A quem pertence a universalidade? O Patrimônio e o Museu à luz da Teoria Pós-Colonial
DOI:
https://doi.org/10.22456/2178-8839.113893Palavras-chave:
Museu, Patrimônio, Universalidade, Eurocentrismo,Resumo
Diante dos crescentes debates sobre repatriação museológica e a reticência de museus europeus quanto a isso, esta pesquisa tem como objetivo analisar criticamente através da Teoria Pós-Colonial, e por meio da análise de documentos, a suposta universalidade do patrimônio anunciada na Declaration on the importance and value of universal museums, lançada em 2002. Questionando esta característica proposta pelos museus signatários, pergunta-se: seria a conservação do patrimônio um valor ocidental? Posto isto, a hipótese testada é que o documento em questão é uma invocação à manutenção colonial ocidental. Composto por três seções, o artigo apresenta conceitos inseridos no museu, como memória e patrimônio, para compreender como seus significados estão intimamente ligados ao Eurocentrismo, através de normas referentes ao espaço e que podem ser exemplificadas pelo documento previamente citado. Ademais, são utilizadas recomendações feitas pela UNESCO a fim de explicar como a universalidade da normatização patrimonial e museológica é validada por esses espaços ocidentais, assim como analisar os pedidos de repatriação de peças museológicas como um desafio ao sistema internacional. Por fim, o objetivo aqui proposto não é apresentar uma resposta final a esta agenda, mas sim trazer à luz e problematizar, dentro da área de Relações Internacionais, a importância deste debate.
Downloads
Referências
ABREU, Regina. A emergência do patrimônio genético e a nova configuração do campo do patrimônio. In CHAGAS, Mario;
ABREU, Regina (orgs). Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. P. 34-48.
ABRAHAMSEN, Rita. Postclonialism. In GRIFFITHS, Martin (ed). International Relations Theory for the Twenty-First Century. Routledge. 2007, Cap. 10, p. 111-122.
ALPERS, Stvetlana. “The Museum as a Way of Seeing. In KARP, Ivan; LAVINE, Steven (eds). Exhibiting Cultures: the poetics and politics of Museum Display. Washington: Smithsonian Institution Press. 1991. Cap. 1, p. 25-32.
ASSMANN, Aleida. Espaços de Recordação. Formas e transformação da memória cultural. Campinas: Editora Unicamp. 2011.
ARRONSON, Peter. National Museums as cultural constitutions. In ARRONSON, Peter; ELGENIUS, Gabriela (Orgs.) National Museums and Nation-Building in Europe 1750-2010. Nova York: Routledge, 2015. (E-book)
BHAL, Harpreet. “Egypt to ask British Museum for Rosetta Stone”. Reuters Life! Londres, 14 de dez. de 2009. Disponível em https://br.reuters.com/article/idUSTRE5BD2GR20091214. Acesso em 30 jan. 2021.
BIANCHI, Alvaro. O laboratório de Gramsci: filosofia, história e política. São Paulo: Alameda, 2008.
BURLINGAME, Katherine. Universal Museums: Cultural and Ethical Implications. Conference Proceedings the Right to [World] Heritage. BTU Cottbus -Senftenberg 2014. Disponível em https://www.researchgate.net/profile/Katherine_Burlingame/publication/299594822_Universal_Museums_Cultural_and_Ethical_Implications/links/57015ca208ae1408e15ea672/Universal-Museums-Cultural-and-Ethical-Implications.pdf?origin=publication_detail. Acesso em 03 jan. 2021.
CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2011.
CARLAN, Claudio Umpierre. Os Museus e o Patrimônio Histórico: uma relação complexa. História. São Paulo, v. 27, n. 2, p. 75-88, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-90742008000200005. Acesso em 16 jan. 2021.
CATROGA, Fernando. Recordação e esquecimento. In CATROGA, F. Memória, História e Historiografia. Coimbra: Quarteto Editora, 2001.
CHAGAS, Mario. Cultura, Patrimônio e Memória. Ciências e Letras, Porto Alegre, v. 31, p. 15-29, 2002.
CHAGAS, Mario. Museus e Patrimônios: por uma poética e uma política decolonial. Revista do patrimônio histórico e artístico nacional, n. 35, 2017.
CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. Unesp, 2001.
