Autorregulação e riscos: desafios e possibilidades jurídicos para a gestão dos resíduos nanoparticulados

Autores

  • Wilson Engelmann Unisinos
  • Daniele Weber S. Leal Unisinos
  • Raquel Von Hohendorff Unisinos

DOI:

https://doi.org/10.22456/0104-6594.84606

Palavras-chave:

Nanotecnologias, Riscos, Resíduos, Autorregulação, Direito Ambiental, Direito Sanitário

Resumo

RESUMO

A utilização industrial da escala nanométrica está avançando rapidamente sem que se tenha uma certeza científica sobre a segurança das nanopartículas e sem que a área jurídica tenha construído marco regulatório específico. As nanotecnologias vêm acompanhadas de incertezas científicas quanto seus efeitos e (possíveis?) danos futuros ao meio ambiente e vida humana. Com o aumento do consumo destes produtos, amplia-se também o descarte de nanomateriais no meio ambiente. Assim, a destinação final dos nanomateriais desperta uma enorme incógnita e clama por possíveis soluções. De que forma deveria ocorrer a destinação final do resíduo nanotecnológico? O Sistema do Direito vem enfrentando as complexidades do risco? E de que maneira o Direito poderá dar respostas adequadas para a gestão do nanowaste? O problema que se pretende enfrentar neste artigo é: uma vez que inexiste regulação específica sobre o nanowaste, de que forma seria viável a utilização do protocolo da OCDE? Baseado na cautela frente à incerteza, uma resposta adequada seria a adoção de algum instrumento regulatório, mesmo que estranho ao Direito, fundamentado no pluralismo jurídico de Teubner, respeitando a precaução e buscando evitar possível dano ambiental e às futuras gerações.

PALAVRAS-CHAVE

Nanotecnologias. Riscos. Resíduos. Autorregulação.

ABSTRACT

Industrial use of the nanometer scale is advancing rapidly regardless of the absence scientific certainty about the safety of nanoparticles and without the legal area having built a specific regulatory framework. Nanotechnologies are accompanied by scientific uncertainties as to their effects and (possible?) future harm to the environment and human life. With the increase in consumption of these products, the disposal of nanomaterials to the environment is also increasing. Thus, the final destination of nanomaterials arouses a huge unknown and calls for possible solutions. How should the final disposal of the nanotechnology residue take place? Is the Law System facing the complexities of risk? And how can the Law provide adequate responses to the management of nanowaste? The problem to be addressed in this article is the following: since there is no specific regulation on nanowaste, how would the use of the OECD protocol be feasible? Based on caution in the face of uncertainty, an adequate response would be the adoption of some regulatory instrument, even if unfamiliar to the Law, based on Teubner's legal pluralism, respecting precaution and seeking to avoid possible environmental damage to the future generations.

KEYWORDS

Nanotechnologies. Risks. Waste. Self-regulation.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Wilson Engelmann, Unisinos

Pós-doutor pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha). Doutor e Mestre em Direito Público pelo Programa de Pós-Graduação em Direito (Mestrado e Doutorado) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS/RS/Brasil; Professor deste mesmo Programa das atividades: “Transformações Jurídicas das Relações Privadas” (Mestrado) e “Os Desafios das Transformações Contemporâneas do Direito Privado” (Doutorado); Coordenador Executivo do Mestrado Profissional em Direito da Empresa e dos Negócios da Unisinos; Líder do Grupo de Pesquisa JUSNANO (CNPq); Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail: wengelmann@unisinos.br

Daniele Weber S. Leal, Unisinos

Doutoranda e Mestra em Direito pelo Programa de Pós-graduação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS; Especialista em Direito Público pelo Instituto de Educação RS(LFG); integrante do grupo de pesquisa JUSNANO (cnpq); Professora da FACCAT, disciplinas Metodologia da Pesquisa, Bioética e Biodireito e Ética Profissional; advogada; email: weber.daniele@yahoo.com.br

Raquel Von Hohendorff, Unisinos

Doutora e Mestra em Direito pelo Programa de Pós-graduação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS; Especialista em Direito do Trabalho UNISINOS; integrante do grupo de pesquisa JUSNANO (cnpq); Professora do Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado -UNISINOS e graduação; advogada; email: vetraq@gmail.com

Referências

ALBAGLI, Sarita. Biodiversidade e biotecnologia na geopolítica e na geoeconomia mundiais. In: Centro Internacional de Desenvolvimento Sustentável. Comércio e meio ambiente. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2001.

