“Medida socioeducativa é cadeia”: percepções de jovens em semiliberdade sobre violência, sociabilidade, mobilidade e educação em Campos dos Goytacazes
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.118994Palavras-chave:
Antropologia Pública. Sociabilidade. Mobilidade. Educação.Resumo
O presente artigo tem o objetivo de investigar as relações entre violência, sociabilidade, mobilidade e educação em Campos dos Goytacazes a partir da experiência de adolescentes cumprindo medida socioeducativa. O artigo apresenta reflexões sobre como a violência impacta na forma pela qual jovens em semiliberdade se movem por diferentes territórios urbanos e se relacionam com a cidade e a escola. O texto está estruturado em cinco partes. Na primeira, apresentamos o projeto de pesquisa e extensão, que deu origem ao presente trabalho, apontando como ele pode ser pensado como um exercício de antropologia pública. Na segunda seção, discutimos brevemente como a “violência urbana” em Campos dos Goytacazes pode ser associada a conflitos territoriais relacionados ao comércio varejista de drogas na cidade. Na terceira seção, apresentamos o Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente, onde realizados a pesquisa. Em seguida, apresentamos as percepções que os próprios jovens têm do CRIAAD e do sistema socioeducativo. Na quinta seção, a partir da descrição de cenas etnográficas, debatemos as dificuldades de jovens em semiliberdade de se moverem pela cidade devido às dinâmicas associadas à violência urbana e, consequentemente, de acessarem a escola.
Palavras-chave: Violência. Antropologia Pública. Sociabilidade. Mobilidade. Educação.
“Socio-educational measure is prison”: perceptions of young people in semi-freedom about violence, sociability, mobility and education in Campos dos Goytacazes
Abstract: The paper aims to investigate the relationship between violence, sociability, mobility and education in Campos dos Goytacazes based on the experience of adolescents that are under socio-educational measures. The article presents reflections on how violence impacts the way young people in semi-freedom move through different urban territories and relate to the city and the school. The article is structured in four parts. In the first, we present the research and extension project that gave rise to this work, pointing out how it can be thought of as an exercise in public anthropology. In the second section, we briefly discuss how “urban violence” in Campos dos Goytacazes can be associated with territorial conflicts related to the drug trade in the city. In the third section, we present the Integrated Resource Center for Assistance to Adolescents, where we carried out the research. Then, we present the perceptions that young people themselves have of CRIAAD and the socio-educational system. In the fifth section, based on the description of ethnographic scenes, we discuss the difficulties of young people who are fulfilling the socio-educational measure of semi-freedom to move around the city due to the dynamics associated with urban violence and, consequently, to access school.
Keywords: Violence. Public Anthropology. Sociability. Mobility. Education.
Downloads
Referências
ABRAMOVSY, Miriam. RUA, Maria das Graças. Desafio e alternativas: violência nas escolas. Brasília, UNESCO/UNDP, 2003.
BOLTANKI, Luc e THÉVENOT, Laurent. A Sociologia da Capacidade Crítica. European Journal of Social Theory, n. 2, v. 3, p. 359 - 377, 1999.
BOROFSKY, Robert. Public Anthropology: Where To? What Next?. Anthropology News, 45, p. 9–10, 2010.
BOROFSKY, Robert. Public Anthropology. The International Encyclopedia of Anthropology, p. 1–10, 2018.
CEFAÏ, Daniel; MELLO, Marco Antonio da Silva, MOTA, Fabio Reis; VEIGA, Felipe Berocan. Arenas públicas. Por uma etnografia da vida associativa. Niterói, Editora da Universidade Federal Fluminense, 2011.
CEFAÏ, Daniel. “Como nos mobilizamos? A contribuição de uma abordagem pragmatista para a sociologia da ação coletiva”. Dilemas - Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 2, n. 4, p. 11-48, 2009.
CORREA, Diogo Silva e DIAS, Rodrigo de Castro. A crítica e os momentos críticos: de la justification e a guinada pragmática na sociologia francesa. Mana, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, p. 67-99, abr. 2016.
CUNHA, Manuela Ivone. O bairro e a prisão: a erosão de uma fronteira. Portugal, Artigo Universidade do Minho, 2003.
DIAS, Aline Fávaro e ONOFRE, Elenice Maria Cammarosano. A relação do jovem em conflito com a lei e a escola. In: ELIASOPH, N. Avoiding politics. Cambridge, Cambridge University Press, 1998.
FERRADÁS, Carmen. ¿Desarrollo y seguridad o antropología pública? Reflexiones sobre los usos de la antropología. Etnografías Contemporáneas v. 1, n. 1, p. 58-70, 2015.
FREIRE-MEDEIROS, Bianca e LAGES, Mauricio. A virada das mobilidades: fluxos, fixos e fricções. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 123, p. 121–142, 2020.
FREIRE, Jussara; FERREIRA, Diogo da Cruz; SOARES, Viviany F; SANTOS, Tayná. Violência urbana e experiências públicas de familiares de vítimas no interior do estado do Rio de Janeiro. Sociabilidades Urbanas: Revista de Antropologia e Sociologia, v. 1, n. 2, p. 165-185, 2017.
FREIRE, Jussara. Problemas públicos e mobilizações coletivas em Nova Iguaçu, 1. ed., Rio de Janeiro, Garamond, 2016.
