Agências de rating e desenvolvimentismo: há espaço para conciliação?

Autores

  • Pedro Lange Netto Machado Doutorando em Ciência Política no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj) e bolsista CNPq. http://orcid.org/0000-0003-2457-946X

DOI:

https://doi.org/10.22456/2178-8839.100528

Palavras-chave:

Agências de rating, Globalização financeira, Desenvolvimentismo

Resumo

O artigo analisa o comportamento das agências de rating frente a implementação de políticas desenvolvimentistas pelos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Busca-se, a partir de uma perspectiva pós-keynesiana, associada a observações teóricas e empíricas da literatura acerca da integração de economias emergentes à globalização financeira e da atuação das agências no sistema financeiro internacional, compreender as restrições impostas por essas empresas a políticas econômicas alternativas à ortodoxia neoliberal que propagam e que orientam suas avaliações. A hipótese subjacente é que o caráter pró-cíclico de sua atuação abre espaço para que tolerem ou mesmo estimulem a adoção de um instrumental desenvolvimentista em momentos específicos de crescimento econômico. Isto é sugerido pelos ratings que atribuíram aos governos em questão quando da adoção de estratégias novo ou social-desenvolvimentistas por determinados períodos, sendo também observado a partir dos relatórios que publicaram e demais manifestações de seus executivos. Pretende-se, com o trabalho, refletir sobre as perspectivas de implementação de estratégias desenvolvimentistas no contexto de globalização financeira, assim como mais bem compreender o propósito e o modus operandi das agências de rating, que despontam como atores ainda pouco explorados academicamente.

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Publicado

2020-11-15

Como Citar

Machado, P. L. N. (2020). Agências de rating e desenvolvimentismo: há espaço para conciliação?. Conjuntura Austral, 11(56), 20–35. https://doi.org/10.22456/2178-8839.100528

Edição

Seção

ARTIGOS