Abordagens truculentas e domínio de cidades brasileiras em assaltos contra bancos mediante planejamento minucioso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/18070337-118176

Palavras-chave:

assaltos, crime, roubos contra bancos, violência, performance

Resumo

Este artigo aborda uma modalidade de assaltos contra bancos atualmente registrada em todas as regiões do Brasil, que apresenta as seguintes características: os assaltos ocorrem a altas horas da noite ou durante as madrugadas; são efetuados por quadrilhas cuja quantidade de homens armados varia de duas a cinco dezenas; têm nas cidades de pequeno e médio porte seus alvos preferenciais. Utilizando armas de grosso calibre e explosivos, os assaltantes subtraem valores de duas ou mais agências bancárias em simultaneidade. Nessas ações, parte da quadrilha ataca e obstrui a atuação das forças de segurança pública locais e, com isso, domina bairros e até cidades inteiras por algumas horas, submetendo toda a população. Antes que possam chegar reforços policiais de cidades vizinhas, os bandidos empreendem fuga. Não raro, moradores são tomados como reféns e vivenciam instantes de medo e pavor, chegando mesmo a ser alvejados, quando há confrontos entre quadrilhas e policiais. Este artigo argumenta que a modalidade de crime em análise envolve minucioso planejamento e investimento em infraestrutura e logística, uso instrumental e performático da violência, sendo significada como atividade econômica e negócio por seus praticantes. Sobre a socialidade nas quadrilhas que efetuam tais ações criminais, salienta-se a condição temporária e circunstancial desses agrupamentos, baseados em trocas de saberes, cooperação técnica e “empreendedorismo” dos assaltantes, cujo objetivo comum é obter elevadas quantias em suas investidas armadas. A pesquisa e a análise dos dados, ora apresentadas, têm inspiração etnográfica e o trabalho de campo desenvolvido recorreu a entrevistas em profundidade e conversas informais com praticantes desses assaltos, entrevistas com delegados de polícia e policiais, levantamento e análise de notícias de jornais, telejornais e portais online de todas as regiões do Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jania Perla Diógenes de Aquino, Universidade Federal do Ceará

Jania Perla Diógenes de Aquino é professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará.

Referências

AKRICH, Madeleine; CALLON, Michel; LATOUR, Bruno (ed.). Sociologie de la traduction: textes fondateurs. Paris: Presse des Mines, 2006.

AQUINO, Jania P. D. Violência e performance no chamado “novo cangaço”: cidades sitiadas, uso de explosivos e ataques a polícias em assaltos contra bancos no Brasil. Dilemas, v. 13, n. 33, p. 615-643, 2020. https://doi.org/10.17648/dilemas.v13n3.31668

AQUINO, Jania P. D. Pioneiros: O PCC e a especialização no mercado dos grandes roubos. Journal of Illicit Economies and Development, v. 10, n. 1, p. 193-1203, 2019. http://doi.org/10.31389/jied.34

AQUINO, Jania P. D. Subvertendo o Código Penal e monogamia: Arranjos afetivos e familiares envolvendo praticantes de assaltos contra instituições financeiras. Dilemas, v. 10, n. 1, p. 84-111, 2017.

AQUINO, Jania P. D. Etnografando assaltos contra instituições financeiras: a publicação da pesquisa, seus impasses e desdobramentos. Iluminuras, v. 16, p. 184-210-210, 2015. https://doi.org/10.22456/1984-1191.58218

AQUINO, Jania P. D. Príncipes e castelos de areia: um estudo da performance nos grandes roubos. São Paulo: Biblioteca 24 horas, 2010a.

AQUINO, Jania P. D. Redes e conexões parciais nos assaltos contra instituições financeiras. Dilemas, v. 3, n. 10, p. 75-100, 2010b.

AQUINO, Jania P. D. Performance e empreendimento nos assaltos contra instituições financeiras. Antropolítica, v. 2, p. 139-158, 2008.

AQUINO, Jania P. D. Mundo do crime e racionalidade: os assaltos contra instituições financeiras. 2004. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2004.