GARFINKEL, Harold. Studies in Ethnomethodology. Nova Jersey, Englewood Cliffs/Prentice Hall, 1967.
GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. Trad. Dante M. L. São Paulo, Perspectiva, 1974.
GRILLO, Carolina Christoph. Coisas da vida do crime: tráfico e roubos em favelas cariocas. Tese (Doutorado em Antropologia) - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
HANNAM, Kevin et al. Mobilities, immobilities, and moorings. Mobilities, v. 1, n. 1, p. 1-22, 2006.
JEWETT, Tom e KLING, Rob. The dynamics of computerization in a social science research team: A case study of infrastructure. strategies and skills. Social Science Computer Review, v. 9, n. 2, p. 246-275, 1991.
LARKIN, Brian. The politics and poetics of infrastructure. Annual Review of Anthropology 42, p. 327-343, 2013.
LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da cidadania e da política no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, n. 44, 2000.
LYRA, Diogo. Cartografias Afetivas na Cidade: As esferas de pertencimento de jovens traficantes da Baixada Fluminense. In: 37º Encontro Anual da ANPOCS, Águas de Lindóia, 37º Encontro Anual da ANPOCS, 2013.
MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio e LEITE, Maria Pereira. Violência, crime e polícia: o que os favelados dizem quando falam desses temas? Sociedade e Estado, v. 22, p. 545-592, 2007.
MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. Violência urbana, sociabilidade violenta e agenda pública. In: MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio (org.). Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008.
MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio e MENEZES, Palloma. (Des)continuidades na experiência de ‘vida sob cerco’ e na ‘sociabilidade violenta’. Novos Estudos. CEBRAP, v. 38, p. 529-551, 2019.
MARTINS, Luana. Entre a pista e a cadeia: uma etnografia sobre a experiência da internação provisória em uma unidade socioeducativa do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Autografia, 2020.
MENEZES, Palloma. Entre o “fogo cruzado” e o “campo minado”: uma etnografia do processo de ‘pacificação’ de favelas cariocas. Tese (Doutorado em Sociologia) - Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
MENEZES, Palloma. Monitorar, negociar e confrontar: (re)definições na gestão dos ilegalismos em favelas “pacificadas”. Tempo Social, v. 3, n. 3, p. 191-216, 2018.
MISSE, Michel. Crime, sujeito e sujeição criminal: aspectos de uma contribuição analítica sobre a categoria “bandido”. Lua Nova, São Paulo, n. 79, p. 15-38, 2010.
MOURA, Julia. Entre muros físicos e morais: análise das dinâmicas conflituosas entre uma escola estadual campista e seu novo vizinho CRIAAD. Monografia (Graduação em Ciências Sociais) - Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, 2019.
NERI, Natasha. Tirando a cadeia dimenor: a experiência da internação e as narrativas de jovens em conflito com a lei no Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
PINHEIRO, Ana Carla. Ver e não enxergar, escutar e não ouvir, ver e não falar: um estudo sobre a sociabilidade e as formas de conviver com o medo e o sentimento de (in) segurança em uma comunidade de periferia em Campos dos Goytacazes (RJ). Tese (Doutorado em Sociologia Política) - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, 2018.
SHELLER, Mimi. Theorising mobility justice. Tempo Social [online] v. 30, n. 2, p. 17- 34, 2018.
SILVA, Igor. Estigmas: Muros da vida, tempo e vivências do presente encarcerado. Monografia (Graduação em História) - Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, 2019.
SIMONE, Abdou Maliq. People as infrastructure. Intersecting fragments in Johannesburg. Public Culture, v. 16, n. 3, p. 407-429, 2004.
SIQUEIRA, Carolina de Oliveira. Territórios Proibidos? Uma análise das circulações e práticas sociais dos jovens das periferias de Campos dos Goytacazes/RJ. Dissertação (Mestrado em Políticas Sociais) - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2017.
SOUZA, Suellen André de. Existir no Tráfico: percepções e vivência dos jovens traficantes de drogas da favela Baleeira. Dissertação (Mestrado em Sociologia Política) - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, 2010.
STAR, Susan. A etnografia da infraestrutura. Anthropológicas, ano 24, v. 31(2), p. 61-85, 2020 (2013).
STAR, Susan e RUHLEDER, Karen. Steps toward an ecology of infrastructure: Design and access for large information spaces. Information Systems Research, v. 7, n. 1, p. 111-134, 1996.
URRY, John. Mobilities. Cambridge, Polity Press, 2007.
VAILATI, Alex e D´ANDREA, Anthony. Antropologia da Infraestrutura no Brasil: Desafios teóricos e metodológicos em contextos emergentes. Anthropológicas, ano 24, v. 31(2), p. 3-27, 2020.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Todo o conteúdo do periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons do tipo atribuição BY-NC.
O envio dos trabalhos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos de publicação para a revista, a qual é filiada ao sistema Creative Commons, atribuição CC BY-NC (https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/). O autor é integralmente responsável pelo conteúdo do artigo e continua a deter todos os direitos autorais para publicações posteriores do mesmo, devendo, se possível, fazer constar a referência à primeira publicação na revista. Esta não se compromete a devolver as contribuições recebidas.
O(s) autor(es) que submete (m) artigos para publicação na revista Iluminuras são legalmente responsáveis pela garantia de que o trabalho não constitui infração de direitos autorais, isentando a Revista Iluminuras quanto a qualquer falha quanto a essa garantia.