Infanticídio e tentativa de “morte de si mesmo”: atos extremos no universo escravista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22456/1983-201X.105727

Palavras-chave:

Escravidão, infanticídio, suicídio, violência

Resumo

Este artigo propõe uma análise do discurso histórico-sociológico-cultural a respeito da escravidão no Brasil a partir de determinados processos-crimes que envolvem sujeitos escravizados negociando sua condição cativa. Esses processos estão acervados no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS) e apresentam o seguinte binômio: infanticídio e tentativa de suicídio. Eles tratam de mães escravas que em momentos diferentes mataram seus filhos e depois tentaram suicídio. Nesses processos existem alegações de possessão demoníaca e outras argumentações semelhantes que foram usadas para tentar explicar esse ato limite. Em todos esses casos, o fio condutor é a violência presente na cultura escravista que marcou o Brasil e que, de certa forma, não foi superada pela Abolição da Escravatura de 1888.

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Biografia do Autor

Roberto Radünz, Universidade de Caxias do Sul

Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Caxias do Sul - UCS. Professor e pesquisador do curso de História - UCS

Renata Siuda-Ambroziak, Universidade de Varsóvia - Polônia

Professora-pesquisadora na Universidade de Varsóvia. Vice-diretora do Instituto das Américas e Europa da Universidade de Varsóvia. Doutora em Filosofia Social pela Universidade de Warmia e Mazuria, UWM, Polônia e Pós-doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Santa Catarina.

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Publicado

2021-10-21

Como Citar

Radünz, R., & Siuda-Ambroziak, R. (2021). Infanticídio e tentativa de “morte de si mesmo”: atos extremos no universo escravista. Anos 90, 28, 1–22. https://doi.org/10.22456/1983-201X.105727

Edição

Seção

Artigos