v. 10 n. 14 (2015): O Orphismo sob o olhar brasileiro.

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A idéia de Fernando Pessoa e de Mário de Sá-Carneiro de criar a revista Orpheu deve ter surgido bastante cedo, como afi rma Robert Bréchon, o autor de Fernando Pessoa, estranho estrangeiro (1996), mas parece ter tomado forma pelo outono de 1914. O primeiro nome cogitado para a revista foi “Contemporânea”, em seguida “Lusitânia”, após “Europa”. Talvez o próprio Pessoa tenha proposto o nome “ Orpheu”, reportandonos
ao mito grego. Ao som de sua música e do seu cantar, os animais amansavam-se e as copas das árvores curvavam-se em respeito. Era o que queriam os orphistas: eles tinham pretensões grandiosas quanto à sua arte.
É Pessoa quem diz o que quer do Orpheu: “ Criar uma arte cosmopolita no tempo e no espaço. A nossa época é aquela em que todos os países , mais materialmente do que nunca,
e pela primeira vez, intelectualmente, existem todos dentro de cada um, em que a Ásia, a América, a África e a Oceânia são a Europa, e existem todos na Europa. Basta qualquer cais europeu - mesmo aquele cais de Alcântara - para ter ali toda a terra em comprimido. E se chamo a isto europeu, e não americano, por exemplo, é que é a Europa e não a América, a fons et origo deste tipo civilizacional, a região civilizada que dá o tipo e a direção a todo o mundo.Por isso a verdadeira arte moderna tem de ser maximamente despersonalizada - acumular dentro de si todas as partes do mundo. Só assim será tipicamente moderna. Que a nossa arte seja uma onde a dolência e o misticismo asiático, o primitivismo africano, o
cosmopolitismo das Américas, o exotismo ultra da Oceânia e o maquinismo decadente da Europa se fundam, se cruzem, se interseccionem. E, feita esta fusão espontaneamente, resultará uma arte-todas-as-artes, uma inspiração espontaneamente complexa... “(1915).

Publicado: 2015-12-14