BARBAT, A. S. Estudios de Derecho de Seguros y Reaseguros. Uruguai: La Ley, Montevideo, 2016.

BECK, Ulrich. La Sociedad del Riesgo Mundial: en busca de la seguridad perdida. Traducción de Rosa S. Carbó. Barcelona: Paidós, 2008.

BERGER FILHO, Aírton Guilherme. A governança dos riscos das nanotecnologias e o princípio da precaução: um estudo a partir da teoria dialética da rede. Tese (Doutorado em Direito) - Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, 2016. Disponível em: <http://www.repositorio.jesuita. org.br/bitstream/handle/UNISINOS/5563/A%c3%adrton%20Guilherme%20Berger%20Filho2_pdf?sequence=3&isAllowed=y>. Acesso em: 26 jun. 2018.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 24 jun. 2018.

BRITTO, Roberta Socoowski et al. Effects of carbon nanomaterials fullerene C60 and fullerol C60 (OH) 18-22 on gills of fish Cyprinus carpio (Cyprinidae) exposed to ultraviolet radiation. Aquatic Toxicology, Amsterdam, v. 114-115, jun. 2012. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S0166445 X12000689>. Acesso em: 07 nov. 2018.

CAVE, Holly. Nano: a cleaner option? Could nanotechnology tidy up the planet without leaving a dangerous residue of its own?. The Guardian, London, Oct. 18 2013. Disponível em: <https://www.the guardian.com/what-is-nano/nano-a-cleaner-option?CMP=share_btn_link>. Acesso em: 05 jun. 2018.

CHRISTENSEN, Frans Møller et al. Better control of nanomaterials: summary of the 4-year Danish iniciative on nanomaterials. Copenhagen: The Danish Environmental Protection Agency, 2015. (Environment protect, n. 1797). Disponível em: <http://www2.mst.dk/Udgiv/publications/ 2015/12/978-87-93352-89-6.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2018.

COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Comunicação da comissão: relativa ao princípio da precaução. 2.2.2000 COM (2000) 1 final. Bruxelas, 2000. Disponível em: <http://eur-lex.europa. eu/legal-content/PT/TXT/?uri=celex:52000DC0001>. Acesso em: 05 ago. 2017.

DAL FORNO, Gonzalo Ogliari et al. Intraperitoneal exposure to nano/microparticles of fullerene (c60) increases acetylcholinesterase activity and lipid peroxidation in Adult Zebrafish (Danio rerio) Brain. BioMed Research International, New York, v. 2013, 2013. Disponível em: <https://www.hindawi.com/journals/ bmri/2013/623789/abs/>. Acesso em: 10 nov. 2018

DECLARATION on Waste Containing Nanomaterials. Disponível em: <http://www.natlawreview.com/article/european-organizations-issue-declaration-waste-containing-nanomaterials#sthash.k6eBXpMK.S2cTdme9.dpuf. >. Acesso em: 10 nov. 2018.

DELMAS-MARTY, Mireille. Libertés et sûreté dans un monde dangereux. Paris: Éditions du Seuil, 2010

DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e o dano ambiental: a aplicação do modelo construtivista de autorresponsabilidade. A Lei 9605/98. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora,2013.

