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Resumo

Este trabalho é fruto de um exercício de expressão posterior a dois encontros temporalmente distintos com uma mulher e um homem socialmente tomados como loucos. Os encontros tiveram o corpo da antropóloga como matéria de contato, um corpo não posicionado para a pesquisa propriamente dita, mas imerso num movimento de vida que já tem a pesquisa como parte de sua ação no mundo. Desses encontros, a pesquisadora sublinha uma recorrência, a preocupação dessa mulher e desse homem com a produção de seus próprios documentos. Documentos que pretendem comprovar a existência de outras pessoas, de relações entre pessoas, de circunstâncias de vida possíveis, porém não acontecidas. A produção do documento pelo “louco”, conclui-se, é fato que coloca lado a lado o irreal do pensamento com a sua materialização através de um suporte burocrático pretensamente legítimo e demonstra o poder de sugestão, subjetivação e mobilização deste objeto tornado familiar nas sociedades letradas.