
O Livro do Desassossego apresenta como núcleo vital uma incapacidade de agir resultante da tensão dialética entre o imo e o mundo exterior que é experienciada pelo seu autor. Bernardo Soares habita um espaço intersticial entre o pathos pensante e a inatingível imanência da sensação, deixando-se mergulhar num tédio e cansaço profundos propícios à produção literária. É no seio da poiesis que o semi-heterónimo pessoano encontra uma possibilidade de existir em constante inação – um não-viver como método para uma existência repleta de aporias. A presente reflexão centrar-se-á nesta proposta de uma não-vida, de um não-ser, articulando-a com o tema da negatividade que lhe subjaz e com a importância da positividade literária enquanto dentro exteriorizado capaz de distender os antagonismos existenciais.