DOUGLAS, Mary; WILDAVSKY, Aaron. Risco e cultura: um ensaio sobre a seleção dos riscos tecnológicos e ambientais. Tradutora Cristiana de Assis Serra. Rio de Janeiro: Elsvier, 2012

ENGELMANN, Wilson. Os avanços nanotecnológicos e a (necessária) revisão da Teoria do Fato Jurídico de Pontes de Miranda: compatibilizando “riscos” com o “direito à informação” por meio do alargamento da noção de “suporte fático”. In: CALLEGARI, André Luís; ROCHA, Leonel Severo; STRECK, Lenio Luiz (orgs.) Constituição, sistemas sociais e hermenêutica: anuário do programa de Pós-graduação em Direito da UNISINOS: mestrado e doutorado. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora; São Leopoldo: UNISINOS, 2011. p. 339-363.

ENGELMANN, Wilson; ALDROVANDI, Andrea; BERGER FILHO, Airton Guilherme. Perspectivas para a regulação das nanotecnologias aplicadas a alimentos e biocombustíveis. Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4, nov. 2013. Disponível em: <https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/69/ 76>. Acesso em: 11 ago. 2017.

FAO/WHO-. Food and Agriculture Organization of the United Nations/World Health Organization, Seminar on Nanotechnologies in food and agriculture Roma, 27 Mar. 2012. Disponível em: <http://www.fao.org/fileadmin/user_upload/agns/news_events/Nano_Seminar_Agenda_FINAL.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2018.

FERNANDES, Maria Fernanda Marques; FILGUEIRAS, Carlos A. L. Um panorama da nanotecnologia no Brasil (e seus macro-desafios). Química Nova, São Paulo, v. 31, n. 8, 2008. Disponível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/imagebank/pdf/Vol31No8_2205_49-AG07508.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2017.

GAVANKAR, Sheetal; SUH, Sangwon Suh; KELLER, Arturo F. Life cycle assessment at nanoscale: review and recommendations. The International Journal of Life Cycle Assessment, n. 17 p. 295-303, mar. 2012.

GONÇALVES, Vasco. Critical approach of the use of economic models in precaucionary risk management. European Journal on Risk Regulation: EJRR, Berlin, v. 4, n. 3, 2013. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/24323403?seq=1#page_scan_tab_contents>. Acesso em: 07 nov. 2018.

HIGH-LEVEL Expert Group on Key Enabling Technologies. Final Report, June 2015: KETs: Time to Act, European Commission. Disponível em: <http://ec.europa.eu/growth/industry/key-enabling-technologies/european-strategy/high-level-group/index_en.htm> Acesso em: 09 ago. 2017.

HOHENDORFF, Raquel Von. A Contribuição do Safe by design na estruturação autorregulatória da gestão dos riscos nanotecnológicos: Lidando com a Improbabilidade da Comunicação Inter-Sistêmica entre o Direito e a Ciência em Busca de Mecanismos para Concretar os Objetivos de Sustentabilidade do Milênio. 2018. Tese (Doutorado em Direito) Programa de Pós-graduação Mestrado e Doutorado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2018.

HOLLINGWORTH, P. The light and fast organization: a new way of dealing with uncertainty. Melbourne: Wiley, 2016.

HORIZON 2020 em breves palavras: O programa-quadro de investigação e inovação da EU. Disponível em: <https://ec.europa.eu/programmes/horizon2020/sites/horizon2020/files/H2020_PT_KI0213413PTN.pdf> Acesso em: 09 ago. 2017.

INTERNATIONAL Center for Technology Assessment. Princípios para a supervisão de nanotecnologias e nanomateriais. Traduzido por Secretaria Regional Latino-Americana da União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação, Agricultura, Hotelaria, Restaurantes, Tabaco e Afins (Rel-UITA). Washington: Nanoaction: International Center for Technology Assessment, jan. 2007. (NanoAction Project). Disponível em: <http://www6.rel-uita.org/nanotecnologia/Principios_Supervision_ NANOTECNOLOGIAS-por.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2018.

INTRODUCTION. Nanotechnology Products Database (NPD).[S.l.], 2018. Disponível em: <http://product.statnano.com/>. Acesso em: 07 jul. 2018

ISO - International Organization for Standardization. Ballot on ISO/DTR 12885 - Nanotechnologies - Healthandsafety practices in occupationalsettings. Relatório Técnico, 2017.

