“Das Deitsch hot noch viel Weat”: O que dizem falantes de Hunsrückisch de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul sobre a língua
Resumo
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar diferentes percepções com relação à língua brasileira de imigração Hunsrückisch, desenvolvida e falada no Brasil, principalmente no sul do país, a partir de 1824, com a chegada dos primeiros imigrantes alemães ao local. Ao longo desses anos, o Hunsrückisch passou por diferentes fases e status nas colônias alemãs e nas cidades que se desenvolveram. Primeiramente, ele foi a principal língua de comunicação entre os imigrantes recém-chegados em seu novo lar. Anos após, ele foi proibido de ser falado em função da Campanha de Nacionalização (1937-1945), que defendia a ideia de um país monolíngue. Passado esse período, o Hunsrückisch deixou de ser proibido, mas passou a ser cada vez menos falado, em função dos mitos que foram propagados com relação a ele: que seria uma língua de “colonos”, uma “língua errada”, um “alemão falso” e assim por diante (PUPP SPINASSÉ, 2016, p. 110). Nesse sentido, as pessoas passaram a sentir vergonha de saber Hunsrückisch e a não ver mais valor na língua, deixando de falá-la. Ao longo dos últimos anos, no entanto, o número de estudos com relação ao Hunsrückisch tem aumentado e muitas dessas visões estigmatizadas estão sendo desconstruídas. Contudo, ainda há uma precariedade nas políticas públicas relacionadas às línguas de imigração e, para que isso se reverta, é preciso “dar ouvidos” aos falantes e às línguas minoritárias em si, para que o plurilinguismo seja cada vez mais incentivado (ALTENHOFEN, 2013, p. 96). Nesse sentido, esse artigo ouviu falantes do Hunsrückisch, todos moradores da cidade de Morro Reuter, a fim de analisar as suas percepções com relação à língua de imigração. Essas entrevistas fazem parte da série de vídeos Mea spreche Deitsch (Nós falamos Deitsch), que é sobre e em Hunsrückisch. A análise dos dados mostrou que os entrevistados veem muito valor na língua, uma vez que diversas pessoas da região ainda a conhecem e, inclusive, possuem melhores habilidades comunicacionais em Hunsrückisch que em português. Nesse sentido, a língua é importante para a comunicação diária na região e para quem trabalha com atendimento ao público. Ademais, os entrevistados não se envergonham mais de conhecer a língua e acreditam ser importante que ela continue sendo falada, sendo a família e a escola as principais instituições apontadas como local onde ela pode ser aprendida. A partir dessas percepções, foi possível sugerir uma porção de ações e políticas linguísticas para valorização e manutenção do Hunsrückisch, tais como: sua inserção no currículo escolar, eventos que promovam maior interação na língua, workshops para pessoas em geral ou para quem trabalha com atendimento ao público, dentre outras. Contudo, o mais importante é que mais falantes da língua sejam ouvidos, para que se tenha ainda mais insumo para a criação de políticas linguísticas.
Palavras-chave: Hunsrückisch; políticas linguísticas; línguas de imigração.