CHRISTOFOLETTI, Rodrigo. Patrimônio como esteio das Relações Internacionais. In CHRISTOFOLETTI, Rodrigo (Ed.). Bens culturais e relações internacionais: o patrimônio como espelho do soft power. Editora universitária Leopoldianum, 2017. Introdução, p. 13-40.
COSTA, Karine Lima da. A demanda pela restituição do patrimônio cultural através das relações entre a África e a Europa. Locus: Revista de História, Juiz de Fora, v. 26, n. 2, p. 193–209, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/locus/article/view/31068. Acesso em: 7 maio. 2021.
COSTA, Karine Lima da. Caminhos para a descolonização dos museus: a questão da repatriação das antiguidades egípcias. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, 2019, 294 p.
DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François Conceitos-chave de Museologia. São Paulo: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado de São Paulo : Secretaria de Estado da Cultura, 2013
DIAGNE, Souleymane B. Négritude. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2016 Edition). Center for the Study of Language and Information (CSLI), Stanford University. Disponível em https://plato.stanford.edu/archives/spr2016/entries/negritude/
DUMONT, Laetitia; CHAVEROU, Éric. Musée des civilisations noires de Dakar : un panafricanisme revendiqué. France Culture. 14 ago. 2020. Disponível em: https://www.franceculture.fr/geopolitique/musee-des-civilisations-noires-de-dakar-un-panafricanisme-revendique. Acesso em 15 jul. 2021.
DUNCAN, Carol. Art Museums and the Ritual of Citizenship. In KARP, Ivan; LAVINE, Steven (eds). Exhibiting Cultures: the poetics and politics of Museum Display. Washington: Smithsonian Institution Press. 1991. Cap. 6, p. 88-103.
DUNCAN, Carol. Civilizing rituals: Inside public art museums. Routledge, 2005.
GALLAGHER, Julia (ed). Images of Africa: creation, negotiation and subversion. Manchester: Manchester University Press, 2015
GONÇALVES, José Reginaldo S. O Patrimônio como categoria de pensamento. In CHAGAS, Mario; ABREU, Regina (orgs). Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. P. 25-33.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Volume 2. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2001.
GROVOGUI, Siba N. Beyond Eurocentrism and anarchy: memories of international order and institutions. New York: Palgrave Macmillan. 2006.
FANON, Frantz. Sobre a Cultura Nacional. In FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. 1968. Cap. 4, p. 169-196.
FOCUS. Declaration on the importance and value of universal museums. ICOM News. 2004 Disponível em: http://network.icom.museum/fileadmin/user_upload/pdf/ICOM_News/2004-1/ENG/p4_2004-1.pdf . Acesso em 12 fev. 2021.
FOCUS. “ICOM announces the alternative museum definition that will be subject to a vote”. ICOMNews 25 de. jul. 2019. Disponível em: https://icom.museum/en/news/icom-announces-the-alternative-museum-definition-that-will-be-subject-to-a-vote/. Acesso em 15 jul. 2021.
KLITZING, Isabel Von. “Why African voices are crucial to the debate over the return of colonial loot” The Art Newspaper. 26 de mar. 2021. Disponível em: https://www.theartnewspaper.com/interview/why-african-voices-are-crucial-to-the-restitution-debate. Acesso em 29 de mar. 2021
KRISHNA, Sankaran. Globalization and Postcolonialism: Hegemony and Resistance in the Twenty-first Century. Maryland: Rowman & Littlefield Publishers, Inc. 2009
“Le Sénégal inaugure un Musée des civilisations noires à Dakar”. Le Monde, 05 de dez. 2018.. Disponível em: https://www.lemonde.fr/afrique/article/2018/12/05/le-senegal-inaugure-un-musee-des-civilisations-noires-a-dakar_5392879_3212.html. Acesso em: 12 jul. 2021.
LEWIS, Geoffrey. The Universal Museum: a Special Case? Icom news. Paris, 2004. Disponível em: https://icom.museum/en/ressource/the-universal-museum-a-special-case/. Acesso em 02 jan. 2020.
LIMA, Diana Farjalla Correia. Museologia-Museu e Patrimônio, Patrimonialização e Musealização: ambiência de comunhão. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 7, n. 1 , p. 31-50, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1981-81222012000100004. Acesso em 19 jan. 2021.
MARX, Karl. Prefácio. In MARX, Karl. Contribuição Crítica à uma Economia Política. São Paulo: Expressão Popular, 2008. P. 45-50.
