Capacitismo e eugenia na educação brasileira: uma reflexão a partir de aproximações epistemológicas | Ableism and eugenics in Brazilian education: a reflection from epistemological approximations
Professor substituto da Faculdade de Educação da UFRGS. Licenciado em Filosofia, Mestre e doutorando em Educação pela UFRGS, com bolsa CAPES. Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura – NUPPEC.
Tomando como referência o campo dos estudos sobre deficiência (disability studies) e a conceitualização de capacitismo – forma particular de marginalização das pessoas com deficiência –, o artigo investiga a ligação entre as ideias eugenistas e o surgimento de uma modalidade de educação destinada a essas pessoas, a educação especial. Nesse sentido, as ciências biomédicas, ao operarem uma separação entre normalidade e anormalidade ofereceram as bases necessárias para a distinção entre capazes e incapazes, tornando estes inferiores àqueles. Por sua vez, isso leva a pôr em questão as matrizes epistemológicas que subjazem tais distinções, considerando-as como participantes nos fundamentos do pensamento ocidental e, portanto, implicadas nos projetos políticos que desembocaram em segregação racial, social e desumanização de diferentes grupos.
Palavras-chave: Estudos sobre Deficiência. Capacitismo. Educação. Educação Especial.
Abstract
Taking as reference the field of disability studies and the conceptualization of ableism - a particular form of marginalization of people with disabilities - this article investigates the connection between eugenic ideas and the emergence of a modality of education aimed at these people: special education. In this sense, the biomedical sciences offered, by operating a separation between normality and abnormality, the necessary basis for the distinction between capable and incapable, making these inferior to those. In turn, this leads us to question the epistemological matrices that underlie such distinctions, considering them as participants in the foundations of Western thought and, therefore, implicated in the political projects that led to racial, social segregation and dehumanization of different groups.
Keywords: Disability Studies. Ableism. Education. Special Education.
References
ALBRECHT, G. L. Encyclopedia of Disability. Thousand Oaks: SAGE Publications, 2006.
ANGELUCCI, C. B. Medicalização das diferenças funcionais: continuismos nas justificativas de uma educação especial subordinada aos diagnósticos. Nuances: estudos sobre educação, Presidente Prudente, 25, n. 1, jan-abr 2014. 116-134. Disponivel em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/2745. Acesso em: 18 agosto 2020.
ANGELUCCI, C. B. A patologização das diferenças humanas e seus desdobramentos para a educação especial. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED). Rio de Janeiro. 2015.
GALTON, F. Essays in Eugenics. London: The Eugenics Education Society, 1909.
GALVÃO, I.; BANKS-LEITE, L. A educação de um selvagem: as experiências pedagógicas de Jean Itard. São Paulo: Cortez, 2000.
KERN, G. D. S. Educar é eugenizar: racialismo, eugenia e educação no Brasil (1870-1940). Tese (doutorado). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016.
KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
KRENAK, A. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
LIMA, A. L. D. S.; BRAUN, S. M. A. H.; VASQUES, C. K. Normocentrismo tem remédio? Considerações anticapacitistas na escola. In CECCIM, R. B.; FREITAS, C. R. D. Fármacos, remédios, medicamentos: o que a educação tem com isso? Porto Alegre: Editora Rede Unida, v. 1, 2021. No prelo.
LIMA, A. L. D. S.; VASQUES, C. K. Epistemologias em jogo na educação especial. Educação especial em debate, Vitória, 2, n. 5, 09 agosto 2018. 60-76. Disponivel em: https://periodicos.ufes.br/reed/article/view/20982. Acesso em: 10 janeiro 2020.
LIMA, A. L. D. S.; VASQUES, C. K. Formas de conhecer em Educação Especial: mal-estar, discurso médico e vida ordinária na escola. Revista Educação Especial, Santa Maria, jul/set 2018. 617-630. Disponivel em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/30118/pdf. Acesso em: 4 abril 2021.
LIMA, E. B.; FERREIRA, S. D. M.; LOPES, P. H. Influências da Eugenia na Legislação Educacional Brasileira: as produções capacitistas na educação especial. In: GESSER, M.; BÖCK, G. L. K.; LOPES, P. H. Estudos da deficiência: anticapacitismo e emancipação social. Curitiba: CRV, 2020. p. 165-188. ISBN 978-65-5868-468-8.
MBEMBE, A. Necropolítica: Biopoder, soberania, estado de exceção, política de morte. São Paulo: n-1 edições, 2018.
MELETTI, S. M. F. Indicadores sociais, escolarização de alunos com deficiência e a pesquisa educacional. In: BUENO, J. G. S., et al. A produção do conhecimento no campo da educação especial. Araraquara: Junqueira & Marin, 2018. Cap. 9, p. 286-319. ISBN ISBN 978-85-8203-111-7.
MELLETI, S. M. F. Indicadores sociais, escolarização de alunoscom deficiência e a pesquisa educacional. In: BUENO, J. G. S., et al. A produção do conhecimento no campo da educação especial. Araraquara: Junqueira & Marin, 2018. Cap. 9, p. 286-319.
OLIVER, M. The politics of disablement. London: MacMillan, 1990. ISBN ISBN 978-1-349-20895-1.
PFEIFFER, D. The Philosophical Foundations of Disability Studies. Disability Studies Quarterly, 22, n. 2, spring 2002. 3-23. Disponivel em: https://dsq-sds.org/article/view/341/429. Acesso em: 5 outubro 2020.