Carcinoma de células renais sólido em cão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22456/1679-9216.139521

Palavras-chave:

Cão, Neoplasia, Carcinoma renal, Nefrectomia, Quimioterapia

Resumo

Introdução: O carcinoma de células renais (CCR) é a neoplasia renal primária mais comum em cães e gatos, se comparado aos tipos metastático ou multicêntrico. Trata-se de uma neoplasia epitelial maligna que acomete mais frequentemente indivíduos do sexo masculino de meia-idade, sendo reservado a mau prognóstico. Assim, o presente estudo tem como objetivo relatar o caso de um cão macho com diagnóstico histológico de CCR sólido tratado por nefroureterectomia unilateral.

Caso: Um cão de 8 anos, macho, sem raça definida, castrado, pesando 20,4 kg, foi atendido na Clínica Cães, Gatos & Cia, no município de Brusque, Santa Catarina, Brasil. O animal apresentava dor abdominal aguda e hematúria. Também foram realizados ultrassonografia abdominal (UA), radiografia de tórax, hemograma completo (HC), bioquímica sérica e urinálise. O exame de urina demonstrou urina marrom, turva e com pH alcalino (8), com densidade ligeiramente baixa (1.010) contendo células eritrócitos (>200.000/mL) e leucócitos (116.000/mL), incluindo neutrófilos e macrófagos degenerados; e também flora bacteriana moderada e poucas células de transição. A UA revelou estrutura nodular hipoecóica e heterogênea formada por regiões cavitárias, também foram identificadas áreas de líquido livre e peritonite na topografia do rim direito, enquanto a imagem radiográfica evidenciou massa bem definida, medindo aproximadamente 8,5 cm. Após exames de imagem, a laparotomia exploratória realizada resultou na remoção da estrutura maligna, considerando a margem de segurança adequada, seguida de exame histopatológico. O procedimento completo consistiu em nefroureterectomia unilateral direita e posterior quimioterapia pós-operatória com suplementação de carboplatina, piroxicam, ômega-3 e probióticos. Células neoplásicas com disposição em manto foram distinguidas formando pequenos grupos intercalados por finas trabéculas de tecido fibrovascular. Essas células exibiam formato poliédrico, limites celulares distintos, núcleos centrais redondos ou ovais (cromatina frouxa com até dois pequenos nucléolos basofílicos) e grande quantidade de citoplasma eosinofílico. Também foram observadas formas mitóticas, pleomorfismo moderado e sem atipias. Estas observações foram compatíveis com CCR sólido, sugerindo análise imuno-histoquímica.

 

Discussão: O CCR é uma neoplasia maligna e frequente em cães machos de meia-idade, com sinais clínicos e resultados de exames laboratoriais inespecíficos (hemograma e bioquímica sérica) dificultando o diagnóstico, portanto os exames de imagem são essenciais para apoiar a hipótese de neoplasia. Por outro lado, aspiração com agulha fina, biópsias guiadas por ultrassom ou laparotomia exploratórias seguidas de exame histopatológico também podem ser utilizadas; no presente caso, optou-se por esta última. Além disso, a imunoistoquímica é essencial como ferramenta de diagnóstico para determinar a natureza citológica ou molecular do CCR. Assim, nos casos de CCR unilateral, em que não há comprometimento da função renal e metástase, o tratamento é a nefroureterectomia unilateral e a quimioterapia pós-cirúrgica, além de cuidados paliativos visando o bem-estar do paciente. Apesar das orientações dadas ao tutor sobre a importância da imunoistoquímica e da quimioterapia para o diagnóstico e prognóstico do paciente, percebeu-se resposta negativa. Assim como no presente caso de estudo, assim como em outros, após remoção cirúrgica; a busca pelo bem-estar do paciente garantiria que o rim saudável mantivesse suas funções, além de monitorar o possível surgimento de metástases. Na verdade, essa e outras dificuldades são enfrentadas pelos veterinários no Brasil para convencer os tutores a realizar exames e tratamentos complementares, considerados caros. Tal comportamento indica que muitos pacientes que poderiam ter prognóstico melhor e favorável ou maior expectativa de vida, após serem diagnosticados e tratados para neoplasias, não têm essa oportunidade.

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Arquivos adicionais

Publicado

2024-09-05

Como Citar

Coury Santos, L. B., Kistenmacher de Bem, G., Dalcol Mazaro, R. D. M., & Martinez Pereira, M. A. (2024). Carcinoma de células renais sólido em cão. Acta Scientiae Veterinariae, 52. https://doi.org/10.22456/1679-9216.139521

Edição

Seção

Case Report

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