CHAMADA PARA O NÚMERO 80 - POÉTICAS E POLÍTICAS NEGATIVAS MAIS AO SUL

2024-12-12

Em ensaio publicado na revista Quatro cinco um, Daniel Galera (2024) discute o desafio que as tragédias ambientais representam para a nossa capacidade de narrar. Ao transitar pelas ruas de Porto Alegre pouco depois de a cidade ser alagada pelas chuvas, o escritor se vê confrontado com uma “nova geografia” do desastre que altera radicalmente sua percepção do mundo, na qual a necessidade de falar (ou escrever) luta contra a mudez do choque. 

A essa experiência de perplexidade se soma aquela de um “horror gótico”, nas palavras de Galera, visto como “uma maneira de organizar um pouco o medo da morte, o asco da decomposição”, ou de representar o encontro do humano com o não humano. Kelly Hurley (2004) argumenta que a poética gótica ressurge periodicamente como meio de lidar com as ansiedades geradas por crises sociais e epistemológicas. Não é de estranhar, portanto, que Isabelle Stengers (2015) se valha de uma retórica da monstruosidade para descrever a “intrusão de Gaia”, como vai chamar o acontecimento no qual se desdobram os desastres que se anunciam. 

Partindo dessa discussão, este dossiê busca contribuições que investiguem como a literatura e a arte latino-americana enfrentam os desafios da representação no Antropoceno, principalmente no que diz respeito ao papel do horror e do imaginário do fim como formas de construção de sentido. Sob essa ótica, cabe indagar como a experiência concreta de um desastre como as enchentes do Sul levanta questões importantes sobre as relações entre ficção, memória e conhecimento. Interessa-nos, assim, examinar como se dá a elaboração estética da crise ambiental e seus desdobramentos políticos e socioculturais.

 

Organizadores: Prof. Dra. Marina Pereira (FURG), Prof. Dr André Cardoso (UFF) e Prof. Dr. Claudio Zanini (UFRGS).

Submissões de artigos, textos para seção livre e resenha: de 10/02 a 10/03.