Mobilidades e etnicidade nos territórios da costura
DOI:
https://doi.org/10.1590/15174522-111847Palavras-chave:
indústria de confecção, migrações internacionais, diáspora boliviana, economias étnicas, territórios circulatóriosResumo
Neste artigo, abordamos a inserção boliviana no trabalho de confecção de roupas nas cidades de São Paulo (Brasil) e Buenos Aires (Argentina) por meio de uma análise das redes sociais que permitem a inserção e circulação dos migrantes nessa atividade. À luz dos debates da sociologia urbana sobre as economias migrantes, indagamos se essa atividade constitui economias étnicas ou territórios circulatórios. A partir de observação participante multissituada e 50 entrevistas semiestruturadas com os trabalhadores migrantes, formulamos a hipótese de que se trata de uma formação híbrida, com forte componente étnico associado a uma intensa circulação de trabalhadores em espaços multiétnicos. Argumentamos que esse hibridismo se deve à coexistência de dois tipos de redes sociais de contratação, com lógicas diferenciadas: uma, desde os locais de origem dos migrantes, na Bolívia e, outra, nas cidades de destino da migração. Circunstâncias que permitem entrever a emergência de novos cosmopolitismos nesses territórios da costura. No entanto, esses novos cosmopolitismos associam-se de maneira ambivalente com os apelos da etnicidade, delineando um novo campo de embates políticos, interno à comunidade boliviana, em torno de seus pertencimentos identitários nas cidades de destino.
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