“As partes do Norte”: império e identidades locais em relatos da natureza de Pernambuco e Paraíba (1790-1817)
DOI:
https://doi.org/10.22456/1983-201X.83564Palabras clave:
Natureza, Identidades locais, Região, Capitanias do Norte, Século XVIIIResumen
No final do século XVIII, viajantes e naturalistas narravam outros cenários das paisagens nas capitanias do Norte, muitos dos quais desconhecidos ou, pelo menos, mal conhecidos. Muitas vezes sob o mecenato da Coroa, a tradicional cena protagonizada pelo canavial foi sendo recomposta por mais camadas de memória e conhecimento à moda da ilustração, encaminhadas pelas novas demandas que se apresentavam. Também se passou de uma América idealizada, oscilante entre o paraíso terreal e o lugar da danação da humanidade, para uma descrição pretensamente “científica” e utilitarista dos territórios. Foi nesse contexto que emblemáticas personagens como Bento Bandeira de Melo e Manoel de Arruda Câmara percorreram as capitanias do Norte e registraram o que viram, revelando como a diacronia natureza-cultura foi reposicionada pela chamada geração de 1790, que concluíra pela necessária transformação nas formas de produzir e utilizar os recursos naturais. Numa abordagem que aproxima a geografia do poder e a história das paisagens, o artigo também discute esses relatos da natureza como sintomas de uma regionalidade disputada no campo das identidades locais no Norte do Estado do Brasil, particularmente as ranhuras e descontinuidades impostas a secular capitalidade política e comercial do Recife.
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