“Nunca de ti, cidade, eu pude partir”: a experiência da emigração e a desterritorialização na poesia de Czesław Miłosz
Resumo
Ao encenar um dos maiores paradoxos da experiência da emigração, a saber, o da impressão subjetiva da permanência no lugar de origem apesar do deslocamento, o poema “Nunca de ti, cidade” atualiza a oposição entre a natureza e a cultura para indagar a heterogeneidade das diversas tradições. Articulada por meio do endereçamento de um narrador e vinculada aos domínios estético e religioso, a imagem alegórica da cidade, ao mesmo tempo presente e ausente, escapa a sua plena cristalização na forma tradicional da alegoria graças à evocação dos elementos concretos e realistas. Inscrita dentro da estrutura do jogo, no regime onírico da experiência e envolta em uma esfera de irrealidade, a predominação afetiva da cidade de origem faz com que o espaço seja experimentado pelo narrador enquanto heterogêneo, ou seja, como disposto em volta do lugar central, no qual se concentra o teor imaginário da representação. Questionando o estatuto da ficção em sua relação com a realidade e partilhando do medo do monologismo totalitário, o poema de Miłosz esboça as possibilidades discursivas da resistência subjetiva.
Palavras-chave: Narratividade; subjetividade; alegoria; ficção; Czesław Miłosz.
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