“Minha casa azul, protegida pelo manto de Nossa Senhora!” Criação e co-criação de mundos por mulheres negras assentadas no sul do Brasil

Autores

  • Dayana Machado UFRGS / Doutora

DOI:

https://doi.org/10.22456/1984-1191.137497

Palavras-chave:

Mulheres negras., Pensamento do tremor., Pesquisa situada., Co-criação., Extensão rural.

Resumo

A partir do tremor (Glissant, 2010) provocado pelo encontro fortuito com Joseane Silveira durante pesquisa de campo com mulheres negras do Assentamento Filhos de Sepé em Viamão, Rio Grande do Sul, nesse ensaio narro acontecimentos do cotidiano que ressoaram como pistas da criação e co-criação de mundos que eclodem no “momento exato da dança” (Pelbart, 2019). De tais acontecimentos, habitados pela beleza, o gosto pelos trabalhos manuais e a perspectiva dadivosa da relação com os demais vivos, eclodiram pulsantes modos de existência, indicando pertencimento ao mundo (ao seu mundo) com a força de deslocar a noção de um mundo universal padronizado. Apresentam-se mundos nos quais a vida vivida se mostra na potencia de povoar o que existe de força e beleza, numa constante luta para viver como se deseja, aqui e agora. Estremecida pela encruzilhada de mundos diferentes, capaz de evidenciar fissuras do saber-fazer da pesquisadora, eclodiram perspectivas para encontros simétricos.

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Biografia do Autor

Dayana Machado, UFRGS / Doutora

Doutora e mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Possui especialização em Agricultura Familiar Camponesa e Educação do Campo pela Universidade Federal de Santa Maria (2015) e graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (2005). Experiência profissional como extensionista rural em assentamentos de reforma agrária entre os anos de 2005 e 2010, atuando em Minas Gerais e entre 2012 e 2017 no Rio Grande do Sul, onde trabalhou no Programa de Assessoria Técnica Ambiental e Social (ATES). Entre 2011 e 2012 atuou junto à equipe internacional de cooperação aos movimentos camponeses do Haiti, sob coordenação da embaixada brasileira em Porto Príncipe e parceria com a Via Campesina. Atuou como extensionista rural no Instituto Rio Grandense do Arroz entre 2017 e 2023. É educadora no Instituto de Educação Josué de Castro onde leciona disciplinas para educandos e educandas que vivem em áreas de reforma agrária. Membro do Coletivo de mulheres para leitura e criação de textualidades não-canônicas (SUPORTE), coordenado por Pâmela Marconatto Marques e do grupo de pesquisa Laboratório Urgente de Teorias Armadas (LUTA - NEAB/UFRGS), coordenado por José Carlos Gomes dos Anjos. Dentre os temas de pesquisa e ensino de interesse estão pobreza e desenvolvimento; processos de mediação e extensão rural, teorias locais (nativas) e pensamento afroindígena; movimentos sociais rurais; gênero e feminismos comunitários; agroecologia, comunidades tradicionais e racismo ambiental.

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Publicado

2024-06-28

Como Citar

CRISTINA MEZZONATO MACHADO, D. “Minha casa azul, protegida pelo manto de Nossa Senhora!” Criação e co-criação de mundos por mulheres negras assentadas no sul do Brasil. ILUMINURAS, Porto Alegre, v. 25, n. 67, 2024. DOI: 10.22456/1984-1191.137497. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/137497. Acesso em: 27 abr. 2025.