FRANK, Thomas; WEILAND, Matt. Commodify your dissent: The business of culture in the New Guilded Age. Nova York: W.W. Norton, 1997.

FREEMAN, R. Edward; MCVEA, John. A stakeholder approach to strategic management. In: Hitt, M. et al. (ed.). Handbook of Strategic Management. Oxford: Blackwell Publishing, 2001. p. 189-207.

FRIEDMAN, Milton. The social responsibility of business is to increase its profits. The New York Times Magazine, seção SM, p. 17, 13 set. 1970.

FRIXIONE, Marcello; LOMBARDI, Antonio. Street signs and Ikea instruction sheets: Pragmatics and pictorial communication. Review of Philosophy and Psychology, v. 6, n. 1, p. 133-149, 2015.

GABRIEL, Yiannis. Glass cages and glass palaces: Images of organization in image-conscious times. Organization, v. 12, n. 1, p. 9-29, 2005.

GARLAND, Ken. Some general characteristics present in diagrams denoting activity, event and relationship. Information Design Journal, v. 1, n. 1, p. 15-22. 1979.

GRI – Global Reporting Initiative. Our mission and history. Global Reporting Initiative, 2020. Disponível em: https://www.globalreporting.org/about-gri/mission-history/

GRI – Global Reporting Initiative. GT GRI G3. Uma contribuição para a prática de publicação de relatórios de sustentabilidade no Brasil. São Paulo: BSD; GVces; UniEthos, 2008.

GURR, C. A. Effective diagrammatic communication: Syntactic, semantic and pragmatic issues. Journal of Visual Languages and Computing, v. 10, n. 4, p. 317-342, 1999. https://doi.org/10.1006/jvlc.1999.0130

HERMAN, Edward S. Corporate control, corporate power. Cambridge: Cambridge University Press, 1981.

HOFFMANN, Michael H. G. Logical argument mapping: A method for overcoming cognitive problems of conflict management. International Journal of Conflict Management, v. 16, p. 304-334, 2005.

HOMMEL, Thierry. Environnement et stratégies des firmes industrielles : le modèle de la Gestion anticipative de la contestabilité appliqué à la production des OGM agricoles et à l’industrie du traitement de surface en France et en Allemagne. Tese (Doutorado em Ciências Econômicas) – École des hautes études en sciences sociales, Paris, 2001.

HOMMEL, Thierry; GODARD, Olivier. Trajectoire de contestabilité et production d’OGM à usage agricole. Économie rurale, n. 270, p. 36-49, 2002.

ICMM – International Council on Mining and Metals. Stakeholder Research Toolkit. ICMM, 2015a. Disponível em: https://www.icmm.com/en-gb/guidance/social-performance/stakeholder-research-toolkit

ICMM – International Council on Mining and Metals. Good practice guide: Indigenous peoples and mining. Londres: ICMM, 2015b. Disponível em https://www.icmm.com/en-gb/guidance/social-performance/indigenous-peoples-mining

ICMM – International Council on Mining and Metals. Integrating human rights due diligence into corporate risk management processes. ICMM, 2012. disponível em https://www.icmm.com/en-gb/guidance/social-performance/human-rights-due-diligence

KING, Andrew A.; LENOX, Michael J. Industry self-regulation without sanctions: The chemical industry's responsible care program. Academy of Management Journal, v. 43, n. 4, p. 698-716, 2000. https://doi.org/10.2307/1556362

LARKIN, Jill H.; Simon, Herbert A. Why a diagram is (sometimes) worth ten thousand words. Cognitive Science, v. 11, n. 1, p. 65-100, 1987. https://doi.org/10.1016/S0364-0213(87)80026-5

MORETTI, Franco. A literatura vista de longe. Porto Alegre: Ed. Arquipélago, 2008.

MORONI, Stefano; LORINI, Giuseppe. Graphic rules in planning: A critical exploration of normative drawings starting from zoning maps and form-based codes. Planning Theory, v. 16, n. 3, p. 318-338, 2017. https://doi.org/10.1177/1473095216656389

PEIRCE, Charles S. Prolegomena to an apology for pragmaticism. The Monist, v. 16, n. 4, p. 492-546, 1906. https://www.jstor.org/stable/27899680

PERROW, Charles. Cracks in the Regulatory State. Social Currents, v. 2, n. 3, p. 203-212, 2015. https://doi.org/10.1177/2329496515589855

RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: EXO experimental Org.; Editora 34, 2009.

RANCIÈRE, Jacques. El teatro de imágenes. In: JAAR, A. La politica de las imagenes. Santiago do Chile: Metales Pesados, 2008.

RICHARDS, Clive J. The fundamental design variables of diagramming. In: Anderson, M. et al. (ed.). Diagrammatic representation and reasoning. Londres: Springer, 2002. p. 85-102.

SCHNOTZ, Wolfgang; PICARD, Emmanuel; HRON, Aemilian. How do successful and unsuccessful learners use texts and graphics? Learning and Instruction, v. 3, n. 3, p. 181-199, 1993. https://doi.org/10.1016/0959-4752(93)90003-I

STJERNFELT, Frederik. Diagram as centerpiece of Peircean epistemology. Transactions of the Charles S. Peirce Society, v. 36, n. 3, p. 357-384, 2000. https://www.jstor.org/stable/40320800

THOMPSON, D’Arcy. Sobre el crecimiento y la forma. Madrid: Hermann Blume, 1980.

VAN DEN BELT, Marjan; DIETZ, Thomas. Mediated modeling: a system dynamics approach to environmental consensus building. Washington: Island Press, 2004.

VELLODI, Kamini. Diagrammatic thought: Two forms of constructivism in C.S. Peirce and Gilles Deleuze. Parrhesia, n. 19, p. 79-95, 2014.

VELOSO, Raíssa B. O social nas estratégias corporativas. Aspectos securitários no gerenciamento de riscos e de “partes interessadas”. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

WAIZBORT, Leopoldo. Apresentação. In: WARBURG, Aby. Histórias de fantasma para gente grande: escritos, esboços e conferências. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

ZHANG, J. The nature of external representations in problem solving. Cognitive Science, v. 21, n. 2, p. 179-217, 1997. https://doi.org/10.1016/S0364-0213(99)80022-6

ZYGLIDOPOULOS, Stelios; FLEMING, Peter. Corporate Accountability and the Politics of Visibility in “Late Modernity”. Organization, v. 18, n. 5, p. 691-706, 2011. https://doi.org/10.1177/1350508410397222

Downloads

Publicado

2024-02-21

Como Citar

ASSIS, W. F. T.; ACSELRAD, H. Os sentidos dos diagramas nas estratégias empresariais do capitalismo extrativista. Sociologias, [S. l.], v. 26, n. 63, p. e-soc119818, 2024. DOI: 10.1590/18070337-119818. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/sociologias/article/view/119818. Acesso em: 23 abr. 2025.

Edição

Seção

Artigos