Entre chamas e labaredas: histórias de fogueiras de impressos em Florianópolis no século XX
DOI:
https://doi.org/10.22456/1983-201X.76581Palavras-chave:
Queima de impressos, Salim Miguel, Livros proibidos, Liberdade intelectualResumo
O presente artigo relata três momentos de destruição de impressos através de sua queima pública, em Florianópolis, Santa Catarina, nos anos de 1917, 1950 e 1964, destacando-se a destruição de livros da Livraria Anita Garibaldi, que havia pertencido ao escritor Salim Miguel, em 1964, por evidenciar um ritual público, violento e persecutório organizado por homens que decidiram eliminar toda a expressão de ideias contrárias aos seus interesses. As similaridade e disparidades dos três casos aqui registrados, documentados através de jornais, revistas e relatos memorialísticos, salientam o papel e o lugar do impresso nas sociedades contemporâneas, além de colocarem em evidência os chamados biblioclastas, com tais acontecimentos convergindo para se conhecer a intolerância reacionária presente na cultura de destruição de livros e nos embates entre o sectarismo e a liberdade intelectual em pleno século XX.
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