O debate legislativo sobre a criação da Comissão Nacional da Verdade e as múltiplas articulações e dimensões de temporalidade da ditadura civil-militar brasileira

Autores

  • Caroline Silveira Bauer UFPel

DOI:

https://doi.org/10.22456/1983-201X.53185

Palavras-chave:

Ditadura Civil-Militar, Transição política, Comissão Nacional da Verdade, Temporalidade, Justiça de transição

Resumo

Este artigo analisa o debate ocorrido na sessão legislativa que aprovou a criação da Comissão Nacional da Verdade evidenciando os usos públicos e políticos do passado, bem como as múltiplas articulações e dimensões de temporalidade que coexistem em se tratando da temática da ditadura civil-militar brasileira. Parte de uma pesquisa mais ampla, a análise se centra na diferença entre o “tempo dos vencidos” e o “tempo dos vencedores” e de que forma essas diferentes concepções temporais influenciam na elaboração de políticas de memória e consecução da justiça de transição no Brasil.

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Biografia do Autor

Caroline Silveira Bauer, UFPel

Doutora em História pela Universidade Federal do Rio grande do Sul e pela Universitat de Barcelona. Professora de história contemporânea na Universidade Federal de Pelotas. Integrante do grupo de pesquisa internacional Memoria y sociedad – las políticas de reparación y memoria y los procesos sociales en la construcción de la memoria pública: conflicto, representación y gestión – HAR 2011-23490. Pesquisadora do CNPq.

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Publicado

2015-01-30

Como Citar

Bauer, C. S. (2015). O debate legislativo sobre a criação da Comissão Nacional da Verdade e as múltiplas articulações e dimensões de temporalidade da ditadura civil-militar brasileira. Anos 90, 22(42), 115–152. https://doi.org/10.22456/1983-201X.53185

Edição

Seção

Dossiê: Usos públicos e políticos da memória - Construções, conflitos e representações