Feminismo de Hashtag
uma análise do ciberativismo de #JustiçaPorMariFerrer
DOI:
https://doi.org/10.1590/1808-5245.29.125902Palavras-chave:
Feminismo, Hashtag, Ciberativismo, KDD, IramuteqResumo
O feminismo de hashtag é um fenômeno recente, contudo, cada vez mais recorrente na sociedade em rede, conectada pela Internet. Um dos exemplos desse tipo de ativismo se iniciou em 2019, quando uma jovem chamada Mariana Ferrer utilizou suas redes sociais para denunciar que havia sofrido violência sexual. Desde então, seu caso se tornou cada vez mais conhecido e foram criadas diversas hashtags para fazer referência ao caso, como a #JustiçaPorMariFerrer. O engajamento com a hashtag atingiu um grande número de engajamento em novembro de 2020, quando foi noticiada a absolvição do acusado e foi utilizado o termo ‘estupro culposo’ pelo portal que compartilhou mais detalhes do processo. A indignação com o ocorrido foi tão grande que invadiu as ruas de todo o Brasil, com protestos e manifestações. Dessa forma, o objetivo deste estudo é identificar a estrutura e aspectos da representação do feminismo por hashtag, os contextos semânticos e os conhecimentos do senso comum que perpassam esse tipo de manifestação. Para tal análise, foi utilizada a metodologia do KDD, extraindo 198.009 tweets com a hashtag #JustiçaPorMariFerrer em novembro de 2020. Entre os achados, destaca-se as categorias que revelam o discurso de repúdio em relação ao sistema e a solidariedade digital. Através das categorias, é possível perceber que há uma desconfiança com as instituições oficiais e que mulheres criam redes de solidariedade conectivas.
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