Agências de rating e desenvolvimentismo: há espaço para conciliação?
DOI:
https://doi.org/10.22456/2178-8839.100528Palavras-chave:
Agências de rating, Globalização financeira, DesenvolvimentismoResumo
O artigo analisa o comportamento das agências de rating frente a implementação de políticas desenvolvimentistas pelos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Busca-se, a partir de uma perspectiva pós-keynesiana, associada a observações teóricas e empíricas da literatura acerca da integração de economias emergentes à globalização financeira e da atuação das agências no sistema financeiro internacional, compreender as restrições impostas por essas empresas a políticas econômicas alternativas à ortodoxia neoliberal que propagam e que orientam suas avaliações. A hipótese subjacente é que o caráter pró-cíclico de sua atuação abre espaço para que tolerem ou mesmo estimulem a adoção de um instrumental desenvolvimentista em momentos específicos de crescimento econômico. Isto é sugerido pelos ratings que atribuíram aos governos em questão quando da adoção de estratégias novo ou social-desenvolvimentistas por determinados períodos, sendo também observado a partir dos relatórios que publicaram e demais manifestações de seus executivos. Pretende-se, com o trabalho, refletir sobre as perspectivas de implementação de estratégias desenvolvimentistas no contexto de globalização financeira, assim como mais bem compreender o propósito e o modus operandi das agências de rating, que despontam como atores ainda pouco explorados academicamente.Downloads
Referências
BARTA, Zsófia; JOHNSTON, Alison. Rating politics? Partisan discrimination in credit ratings in developed economies. Comparative Political Studies, pp. 1-34, 2017.
BASTOS, Pedro P. Z. A economia política do novo-desenvolvimentismo e do social-desenvolvimentismo. Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 779-810, 2012.
BINICI, Mahir; HUTCHISON, Michael; MIAO, Evan W. Are credit ratings agencies discredited? Measuring market price effects from agencies sovereign debt announcements. BIS Working Paper 704, 2018.
BLYTH, Mark. Austeridade: a história de uma ideia perigosa. Autonomia Literária, 2017.
BRESSER-PEREIRA, Luiz C. From old to new developmentalism in Latin America. In Ocampo, J. A. e Ros, J. (org.). Handbook of Latin America Economics, Oxford: Oxford University Press, 2009.
BRESSER-PEREIRA, Luiz C. O governo Dilma frente ao tripé macroeconômico e à direita liberal e dependente. Novos Estudos, 95, pp. 5-14, 2013.
BRESSER-PEREIRA, Luiz C.; GALA, Paulo. Macroeconomia estruturalista do desenvolvimento. Revista de Economia Política, v. 30, n. 4, pp. 663-686, 2010.
CAMPELLO, Daniela. The politics of market discipline in Latin America: globalization and democracy. Cambridge University Press, 2015.
CARNEIRO, Ricardo. Velhos e novos desenvolvimentismos. Economia e Sociedade, n. 21, pp. 749-778, 2012.
CARVALHO, Fernando C. de. Mudanças no papel e nas estratégias do FMI e perspectivas para países emergentes. In: FERRARI FILHO, Fernando; DE PAULA, Luiz F. (orgs.). Globalização financeira: ensaios de macroeconomia aberta. Editora Vozes, 2004.
CARVALHO, Laura. Valsa brasileira: do boom ao caos econômico. Editora Todavia, 2018.
DE CONTI, Bruno. A disciplina imposta à periferia: do FMI às agências de rating. In: BELLUZZO, Luiz G.; BASTOS, Pedro P. Z. (orgs.). Austeridade para quem? Balanço e perspectivas do governo Dilma Rousseff. São Paulo: Carta Maior, 2015.
EICHENGREEN, Barry; HAUSMANN, Ricardo; PANIZZA, Ugo. Currency Mismatches, Debt Intolerance, and Original Sin: Why They Are Not the Same and Why It Matters. In: EDWARDS, Sebastian (ed.). Capital Controls and Capital Flows in Emerging Economies: Policies, Practices and Consequences. The University of Chicago Press, 2007.
