“Um verdadeiro bacanal, uma coisa estúpida”: Anticomunismo, sexualidade e juventude no tempo da ditadura

Autores

  • Antonio Mauricio Freitas Brito Universidade Federal da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.22456/1983-201X.90662

Palavras-chave:

Anticomunismo – Juventude – Ditadura – Política sexual - Moral

Resumo

O artigo demonstra algumas representações anticomunistas heteronormativas elaboradas por militares sobre sexualidade, moralidade e juventude durante a ditadura no Brasil. A partir da preocupação de membros da caserna com a ação comunista junto aos jovens, sublinha a concepção de mundo que estigmatizava e temia comportamentos desviantes de gênero, associando-os a uma estratégia comunista de subversão dos costumes para corromper a juventude. Indica que estas representações circularam durante as ditaduras no Cone Sul. Discorre sobre o macartismo nos Estados Unidos sugerindo a importância de pesquisas sobre a influência no Brasil da matriz homofóbica do anticomunismo norte-americano elaborado nos anos 1950. Conclui que o anticomunismo brasileiro moralizante precisa ser compreendido em escala transnacional e conectado com um conservadorismo inscrito na média/longa duração.

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Biografia do Autor

Antonio Mauricio Freitas Brito, Universidade Federal da Bahia

Professor do Departamento de História. Membro do Programa de Pós-Graduação em História Social UFBA

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Publicado

2019-12-19

Como Citar

Brito, A. M. F. (2019). “Um verdadeiro bacanal, uma coisa estúpida”: Anticomunismo, sexualidade e juventude no tempo da ditadura. Anos 90, 26, 1–22. https://doi.org/10.22456/1983-201X.90662

Edição

Seção

Artigos: Lutas feministas e LGBTQ+ pela democracia no Brasil