AQUINO, Jania P. D. Pioneiros: O PCC e a especialização no mercado dos grandes roubos. Journal of Illicit Economies and Development, v. 10, n. 1, p. 1-12, 2019.

AQUINO, Jania P. D.; HIRATA, Daniel. Inserções etnográficas ao universo do crime: Algumas considerações sobre pesquisas realizadas no Brasil entre 2000 e 2017. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais – BIB, n. 84, p. 107-147, 2018.

AMORIM, Carlos. Comando Vermelho: a história secreta do crime organizado. Rio de Janeiro: Record, 1993.

BEST, Joel.; LUCKENBILL, David. F. Organizing deviance. Nova Jersey: Prentice-Hall, 1982.

BIONDI, Karina. Junto e misturado: uma etnografia do PCC. São Paulo: Terceiro Nome, 2010.

CAMINHAS, Diogo A. Perdeu, perdeu, isso é um assalto: uma análise dos processos de decisão, planejamento, execução e uso da força nos roubos em Belo Horizonte. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018.

CAMINHAS, Diogo A.; BEATO, Cláudio. “Todo ladrão vai trabalhar com a sua mente”: O uso da força e de armas nos assaltos em Belo Horizonte, Minas Gerais. Dilemas, v. 13, n.3, p. 645-667, 2020.

CLOWARD, Richard A.; OHLIN, Lloyd E. (1960), Delinquency and opportunity. Nova York, Free Press.

COHEN, Lawrence; FELSON, Marcus. Social change and crime trends: a routine activities approach. American Sociological Review, 44: p. 88-100, 1979.

CORNISH, Derek.; CLARK, Ronald. “Modeling offenders decisions”: a framework for research and policy. In: TONRY, M.; MORRIS, N. (org.). Crime and justice. Chicago: University of Chicago Press, 1985.

CORRÊA, Diogo S. Adotando o ponto de vista do outro: Mead, o assalto e a empatia tática. Dilemas, Rev. Estud. Conflito Controle Soc., v. 13, n. 3, p. 591-614, 2020.

DIAS, Camila C. N. Da pulverização ao monopólio da violência: expansão e consolidação da dominação do PCC no sistema carcerário paulista. 2012. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

EINSTADTER, Werner J. Armed robbery: a career study in perspective. Berkeley, PhD Thesis, University of California, 1966.

FELTRAN, Gabriel de S. Irmãos, uma história do PCC. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

FELTRAN, Gabriel de S. (Il)licit economies in Brazil: an ethnographic perspective. Journal of Illicit Economies and Development, v. 10, n. 1, p. 145-154, 2019.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora da Unesp, 1991.

GILL, Martin. The craft of robbers of cash-in-transit vans: crime facilitators and the entrepreneurial approach. International Journal of the Sociology of Law, v. 29, n. 3, p. 277-291, 2001. https://doi.org/10.1006/ijsl.2001.0152

GILL, Martin. Commercial robbery: offenders perspectives on security and crime prevention. Londres: Blackstone Press, 2000.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

GRILLO, Carolina C. Coisas da vida no crime: tráfico e roubo em favelas cariocas. 2013. Tese (Doutorado em Ciências Humanas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

GRILLO, Carolina C; MARTINS, Luana A. Indo até o problema: roubo e circulação na cidade do Rio de Janeiro. Dilemas, v. 13, n. 3, p. 565-590, 2020. https://doi.org/10.17648/dilemas.v13n3.32078

HOBSBAWM, Eric J. E. Bandidos. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

HOBSBAWM, Eric J. E. Rebeldes primitivos: Estudos sobre formas arcaicas de movimentos sociais nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.

JACOBS, Bruce. The manipulation of fear in carjacking. Journal of Contemporary Ethnography, v. 45, n. 5, p. 523-544, 2013. https://doi.org/10.1177/0891241612474934

JACOBS, Bruce. Carjacking and copresence. Journal of Research in Crime and Delinquency, v. 49, n. 4, p. 471-488, 2012. https://doi.org/10.1177/0022427811408434

KATZ, Jack. Seductions of crime: moral and sensual aspects of doing evil. Nova York: Basic Books, 1988.

LETKEMANN, Peter. Crime as work. Nova Jersey: Prentice-Hall, 1973.