FERRI, G.; LIU, G.; STIGLITZ, J. E. The procyclical role of rating agencies: evidence from the east asian crisis. Economic Notes, v. 28, n. 3., pp. 335-355, 1999.
FITCH. 10 Years Forecast – The Brazilian Economy to 2018. FitchSolutions, 2009a.
FITCH. Fitch Ratings affirms Brazil at ‘BBB-’; Outlook Stable. FitchSolutions, 2009b.
FITCH. Latin America Sovereign Ratings in a Weakening Global Economy. FitchRatings, 2011.
FITCH. Rating Definitions. FitchRatings, 2020. Disponível em <https://www.fitchratings.com/products/rating-definitions>. Acesso em: 20 jan. 2020.
FONSECA, Pedro D. Desenvolvimento: a construção do conceito. In Calixtre, B.B. et al (org.). Presente e Futuro do Desenvolvimento Brasileiro. Brasília: IPEA, 2014.
FRIEDMAN, Thomas L. Foreign affairs; Don’t Mess with Moody’s. The New York Times, 1995. Disponível em <https://www.nytimes.com/1995/02/22/opinion/foreign-affairs-don-t-mess-with-moody-s.html>. Acesso: 17 nov. 2018.
FRITZ, Barbara; PAULA, Luiz F. de; PRATES, Daniela M. Developmentalism at the Periphery Can Productive Change and Income Redistribution be Compatible with Global Financial Asymmetries? Desigualdades.net, Working Paper n. 101, 2017.
KRUCK, Andreas. Resilient blunderers: credit rating fiascos and rating agencies’ institutionalized status as private authorities, Journal of European Public Policy, 2016. Disponível em <http://dx.doi.org/10.1080/13501763.2015.1127274>. Acesso em: 23 fev. 2019.
MACHADO, Pedro L. N. A política da classificação de risco: uma análise da atuação das agências de rating ao longo dos governos de Dilma Rousseff (2011-2016). Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais, Universidade Federal de Santa Catarina, 2018.
MELLO, Guilherme; ROSSI, Pedro. Do industrialismo à austeridade: a política macro do governo Dilma. Texto para discussão do IE da Unicamp, n. 309, 2017.
MOODY’S. Credit analysis: Brazil. Moody’s Investor Service, 2012a.
MOODY’S. Moody's afirma rating Baa2 do Brasil e mantém uma perspectiva positiva. Moody’s Investor Service, 2012b. Disponível em <https://www.moodys.com/research/Moodys-afirma-rating-Baa2-do-Brasil-e-mantm-uma-perspectiva--PR_260540>. Acesso em: 25 mai. 2019.
MOODY’S. Rating Scale and Definitions. Moody’s Investor Service, 2020. Disponível em: <https://www.moodys.com/sites/products/productattachments/ap075378_1_1408_ki.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2020.
MOSLEY, Layna. Global capital and national governments. Cambridge University Press, 2003.
OCAMPO, Jose A. Balance of payments dominance: its implications for macroeconomic policy. 2011. Disponível em: <https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/16268>. Acesso em: 14 mar. 2020.
PAUDYN, Bartholomew. Credit ratings and sovereign debt: the political economy of creditworthiness through risk and uncertainty. Palgrave Macmillan, 2014.
PAULA, Luiz F. de; FRITZ, Barbara; PRATES, Daniela M. Center and Periphery in International Monetary Relations: Implications for Macroeconomic Policies in Emerging Economies. Desigualdades.net, Working Paper n. 80, 2015.
PAULA, Luiz F.; SANTOS, Fabiano; MOURA, Rafael. The Developmentalist Project of the PT Governments: An Economic and Political Assessment. Latin American Perspectives, v. 47, n. 2, 2020.
PAULANI, Leda M. A experiência brasileira entre 2003 e 2014: neodesenvolvimentismo? Cadernos do Desenvolvimento, v. 12, n. 20, pp. 135-155, 2017.
