Dossiê - ABORDAGENS EPISTÊMICAS E METODOLÓGICAS PARA INTEGRAR EXTENSÃO E PESQUISA AO ENSINO DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO

2024-04-26

A Revista Eletrônica de Administração da UFRGS (REAd) divulga chamada inicial para o primeiro dossiê a ser publicado durante 2024 e 2025. Com o tema Abordagens epistêmicas e metodológicas para integrar extensão e pesquisa ao ensino de Graduação e Pós-graduação em Administração , Armindo Teodósio dos Santos de Souza, Fabio Bittencourt Meira, Nayara Silva de Noronha convidam pesquisadoras(es) a enviarem publicações relacionadas para o dossiê. 

Período para submissão de artigos: até 31/10/2024.

Para realizar a submissão, autores(as) devem acessar o sistema de submissão da REAd e escolher o referido dossiê.

 

Chamada de Trabalhos 

A presente chamada de trabalhos convoca pesquisadores/as extensionistas brasileiro/as (e  estrangeiro/as) a refletirem sobre estratégias epistemológicas e metodológicas para promover a  adequada integração das atividades de extensão, pesquisa e ensino, que definem o tripé constitutivo  do ensino superior (BRASIL, 1988, 1996). Nosso objetivo aqui é incentivar o debate e reflexão das  áreas da Administração a respeito do trabalho cotidiano do/a pesquisador/a extensionista que se  esforça em efetivar a indissociabilidade extensão, pesquisa e ensino em suas atividades. 

Um número temático na Revista Eletrônica de Administração (REAd) em torno desta problemática  justifica-se por sua relevância, e torna-se urgente e necessário devido a novas demandas  institucionais. Na pós-graduação, os critérios de avaliação da CAPES relevam, cada vez mais, as  métricas de impacto na sociedade, inserção nacional e regional dos programas (Zambiasi, 2022;  Oliveira, Stecanela e Boufleuer, 2023). Na Graduação, o CNE define critérios de curricularização  da extensão de um mínimo de 10% (dez por cento) da carga horária curricular estudantil e obriga  sua inclusão na matriz curricular dos cursos (BRASIL, 2018, Art. 4º). Portanto, às Instituições de  Ensino Superior (IES) cabe mobilizar recursos em torno de programas e projetos que mobilizem o  interesse dos discentes, docentes e técnicos, o que implica repensar as atividades de docência e  pesquisa, dado o novo status da extensão universitária como atividade obrigatória (Lucas et al,  2023). 

Os obstáculos ao tipo de inovação implicada nas exigências da CAPES e do CNE reverbera um  problema que coincide com a experiência dos proponentes desta chamada. Especialmente nas  escolas de administração, o tripé ensino-pesquisa-extensão é praticado de maneira desarticulada e  segmentada, privilegiando a pesquisa e, depois, o ensino: a extensão é o patinho feio! De fato, a  caracterização ‘extensionista’ não é signo de reputação e, muitas vezes, torna-se um quase  estereótipo para designar aqueles/as dedicados/as ao ‘social’, metonímia de ‘pobre’ e ‘pobreza’. No  país campeão da desigualdade social, isto não deixa de ser paradoxal. Por outro lado, é preciso  relevar o papel das atividades extensionistas no reforço da abordagem performativa, tão necessária à  reflexividade da prática na Administração (Mailhot, Laure & Mercier-Roy, 2022). Para além dos  conhecidos ‘relatos de experiência’, as interações com os sujeitos de extensão e a vivência no 

enfrentamento de problemas de ordem práticas têm significativo impacto na formação discente (Santos et al, 2023; Icaza e Farias, 2021; Ferreira, 2017). 

Para situar a extensão no contexto brasileiro, eis um breve histórico. No século XIX, a universidade  europeia buscava suprir demandas sociais e industriais do capitalismo em expansão, e, ao mesmo  tempo, deter o avanço da contestação operária. Do outro lado do Atlântico, o liberalismo norte americano aproximava a universidade do setor empresarial e da população rural, numa lógica de  prestação de serviço e assistencialismo (de Paula, 2013, p. 10; Oliveira, Goulart, 2015). Na América  Latina, a reforma universitária de Córdoba, em 1918, definiu o caráter de transformação social  característico dessas atividades no continente (Freitas Neto, 2011). No Brasil, a década de 1960  consolida “o compromisso com as classes populares” (Gadotti, 2017, p. 1) e o diálogo entre saberes  populares e conhecimento acadêmico (Freire, 1977). Depois da ditadura, em 1987, a criação do  Fórum de Pró Pró-Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Públicas Brasileiras (FORPROEX) consolida extensão como "via de mão mão-dupla" entre Universidade e sociedade (Gadotti, 2017, p. 2). Em 1998, o FORPROEX estabelece as diretrizes do Plano Nacional de  Extensão definindo extensão como o “processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino  e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e  Sociedade” (FORPROEX, 2001, p.2). 

O interesse nesta definição deve-se à reversão que ela produz, ao situar a extensão como fator-chave  do processo dialógico entre Universidade e sociedade, que responde pela indissociabilidade entre  ensino e pesquisa. Ainda assim, o debate conceitual continua vivo e necessário, pois as reflexões  sobre fundamentos e mediações capazes de consolidar caminhos metodológicos para a atividade  extensionista estão longe da saturação. As categorizações conhecidas vão desde a descrição das  modalidades de extensão praticadas nas IES – assistencialista, comunitária, prestação de serviçosdivulgação científica, formação técnica e inovação tecnológica –, até concepções categóricas que  orbirtam os interesses cognitivos da concepção extensionista – funcionalista, processual e crítica (Lucas et al, 2023). Mais concepções poderiam ser elencadas. 

Sugere-se, a seguir, alguns tópicos motivadores para subsidiar a submissão de artigos a esta  chamada: 

  1. A indissociabilidade e seu impacto nas decisões epistemológicas e metodológicas do/a  pesquisador/a extensionista; 
  2. Dificuldades metodológicas da convergência entre atividades de pesquisa e extensão; 3. Desenvolvimento de modelos para criar projetos e programas de pesquisa e extensão;
  3. Estratégias epistemológicas e metodológicas híbridas para combinar atividades pesquisa e  extensão; 
  4. Relato de experiências de ensino que promovem a indissociabilidade; 
  5. Design e formatos para uma (sala de) aula alinhada à prática extensionista; 
  6. Curricularização da extensão e adequação das disciplinas nos cursos de Graduação; 
  7. Programas e projetos de extensão orientados para cursos de pós-graduação; 
  8. Habilidades e competências para a formação do docente-pesquisador-extensionista em  Administração; 
  9. Outros ideias e abordagens, no campo da Administração, relacionadas à indissociabilidade.

 

Proposal for a Thematic Dossier:  

Epistemic and methodological approaches to integrating extension, research and teaching in  the field of Management and Organization Studies 

Call for Papers 

This call for papers invites Brazilian (and foreign) extension researchers to reflect on  epistemological and methodological strategies to promote the proper integration of extension,  research and teaching activities, which define the constitutive tripod of higher education (BRASIL,  1988, 1996). Our aim here is to stimulate debate and reflection in the administrative fields on the  daily work of extension researchers who strive to make extension, research and teaching inseparable  in their activities. 

A thematic issue of the Revista Eletrônica de Administração (REAd) on this topic is justified by its  relevance and is becoming urgent and necessary due to new institutional demands. At the  postgraduate level, CAPES evaluation criteria increasingly emphasize the metrics of impact on  society and the national and regional insertion of programs (Zambiasi, 2022; Oliveira, Stecanela  and Boufleuer, 2023). At the undergraduate level, the CNE defines criteria for the curricularization  of the extension of at least 10% (ten percent) of the students' curricular workload and obliges its  inclusion in the curricular matrix of the courses (BRASIL, 2018, Art. 4). Therefore, higher  education institutions (HEIs) must mobilize resources around programs and projects that mobilize  the interest of students, teachers and technicians, which implies a rethinking of teaching and  research activities, given the new status of university extension as a mandatory activity. 

To situate extension in the Brazilian context, here's a brief history. In the nineteenth century,  European universities sought to respond to the social and industrial demands of expanding  capitalism, while at the same time halting the advance of workers' protest. On the other side of the  Atlantic, North American liberalism brought the university closer to the business sector and the  rural population in a logic of service provision and support (de Paula, 2013, p. 10; Oliveira, Goulart,  2015). In Latin America, the university reform of Cordoba in 1918 defined the social transformative  character of these activities on the continent (Freitas Neto, 2011). In Brazil, the 1960s consolidated  "the commitment to the popular classes" (Gadotti, 2017, p. 1) and the dialogue between popular and  academic knowledge (Freire, 1977). After the dictatorship, in 1987, the creation of the Forum of  Pro-Rectors of Extension of Brazilian Public Higher Education Institutions (FORPROEX)  consolidated extension as a "two-way street" between the university and society (Gadotti, 2017, p.  2). In 1998, FORPROEX established the guidelines for the National Extension Plan, defining 

extension as "an educational, cultural and scientific process that links teaching and research in an  inseparable way, enabling a transformative relationship between university and society"  (FORPROEX, 2001, p. 2). 

The interest in this definition is due to the inversion it produces, placing extension as a key factor in  the dialogical process between university and society, responsible for the inseparability of teaching  and research. Nevertheless, the conceptual debate is still lively and necessary, since the reflection  on the foundations and the mediations capable of consolidating the methodological paths of the  Extension activity are far from saturated. The known categorizations range from a description of the  types of extension practiced in universities - assistance, community, service provision, scientific  dissemination, technical training and technological innovation - to categorical conceptions that  revolve around the cognitive interests of the extensionist conception - functionalist, procedural and  criticism. More conceptions could be included… 

The following are some motivating topics to support the submission of articles to this call: 

  1. Inseparability and its impact on the epistemological and methodological choices of Extension  researchers; 
  2. Methodological difficulties in converging research and extension activities; 3. Development of models for creating research and extension projects and programs;  
  3. Hybrid epistemological and methodological strategies for combining research and extension  activities; 
  4. Reporting on teaching experiences that promote inseparability; 
  5. Design and formats for a (classroom) aligned with extension practice; 
  6. Curricularization of Extension and adaptation of topics in undergraduate courses; 8. Extension programs and projects aimed at postgraduate courses; 
  7. Skills and competencies for the training of teachers-researchers-extensionists in administration; 10. Other ideas and approaches in the field of administration related to inseparability.

Referências 

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidente da  República, 1988. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 

BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases (LDB) - Lei nº 9394/96, de  20 de dezembro de 1996. Brasília, DF: Ministério da Educação.  

http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf 

BRASIL. Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 7, de 18 de  dezembro de 2018. Brasília, DF: Ministério da Educação. http://portal.mec.gov.br/publicacoes-para professores/30000-uncategorised/62611-resolucoes-cne-ces-2018 

DE PAULA, João Antônio. A extensão universitária: história, conceito e propostas. Interfaces - Revista de Extensão, 1(1), 05-23, 2013. 

FERREIRA, Tereza E.L.R. Extensão Universitária no Curso de Administração: métodos de ensino  utilizados no projeto Administração para Todos. Revista Extensão & Sociedade da UFRN, 8(2), 31- 46, 2917. https://periodicos.ufrn.br/extensaoesociedade/article/view/11182 

FREIRE, Paulo. Extensão e comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. 

FREITAS NETO, J. A. A Reforma Universitária de Córdoba (1918): um manifesto por uma universidade latino-americana. Ensino Superior Unicamp, 71, 62-70, 2011. https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos/a-reforma-universitaria-de-cordoba-1918- um-manifesto 

GADOTTI, Moacir. Extensão Universitária: para que? Instituto Paulo Freire, 2017. In:  https://www.paulofreire.org/images/pdfs/Extens%C3%A3o_Universit%C3%A1ria_- _Moacir_Gadotti_fevereiro_2017.pdf 

ICAZA, Ana M.; FARIAS, Luisa N. Bancos comunitários e economia popular nas periferias  urbanas: caminhos de interpretação e de ressignificação. Coisas do Gênero 7(2), 6-17, 2021. In:  http://revistas.est.edu.br/index.php/genero/index 

LUCAS, Angela C. et al. Curricularização da extensão: A experiência do curso de administração  pública da Faculdade de Ciências Aplicadas Unicamp. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, 28,  2023. 

MAILHOT, Chantale; CABANTOUS, Laure; MERCIER-ROY, Mireille. Enacting alternative  decision-makers: an exploration of the pedagogical potential of performativity in management  education. Ciências em Debate, 6, 60-80, 2022.

MOITA, Filomena M.G.S.C.; ANDRADE, Fernando C.B. Ensino-pesquisa-extensão: um exercício  de indissociabilidade na pós-graduação. Revista Brasileira de Educação, 14(41), 269-393, 2009. 

OLIVEIRA, Fernanda; GOULART, Patrícia M. Fases e faces da extensão universitária: rotas e  concepções. Revista Ciência em Extensão, 11(3), 8-27, 2015 

OLIVEIRA, Terezinha; STECANELA, Nilda; BOUFLEUER, José P. A dimensão formativa do  processo de avaliação da pós-graduação: considerações sobre o novo modelo de avaliação da  CAPES. Educação e Sociedade, 44, 1-18, 2023. https://doi.org/10.1590/ES.273292 

ZAMBIASI, Fábio. Impacto na sociedade no modelo de avaliação CAPES: implicações a partir de  experiências de um programa de pós-graduação de uma universidade comunitária. Dissertação  (Mestrado em Desenvolvimento Regional) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Pato  Branco, 2022.

Armindo Teodósio dos Santos de Souza - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC  Minas) 

Professor do Programa de Graduação e Pós-Graduação em Administração da PUC Minas. Líder do  Núcleo de Pesquisas em Ética e Gestão Social (NUPEGS/PUC Minas), Coordenador do Programa  de Extensão Saberes e Inovação pela Sustentabilidade (SABIÁS//PUC Minas), Conselheiro da Rede  Academia ICE para a promoção dos Negócios de Impacto Social (NIS), Coordenador do GT Tecnologias Sociais do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas para a População em Situação  de Rua. 

Fabio Bittencourt Meira - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 

Professor da Escola de Administração e do Programa de Pós-Graduação em Administração da  Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pesquisador fundador do Núcleo de Estudos  em Gestão Alternativa (NEGA), pesquisador do Centro de Estudos de Governo (CEGOV/UFRGS)  e do Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social (NUPEGS/PUC Minas). 

Nayara Silva de Noronha - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 

Professora da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da Universidade Federal de  Minas Gerais (FACE/UFMG) e do Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração  (CEPEAD). Coordenadora do Projeto de Pesquisa "A cidade como protagonista: a vida social  organizada na literatura" e do Projeto de Extensão "Lili - Literatura Livre: Círculo de Leitura de  Remição de Pena por meio da Literatura".