A Indignação Ferroviária: Envelhecimento e Trabalho em Pelotas/RS
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.93289Palavras-chave:
Antropologia do Trabalho. Antropologia Visual. Etnografia da Duração. Ferroviários. Pelotas.Resumo
O artigo aborda o envelhecimento da comunidade de aposentados do trabalho ferroviário na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, a partir da perspectiva da Etnografia da Duração. Atentei para a pluralidade de imagens constitutivas das identidades narrativas dos ferroviários e de seus esforços de durar no tempo frente suas diferentes descontinuidades (aposentadoria, velhice, crise na ferrovia). Enfoquei seus projetos, seus engajamentos, seus anseios por manutenção da memória coletiva. Evidencio como as maneiras de agir dos ferroviários, estão diretamente relacionadas com o “fim” desse modelo produtivo e com a dissolução de sua comunidade profissional. Pretendo demonstrar que a crise tem direta relação com a duração das memórias, não como sua antítese, mas como característica basilar dos atos de resiliência. Abordo os projetos de duração, desde os “desejos de memória” dos aposentados(as). Narro minha experiência de inserção nas redes dos aposentados ferroviários pelotenses, ponderando sobre como os esforços intelectuais podem ser aliados dos projetos de duração das populações trabalhadoras urbanas.
Abstract
The article approaches the process of aging of the retired railroad work community in the city of Pelotas from the point of view of the Ethnography of the Duration. It pays attention to the plurality of images that are constitute of the narrative identities of the railroad workers and of their efforts to endure in the time facing his multiple discontinuities as the retirement, the aging itself and the railroad transport crisis in Brazil. I focused on their projects, their engagements, their claimings for duration of the collective memory. I pointed out to the actions of the retired workers are directly implied with the impacts of “the end” of the productive model based on railroads and also related with the dissolution of their professional community. I intend to demonstrate that the crisis has direct relation with the duration of the memories not as their antithesis but much more as a base for the resilience actions. My experience between the social networks of the railroad community was the base for refletion that the anthropological efforts can be allies of the duration projects of the urban workers populations.
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