Quando termina o estado de coisas inconstitucional?
Desdobramentos institucionais a partir do julgamento cautelar da ADPF 347
Resumo
O presente artigo objetiva analisar os desdobramentos institucionais ocorridos após o julgamento cautelar da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347, que reconheceu o sistema carcerário brasileiro enquanto um “estado de coisas inconstitucional”. Inicialmente, contextualiza-se o cenário de maior protagonismo judicial, característico da doutrina neoconstitucionalista. Na sequência, apresenta-se o conceito “estado de coisas inconstitucional” influenciado por precedentes da Suprema Corte colombiana, bem como os pedidos formulados na petição inicial brasileira. Por fim, analisa-se os desdobramentos posteriores à decisão cautelar do STF, com ênfase nos temas abordados pelos ministros em seus respectivos votos. Metodologicamente, trata-se de pesquisa bibliográfica e documental, que utiliza de artigos e relatórios temáticos, bem como de documentos como a petição inicial e o acórdão de julgamento da ADPF. Conclui-se que, embora tenha ocorrido avanços posteriores à decisão, tais como a implementação das audiências de custódia e o descontingenciamento de recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), o país segue reproduzindo uma política criminal que aposta no recrudescimento punitivo e no encarceramento enquanto respostas primordiais para conflitos tidos como crimes, silenciando-se sobre o caráter estruturalmente seletivo e racista de nosso sistema prisional.
Downloads
Referências
AGENDA NACIONAL PELO DESENCARCERAMENTO. 2016-2017. Disponível em: https://desencarceramento.org.br/wp-content/uploads/2018/06/AGENDA_PT_2017-1.pdf. Acesso: 30 jul. 2023.
ALMEIDA, Sílvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
BORGES, Juliana. O que é encarceramento em massa? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2018.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 347. Relator: Min. Marco Aurélio. Brasília, DF. Publicado em: 19 fev. 2016. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10300665. Acesso em: 30 jun. 2023.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Petição Inicial na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n° 347. Rio de Janeiro, 26 de maio de 2015. Disponível em: www.jota.info/wp-content/uploads/2015/05/ADPF-347.pdf. Acesso em: 30 jul. 2023.
BRASIL. Ministério de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Cidadania. Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), 2017. Relatório Temático: FUNPEN e Prevenção à Tortura - As ameaças e potenciais de um fundo bilionário para a prevenção à tortura no Brasil. Disponível em: https://mnpctbrasil.files.wordpress.com/2019/09/funpen.pdf Acesso: 30 jul. 2023.
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 13 dez. 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: 12 jul. 2023.
CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Estado de Coisas Inconstitucional. Salvador: JusPodivm, 2016.
CASARA, Rubens Roberto Rebello. Estado pós-democrático: neo-obscurantismo e gestão dos indesejáveis. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. O sistema prisional brasileiro fora da Constituição – 5 anos depois. Balanços e projeções a partir do julgamento da ADPF 347. Jun. 2021. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/06/Relato%CC%81rio_ECI_1406.pdf Acesso: 20 jul. 2023.
CARBONELL, Miguel. El neoconstitucionalismo en su laberinto. In: CARBONELL, Miguel (ed.). Teoría del neoconstitucionalismo: ensayos escogidos. Madrid: Editorial Trotta, 2007.
DANTAS, Eduardo Sousa. Ações estruturais, direitos fundamentais e o estado de coisas inconstitucional. Revista Constituição e Garantia de Direitos, p. 155-176, 2017.
FLAUZINA, Ana; PIRES, Thula. Supremo Tribunal Federal e a naturalização da barbárie. Revista Direito e Práxis, v. 11, n. 2, p. 1211-1237, 2020.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública [livro eletrônico] / Fórum Brasileiro de Segurança Pública. – São Paulo: FBSP, 2023. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/ Acesso: 30 jun. 2023.
LUIZ, Bruno. Pedido de vista do STF suspende julgamento sobre violações de direitos. CNN, mai. 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/pedido-de-vista-suspende-julgamento-sobre-violacoes-de-direitos-em-penitenciaria/. Acesso em: 12 jul. 2023.
MACHADO, Maíra Rocha. Quando o estado de coisas é inconstitucional: sobre o lugar do Poder Judiciário no problema carcerário. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 7, n. 2, p. 631-664, maio/ago. 2020. DOI: 10.5380/rinc.v7i2.60692.
MAGALHÃES, Breno Baía. O Estado de Coisas Inconstitucional na ADPF 347 e a sedução do Direito: o impacto da medida cautelar e a resposta dos poderes políticos. Revista Direito GV, v. 15, n. 2, 2019, e1916. doi: http://dx.doi.org/10.1590/2317- 6172201916.
MAMEDE, Juliana Maria Borges; LEITÃO NETO, Helio das Chagas; RODRIGUES, Francisco Luciano Lima. O estado de coisas inconstitucional e o compromisso significativo enquanto instrumentos do constitucionalismo dialógico no Brasil: virtudes e limites. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 3, p. 807-835, set./dez. 2021. DOI: 10.5380/rinc.v8i3.72953.
PÁEZ, Nicolás Augusto Romero. La doctrina del estado de cosas
inconstitucional en Colombia: novedades del neoconstitucionalismo y “la inconstitucionalidad de la realidad”. Derecho Público Iberoamericano, nº 1, p. 243-264, octubre 2012.
REYES, Manuel Aragón. Dos problemas falsos y uno verdadero: “neoconstitucionalismo”, “garantismo” y aplicación judicial de la Constitución. Revista Mexicana de Derecho Constitucional, n. 29, p. 3-25, julio-diciembre 2013.
RODAS, Sergio. CNJ ordena que tribunais retomem audiências de custódia presenciais. In: https://www.conjur.com.br/2022-set-20/cnj-ordena-tribunais-retomem-audiencias-custodia-presenciais. CONJUR, 20 set. 2022. Acesso: 30 jul. 2023.
ROSSI, Amélia Sampaio; PAMPLONA, Danielle Anne. Neoconstitucionalismo e ativismo judicial: democracia e constitucionalismo em oposição ou tensão produtiva? Revista do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFC, v. 33.2, p. 13-29, jul./dez. 2013.
SOUSA FILHO, Ademar Borges de. O controle de constitucionalidade de leis penais no Brasil: graus de deferência ao legislador, parâmetros materiais e técnicas de decisão. 2019. 700 f. Tese (Doutorado em Direito) - Faculdade de Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Las penas crueles y la double punición. In: La medida del castigo: el deber de compensación por penas ilegales. VACANI, Pablo Andrés (coord.). 1a ed. Buenos Aires: Ediar, 2012.
VALENÇA, Manuela Abath. Audiências de custódia por videoconferência: um caso bem-sucedido? Revista Direito GV, São Paulo, v. 19, e2325, 2023. https:// doi.org/10.1590/2317-6172202325. Acesso: 30 jul. 2023.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Revista Eletrônica de Direito Penal e Política Criminal

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade, não representando, necessariamente, o pensamento da Revista Eletrônica de Direito Penal e Política Criminal, seus Editores e seu Conselho Científico. Os trabalhos publicados passam a ser propriedade da Revista REDPPC.