MADROÑAL, Ángeles Castaño; LEÓN, Elodia Hernandéz. As políticas patrimoniais da UNESCO na geopolítica de colonialidades globais e a emergência de novos sentidos de interculturalidade do patrimônio na Andaluzia. OPSIS: Revista do Departamento de História e Ciências Sociais, 16 (1), p. 131-152, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.5216/o.v16i1.37021. Acesso em: 15 jul. 2021.
MOURA, Sabrina. Museus, Identidades e Gestos Políticos na Agenda das Restituições. In COSTA, Paulo de Freitas; COSTA, Ana Cristina Moutela (org.). Cadernos da Casa Museu Ema Klabin: identidades paulistanas. São Paulo: Fundação Cultural Ema Klabin, p. 25-35. 2020.
Musée des Civilisations Noires (MCN). Disponível em: http://www.mcn.sn/. Acesso em 30 de dez. 2020.
NORA, Pierre. Leux lieux de la mémoire. Montevideo: Editoras Trilce, 2008.
OLENDER, M. “O abismo da história é grande o suficiente para todos”. Os primórdios da Carta de Atenas de 1931 e a afirmação da noção de patrimônio da humanidade. Locus: Revista de História, Juiz de Fora, v. 26, n. 2, p. 291–313, 2020. DOI: 10.34019/2594-8296.2020.v26.31204. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/locus/article/view/31204. Acesso em: 13 out. 2020.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
SMITH, Helena. “Greece demands return of stolen heritage”. The Guardian, Atenas, 11 de jul. de 2006. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2006/jul/11/parthenon.arttheft. Acesso em 30 jan. 2021.
STRAUSS, Claude Lévi. Raça e história. Antropología estructural, 1952.
TICKNER, Arlene B. e ARREAZA, Catalina. Postmodernismo, postcolonialismo y feminismo: manual para (in)expertos. Colombia Internacional, v. 54 p. 14-38, 2002. Disponível em: https://doi.org/10.7440/colombiaint54.2002.01. Acesso em: 30 out. 2020.
UNESCO. Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural. 1972. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000133369_por. Acesso em 29 dez. 2020.
UNESCO. Recomendação Referente À Proteção E Promoção Dos Museus E Coleções, Sua Diversidade E Seu Papel Na Sociedade. 2015. Disponível em: https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2016/11/Unesco_Recomendacao-Final_POR-traducao-nao-oficial.pdf . Acesso em 27 dez. 2020.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
VOGEL, Susan. Always true to the Object, in Our fashion. In KARP, Ivan; LAVINE, Steven (eds). Exhibiting Cultures: the poetics and politics of Museum Display. Washington: Smithsonian Institution Press. 1991. cap. 12, p. 191-204.
VOGT, Olgário Paulo. Patrimônio cultural: um conceito em construção. Dossiê MÉTIS: história & cultura. Caxias do Sul, v. 7, n. 13, p. 13-31, 2008. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/687. Acesso em: 18 jan. 2021.
WALLERSTEIN, Immanuel. O universalismo europeu: a retórica do poder. São Paulo, Boitempo Editoral, 2007.
WILLIAMS, Raymond. Palabras clave: um vocabulário y la sociedade. Buenos Aires: Nueva Visión, 2003.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores(as) mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Internacional Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0, que permite seu uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, bem como sua transformação e criações a partir dele, desde que o(a) autor(a) e a fonte originais sejam creditados. Ainda, o material não pode ser usado para fins comerciais, e no caso de ser transformado, ou servir de base para outras criações, estas devem ser distribuídas sob a mesma licença que o original.
b. Autores(as) têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores(as) têm permissão para publicar, nos repositórios considerados pela Conjuntura Austral, a versão preprint dos manuscritos submetidos à revista a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
d. Autores(as) têm permissão e são incentivados(as) a publicar e distribuir online (em repositórios institucionais e/ou temáticos, em suas páginas pessoais, em redes ou mídias sociais, etc.) a versão posprint dos manuscritos (aceitos e publicados), sem qualquer período de embargo.
e. A Conjuntura Austral: journal of the Global South, imbuída do espírito de garantir a proteção da produção acadêmica e científica regional em Acesso Aberto, é signatária da Declaração do México sobre o uso da licença Creative Commons BY-NC-SA para garantir a proteção da produção acadêmica e científica em acesso aberto.