"Não tem corpo, não tem crime": notas sócio-antropológicas sobre o ato de fazer desaparecer corpos
Abstract
O artigo propõe uma análise sócio-antropológica sobre o fenômeno do desaparecimento de pessoas. A reflexão é construída a partir do diálogo com o trabalho de outros pesquisadores e com base em material levantado em meu próprio trabalho de campo, que inclui, o acompanhamento de coletivos de familiares de vítimas de violência, entrevistas, documentação jornalística, estatísticas criminais, legislação sobre o assunto e boletins de ocorrência. Em meio ao emaranhado de atores e enunciados que constroem o desaparecimento enquanto problema policial, familiar e assistencial, interrogo sobre as possíveis relações entre desaparecimentos e homicídios. Argumento que o ato de fazer desaparecer corpos – enquanto prática-evento – fornece um denominador comum para policiais, milicianos e traficantes, atores que ora colaboram entre si, ora disputam. Corpos e pessoas desaparecidas fazem parte da linguagem do confronto, podendo inclusive ser objeto de transação. O desaparecimento forçado corresponde a um dispositivo de força situado entre a violência estatal e a violência criminal.Downloads
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