PRATES, Daniela M.; FRITZ, Barbara; PAULA, Luiz F. de. O desenvolvimentismo pode ser culpado pela crise? Uma classificação das políticas econômica e social dos governos do PT ao governo Temer. 2019. Disponível em: <http://www.luizfernandodepaula.com.br/ups/prates-et-al-2019-td-ie-ufrj-o-desenvolvimentismo-pode-ser-culpado-pela-crise.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2019.
RODRIK, Dani. The globalization paradox: why global markets, states and democracy can’t coexist. Oxford University Press, 2012.
S&P. Análise complementar: República Federativa do Brasil. Standard & Poor's Ratings Services, 2014
S&P. Ratings de longo prazo do Brasil reafirmados; perspectiva permanece estável. S&P Global Ratings, 2015. Disponível em: <https://www.standardandpoors.com/pt_LA/web/guest/article/-/view/type/HTML/sourceAssetId/1245383488002>. Acesso em: 23 mai. 2019.
S&P. Ratings de longo prazo do Brasil rebaixados para 'BB', dados os significativos desafios políticos e econômicos; perspectiva negativa. S&P Global Ratings, 2016.
S&P. S&P Global Ratings Definitions. S&P Global Ratings, 2020. Disponível em: <https://www.standardandpoors.com/en_US/web/guest/article/-/view/sourceId/504352>. Acesso em: 20 jan. 2020.
SCHINELLER, Lisa. Brazil’s economic success is based on more than the demand for natural resources. Americans Quarterly. 2012. Disponível em: <https://www.americasquarterly.org/node/3811>. Acesso em: 16 jun. 2019.
SINCLAIR, Timothy J. The new masters of capital: american bond rating agencies and the politics of creditworthiness. Cornell University Press, 2005.
SINGER, André. O lulismo em crise: um quebra-cabeça do período Dilma (2011-2016). São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
STREECK, Wolfgang. Tempo comprado: a crise adiada do capitalismo democrático. Editora Boitempo, 2018.
TESOURO NACIONAL. Classificação de risco da República Soberana do Brasil. 2019. Disponível em: <http://www.tesouro.gov.br/en/classificacao-de-risco>. Acesso em: 14 jun. 2019.
VAALER, Paul. M.; SCHRAGE, Burkhard; N., & BLOCK, Steven A. Elections, opportunism, partisanship and sovereign ratings in developing countries, Review of Development Economics, v. 10, p. 154-170, 2006.
VALOR ECONÔMICO. Fitch diz que, sem Levy, teria que analisar o novo ambiente. 2015. Disponível em: <https://www.valor.com.br/financas/4273094/fitch-diz-que-sem- levy-teria-que-analisar-o-novo-ambiente>. Acesso em: 18 abr. 2018.
WILLIAMSON, John. Democracy and the Washington Consensus. World Development, 1993, v. 21, no 8, pp. 1329-1336.
YWATA, Ricardo K. Ordem Mundial e Agências de Rating: o Brasil e as agências na era global (1996-2010). São Paulo: Editora Senac, 2012.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores(as) mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Internacional Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0, que permite seu uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, bem como sua transformação e criações a partir dele, desde que o(a) autor(a) e a fonte originais sejam creditados. Ainda, o material não pode ser usado para fins comerciais, e no caso de ser transformado, ou servir de base para outras criações, estas devem ser distribuídas sob a mesma licença que o original.
b. Autores(as) têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores(as) têm permissão para publicar, nos repositórios considerados pela Conjuntura Austral, a versão preprint dos manuscritos submetidos à revista a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
d. Autores(as) têm permissão e são incentivados(as) a publicar e distribuir online (em repositórios institucionais e/ou temáticos, em suas páginas pessoais, em redes ou mídias sociais, etc.) a versão posprint dos manuscritos (aceitos e publicados), sem qualquer período de embargo.
e. A Conjuntura Austral: journal of the Global South, imbuída do espírito de garantir a proteção da produção acadêmica e científica regional em Acesso Aberto, é signatária da Declaração do México sobre o uso da licença Creative Commons BY-NC-SA para garantir a proteção da produção acadêmica e científica em acesso aberto.