LINDERGAARDEN, Marie R.; BERNASCO, Wim; JACQUES, Scott. Consequences of expected and observed victim resistance for offender violence during robbery events. Journal of Research in Crime and Delinquency, v, 52, n. 1, p. 32-61, 2015.

LINGER, Daniel T. Dangerous encounters. Stanford: Stanford University Press, 1992.

LOPES JÚNIOR, Edmilson. Cangaceiros viajam de Hilux: as novas faces do crime organizado no Nordeste do Brasil. Cronos, v. 7, n. 2, p. 353-372, 2006.

LUCKENBILL, David. Generating compliance: the case of robbery. Journal of Contemporary Ethnography, v. 10, n. 1, p. 25-46, 1981.

MALINOWSKI, Bronislaw. K. Argonautas no Pacífico Ocidental: da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné, Melanésia. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

MARTINS, Luana A.; CORRÊA, Diogo S.; FELTRAN, Gabriel de S. Apresentação do dossiê Roubo, Violência e Cidade. Dilemas, v. 13, n. 3, p. 669-690, 2020.

MATTHEWS, Roger. Armed robbery. Devon: Willan, 2002.

MATTHEWS, Roger. Armed robbery: two police responses. Crime detection and prevention. Series paper n. 78. Londres: Home Office Police Research Group, 1996.

MCCLUSKEY, John. A comparison of robbers use of physical coercion in commercial and street robberies. Crime & Delinquency, v. 59, n. 3, p. 419-442, 2013.

MEAD, George H. The philosophy of the act. Chicago: University of Chicago Press, 1938.

MEAD, George H. Mind, self, and society: from the standpoint of a social behaviorist. Chicago: University of Chicago Press, 1934.

MEAD, George H. The philosophy of the present. La Salle: Open Court, 1932.

NORMANDEAU, André. Trends and patterns in crimes of robbery. 1968. Dissertação (Mestrado em Criminologia) – University of Pennsylvania, Philadelphia, 1968. https://repository.upenn.edu/dissertations/AAI6905651

OSTRONOFF, Leonardo J. Vigilância, controle e tecnologia: um estudo sobre o setor supermercadista em São Paulo. Mediações – Revista de Ciências Sociais, v. 23, p. 127-140, 2018.

PAES-MACHADO, Eduardo; LEVENSTEIN, C. I’m sorry everybody, but this is Brazil: armed robbery on the buses in Brazilian cities. British Journal of Criminology, v. 44, n. 1, p. 1-14, 2004.

PAES-MACHADO, Eduardo; NASCIMENTO, Ana Márcia. Conducting danger: governance, networks, and layperson security intelligence among taxi drivers. International Journal of Comparative and Applied Criminal Justice, v. 38, n. 1, p.1-22, 2014.

PAES-MACHADO, Eduardo; NASCIMENTO, Ana Márcia. Bank employees don’t go to heaven: processes of victimization of bank employees for violent crimes. In: HUTCHERSON, A. N. (ed.). Psychology of victimization. Nova York: Nova Science Publishers, 2011.

PAES-MACHADO, Eduardo; NASCIMENTO, Ana Márcia. Bank money shields: work-related victimisation, moral dilemmas and crisis in the bank profession. International Review of Victimology, v. 13, n. 1, p. 1-25, 2006. https://doi.org/10.1177/026975800601300101

PAES-MACHADO, Eduardo; RICCIO-OLIVEIRA, Maria Angélica. O jogo de esconde-esconde: trabalho perigoso e ação social defensiva entre motoboys de Salvador. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 24, n. 1, p. 91-106, 2009. https://doi.org/10.1590/S0102-69092009000200006

PAES-MACHADO, Eduardo; VIODRES INOUE, Sílvia. Perception of fear and coercive management of victims of intercity bus robberies. Criminology & Criminal Justice, v. 17, n. 2, p. 22-39, 2017.

