CARTAS DO PASTOR JOÃO JORGE EHLERS (1844)

Authors

  • João Jorge Ehlers Autor das cartas publicadas
  • René E. Gertz Tradutor
  • Martin N. Dreher Tradutor

Keywords:

Correspondências, João Jorge Ehlers, Imigração Alemã, Documentação

Abstract

Nota preliminar: o fato de que ao menos metade dos primeiros imigrantes alemães a chegarem ao Rio Grande do Sul tenha sido protestante fez com que fossem contratados três pastores para dar-lhes assistência religiosa: Carlos Leopoldo Voges, Frederico Cristiano Klingelhoeffer e João Jorge Ehlers.[1] Sua alocação, dentro do espaço colonial, foi motivo de disputa entre eles mesmos, mas Voges acabou fincando raízes na colônia Três Forquilhas, no litoral norte, Klingelhoeffer na margem direita e Ehlers na margem esquerda do rio dos Sinos, na colônia São Leopoldo. Pela sua formação e pelo seu papel profissional e cultural, entre a população imigrante, tornaram-se não só líderes religiosos, mas também políticos. De Voges, provavelmente, se possa dizer que tenha sido o mais conformista, pelo fato de ter entrado na história não só como clérigo, mas também como comerciante e como escravocrata. Já Klingelhoeffer radicalizou, politicamente, aderindo de corpo e alma aos farroupilhas, tendo falecido em combate.

            Ehlers manifestou simpatias pelos farroupilhas, e entrou em confronto com autoridades locais vinculadas ao governo imperial, como João Daniel Hillebrand. Mesmo que não tenha se manifestado com a mesma veemência do outro pastor, passou uma temporada preso, em Porto Alegre. Também teve desentendimentos com o médico Carl von Ende, o qual pressionou, explicitamente, o governo para demiti-lo. Além disso, um grupo de 36 colonos se manifestou contra ele, sem que sejam conhecidas as acusações concretas.

            Ele nasceu em 22 de agosto de 1779, em Lüdersen (Hannover). Foi pastor e professor em Hamburgo. Viúvo, era pai de duas filhas e de um filho. Chegou a São Leopoldo em 6 de novembro de 1824. Por ser viúvo, seus filhos lhe foram tirados, e entregues a famílias em Porto Alegre. Celebrou o primeiro culto luterano em São Leopoldo, no natal de 1824. Em 26 de junho de 1825, conseguiu um terreno para construir um “salão para o culto religioso”, mais outro para um cemitério.[2] Faleceu no Rio de Janeiro, em janeiro de 1850.

            De Ehlers, estão conservadas duas cartas, depositadas no Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, que dão uma ideia daquilo que ele pensava e fazia, para além de suas atribuições mais estritamente pastorais. Ambas foram destinadas ao cônsul-geral da república de Bremen, no Rio de Janeiro, Dr. Stockmeyer. A primeira é de 16 de maio de 1844. Breve, ela trata de dois assuntos: a) de uma incumbência que ele, Ehlers, teria recebido do cônsul-geral (ainda que ela não seja explicitada), e b) de um relato das dificuldades que estava enfrentando para receber seu salário do Estado brasileiro, motivo pelo qual pediu a interferência do cônsul. A segunda é de 1º de outubro do mesmo ano, toda ela preocupada em atender, ao menos em parte, à incumbência recebida do cônsul – ainda que num breve P. S. voltasse a referir-se a questões pessoais.

            As cartas foram redigidas em letras góticas, mas há uma transcrição para caracteres romanos, pelo pastor Alfredo Creutzberg. A tradução que segue foi feita com base nesta versão transliterada. Ela apresenta algumas poucas passagens truncadas, assinaladas por reticências entre colchetes, mas nada que afetasse o conteúdo, de forma comprometedora. Foram feitos alguns poucos acréscimos explicativos, também entre colchetes.

            Um terceiro documento de autoria de Ehlers foi publicado em 1936 por Ferdinand Schröder, em seu livro Brasilien und Wittenberg: Ursprung und Gestaltung deutschen evangelischen Kirchentums in Brasilien.[3] Apesar de não estar expressamente dito, tudo indica que este seja o relatório sobre a colonização que o cônsul de Bremen solicitou a Ehlers, conforme referido na segunda carta. O texto, aparentemente, sofreu pequenas intervenções redacionais, pois, em algumas poucas passagens, o relato ocorre na terceira pessoa. Como, neste último documento, a tradução se baseou numa versão impressa, não há passagens truncadas, apenas foram acrescentadas algumas notas explicativas ou para manifestar alguma dúvida. (Nota de Martin N. Dreher e de René E. Gertz).

 

[1] Witt, Marcos Antônio. Excepcionais normais? A(s) trajetória(s) de três pastores no sul do Brasil (1824-1893). História Unisinos, São Leopoldo: UNISINOS, v. 20, n. 3, p. 287-299, 2016.

[2] Dreher, Martin N.; Mügge, Erny (Apresent.). Os primórdios da colônia alemã de São Leopoldo. São Leopoldo: Oikos Editora, 2023, p. 249-263.

[3] Berlim/Leipzig: de Gruyter, 1936, p. 56-60. Trata-se da transcrição de um texto originalmente publicado em Hamburger Zeitung für deutsche Auswanderungs- und Kolonisations- Angelegenheiten, n. 1-3, 1858.

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Published

2024-07-31

How to Cite

Ehlers, J. J., Gertz, R. E., & Dreher, M. N. (2024). CARTAS DO PASTOR JOÃO JORGE EHLERS (1844). Revista Do Instituto Histórico E Geográfico Do Rio Grande Do Sul, (166). Retrieved from https://seer.ufrgs.br/index.php/revistaihgrgs/article/view/139524