LEAL, Daniele Weber S. ENGELMANN, Wilson A autorregulação da destinação final dos resíduos nanotecnológicos (NANOWASTE): o Pluralismo Jurídico entre a gestão dos riscos e os protocolos da

OECD. São Leopoldo: Karywa, 2018.

LUHMANN, Niklas. El derecho de la sociedad. 2. ed. Herder: Ed. Universidad Iberoamericana, 2005.

______. Sociedad y sistema: la ambición de la teoria. Traducción de Santiago López Petit y Dorothee Schmitz. Barcelona: Paidós, 1990.

MARCHANT, Gary E; SYLVESTER, Douglas J. Transnational models for regulation of nanotechnology. The Journal of Law, Medicine & Ethics, Boston, v. 34, n. 4, p. 715, 2006. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1748-720X.2006.00091.x/abstract>. Acesso em: 25 jun. 2018.

MARTINS, Patrícia Santos. O sistema de normas ISO e as nanotecnologias: as interfaces regulatórias e o diálogo entre as fontes do Direito. 2016. Dissertação (Mestrado em Direito) - Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, 2016. Disponível em: <http://www.repositorio.jesuita.org.br/ handle/UNISINOS/ 6206>. Acesso em: 13 jul. 2017.

MENDOZA, Carlos Felipe; CABRERA, Laura Meraz. Hacia la nanociencia verde nanomateriales, nanoproductos y nanorresiduos. Materiales Avanzados, México, ano 10, n. 19, ago. 2012. Disponível em: <http://www.iim.unam.mx/revista/pdf/numero19.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2018.

MUSEE, N. Nanowastes and the environment: potential new waste management paradigm. Environment International, v. 37, n. 1, jan. 2011. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/ science/article/pii/S0160412010001558>. Acesso em: 05 jun. 2018.

ORGANISATION for Economic Co-Operation and Development (OECD). Nanomaterials in waste streams: current knowledge on risks and impacts. Paris, 2016. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1787/ 9789264249752-en>. Acesso em: 24 jun. 2018.

PARIOTTI, Elena. Law, uncertainty and emerging technologies: towards a constructive implementation of the precautionary principle in the case of nanotechnologies. Persona y Derecho, Pamplona, n. 62, 2010. Disponível em: <http://heinonline.org/HOL/LandingPage? handle=hein.journals/persodcho62&div=5&id=&page=>. Acesso em: 05 ago. 20187.

SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradutor Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016.

SOM, Claudia et al. The importance of life cycle concepts for the development of safe nanoproducts. Toxicology, n. 269, vol. 2-3, p. 160-169, mar. 2010.

TALLACCHINI, Mariachiara. Principio de precaución y bioseguridad: aplicación a la salud humana. In: ROMEO CASABONA, Carlos Maria (Ed.). Principio de precaución, biotecnología y derecho. Granada: Comares, 2004.

TEUBNER, Gunter. A Bukowina global sobre a emergência de um pluralismo jurídico transnacional. Impulso, Piracicaba, v. 14, n. 33, p. 11, 2003. Disponível em: <http://livrozilla.com/ doc/1623775/a-bukowina-global-sobre-a-emerg%C3%AAncia-de-um-pluralismo>. Acesso em: 15 jun. 2018.

______. Direito, sistema e policontexturalidade. Apresentação: Dorothee Susanne Rüdiger. Introdução: Rodrigo Octávio Broglia Mendes. Piracicaba: Ed. UNIMEP, 2005.

______. O direito como sistema autopoiético. Tradução de José Engracia Antunes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.

WEYERMÜLLER, André Rafael. Direito ambiental e aquecimento global. São Paulo: Atlas, 2010.

Publicado

2018-12-31

Como Citar

ENGELMANN, W.; LEAL, D. W. S.; HOHENDORFF, R. V. Autorregulação e riscos: desafios e possibilidades jurídicos para a gestão dos resíduos nanoparticulados. Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre, v. 1, n. 39, 2018. DOI: 10.22456/0104-6594.84606. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/revfacdir/article/view/84606. Acesso em: 28 mar. 2024.