PAES-MACHADO, Eduardo; VIODRES INOUE, Sílvia. O lado sombrio da estrada vitimização, gestão coercitiva e percepção de medo nos roubos a ônibus interurbanos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 30, n. 1, p. 9-30, 2015. https://doi.org/10.17666/308909-30/2015

PRADO, Sophia. Vivendo o roubo: Um momento de adrenalina, deleite e performance, Minas Gerais. Dilemas, v. 13, n.3, p. 669-690, 2020. https://doi.org/10.17648/dilemas.v13n3.31683

SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.

SUTHERLAND, Edwin. Profissional thief. Chicago: University of Chicago Press, 1937.

SYKES Gresham M.; MATZA, David. Técnicas de neutralización: una teoría de la delincuencia. Caderno CRH, v. 21, n. 52, p. 163-170, 2008.

TARK, Jungyeon; KLECK, Gary. Resisting crime: the effects of victim action on the outcomes of crime. Criminology, v. 20, n. 2, p. 89-116, 2004. https://doi.org/10.1111/j.1745-9125.2004.tb00539.x

TEDESCHI, James; FELSON, Richard. Violence, aggression, and coercive actions. Washington: American Psychological Association, 1994.

WIEVIORKA, Michel. O novo paradigma da violência. Tempo Social, v. 9, n. 1, p. 5-41, 1997. https://doi.org/10.1590/S0103-20701997000100002

WRIGHT, Richard; DECKER, Scott. Armed robbers in action. Boston, Northeastem University Press, 1997.

Fontes da imprensa

BALDEZ, Lucas. La Casa de Papel brasileira: crime subjuga Estado e rouba R$ 500 milhões com ‘domínio de cidades’. Sputnik, 24 maio 2022. https://sputniknewsbrasil.com.br/20220524/crime-subjuga-estado-rouba-500-milhoes-dominio-de-cidades-22752472.html

CAMARGO, Cristina. Botucatu tem madrugada de pânico com assaltos, tiroteios, explosões e incêndios. Folha de São Paulo, 30 jul. 2020. https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/07/botucatu-sp-tem-madrugada-de-panico-com-assaltos-tiroteios-explosoes-e-incendios.shtml

CASTILHO, Fernando. Com menos agências físicas e banco digital, Febraban comemora redução do número de assaltos a banco em 2019. JC Negócios, 28 fev. 2020. https://jc.ne10.uol.com.br/colunas/jc-negocios/2020/02/28/com-menos-agencias-fisicas-e-banco-digital-febraban-comemora-reducao-do-numero-de-assaltos-a-banco-em-2019

ESTADÃO CONTEÚDO. Assaltos a bancos caem 36% entre 2020 e 2021, diz Febraban; saiba motivo para queda de registros. InfoMoney, 6 abr. 2022. https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/assaltos-a-bancos-caem-36-entre-2020-e-2021-diz-febraban-saiba-motivo-para-queda-de-registros/

FERRRARI, Hamilton. Assaltos a agências bancárias caem mais de 50% em 2020, diz Febraban. Poder 360, 18 fev. 2021. https://www.poder360.com.br/economia/assaltos-a-agencias-bancarias-caem-mais-de-50-em-2020-diz-febraban/

MILITÃO, Eduardo. Mega-assaltos no país levaram mais de R$ 500 milhões em cinco anos. Uol, 14 dez. 2020. https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/12/14/mega-assaltos-dominio-cidades-meio-bilhao-roubados-2015-2020-novo-cangaco.htm

SOARES, Roberta. Cidade sitiada, população em pânico e polícia acuada em Surubim. JC, 11 jul. 2018. https://jc.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2018/07/11/cidade-sitiada-populacao-em-panico-e-policia-acuada-em-surubim-346581.php

UOL. Criciúma (SC) tem madrugada de violência com assalto a banco. Uol, 1 dez. 2020. https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/12/01/criciuma-sc-tem-madrugada-de-violencia-em-tentativa-de-assalto.htm

Downloads

Publicado

2023-05-04

Como Citar

DIÓGENES DE AQUINO, J. P. Abordagens truculentas e domínio de cidades brasileiras em assaltos contra bancos mediante planejamento minucioso. Sociologias, [S. l.], v. 25, n. 62, 2023. DOI: 10.1590/18070337-118176. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/sociologias/article/view/118176. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos