FASCISMO E PROTOFASCISMO
Reflexões sobre a escalada atual
Resumo
O Brasil assiste nos últimos anos à ascensão ao poder de uma ideologia que pode ser considerada uma variante do fascismo clássico: o pós-fascismo. O movimento político que ora catalisou esta expressão ideológica no Brasil, o bolsonarismo, vem promovendo, seja no poder institucional, sejam nas bases das microrrelações sociais, retrocessos civilizatórios que outrora tínhamos conquistado. O ataque antissistema à democracia, o apreço pelo uso da violência como expressão maior de força, a militarização da vida e da escola, a desvalorização e rebaixamento das manifestações intelectuais, artísticas e culturais, o nacionalismo virulento e, por vezes, de conveniência são alguns pilares que sustentam o irracionalismo autoritário e pragmático deste movimento político que ora encontra terreno fértil nos trópicos brasileiros. Através da revisão bibliográfica, analisaremos a dimensão da gravidade que este momento político provoca, o que requer pensar o pós-fascismo e a ultradireita a partir de uma perspectiva transnacional, dado o aparecimento de governos de corte protofascista em diversas nações do mundo, mas dando ênfase ao caso brasileiro. Afinal, o bolsonarismo instantaneamente se transformou em uma força protofascista. Partindo das imbricações entre o fascismo histórico das décadas de 1920-1940 até a atual escalada protofascista, verificamos que a atual investida fascista é real e possui potencial destrutivo que não deve ser subestimado. Também se conclui que não é possível compreender devidamente o fascismo desconsiderando-o como o remédio mais perverso lançado à mão em nome da defesa da sociedade capitalista.
DOI:105935/2358-3541.2023e126206-pt
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