Chamada para submissão de artigos: Tradições inventadas: intelectuais, identidades políticas e usos públicos do passado na América Latina (séculos XIX-XXI)

2023-04-19

Tradições inventadas: intelectuais, identidades políticas e usos públicos do passado na América Latina (séculos XIX-XXI)

 

Desde o século XIX, presenciamos em diversas áreas da América Latina uma série de processos de “invenção de tradições” (conforme definição clássica de Eric Hobsbawm), geralmente implicados na construção do Estado-nação. Assim, verifica-se no contexto a produção de narrativas heroicas imemoriais, que buscavam dar sentido e identidade a unidades políticas então recentes. À medida que novos governos colocavam em prática projetos de modernização, ou que diferentes áreas periféricas foram sendo incorporadas à economia capitalista internacional, as mitologias políticas originais ganhavam novos impulsos e desdobramentos, incluindo, muitas vezes, a dramatização do passado imaginado, em rituais formalizados por intelectuais, como se fossem representativos da cultura popular. Nasciam, ainda, movimentos coletivos e instituições que lançavam mão de práticas letradas já consolidadas ou de disciplinas e áreas do conhecimento em constituição, no mesmo intuito de representação do passado, da nação e/ou da região: literatura, história, geografia, folclore, artes visuais, humanidades em geral. Em comum, além dos objetivos nacionalistas (e regionalistas), podem-se destacar: a dicotomia campo/cidade, que relegava ao primeiro polo o estatuto de sobrevivência de um passado autóctone comum a determinado espaço mais amplo; a oposição a ideias de modernidade, como reação conservadora a mudanças sociais; a ambição de salvaguarda de hábitos e costumes percebidos como em vias de extinção; uma geografia imaginária, que elaborava limites simbólicos correlatos às fronteiras físicas e políticas; e a adaptação dos projetos locais a estratégias mais gerais de invenção, alimentadas pela economia internacional de bens culturais, como na identificação de atributos característicos da nação (trajes, bebidas, comidas, danças, animais, paisagens e figuras típicas).

 

Desde a perspectiva da história sociocultural, apoiada pela história transnacional que enfoca a circulação de pessoas, sentidos, ideias e textos, esta proposta de dossiê temático tem como objetivo central colocar em diálogo novas investigações que se concentrem no papel dos intelectuais na construção de identidades culturais através da manipulação do passado latino-americano. Serão bem-vindos trabalhos que analisem tradições inventadas por setores civis e/ou dirigidas desde o aparato de Estado, com suas motivações políticas; que discutam mitos políticos assentados na historiografia tradicional; que revisem a construção de estereótipos nacionais e regionais a partir de passados fabricados e disputas de memória.

 

Editores de seção: 

Prof. Dr. Jocelito Zalla, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp/UFRGS, PPGH/UFRGS, Profhistória/UFRGS)

Prof. Dr. Matías Emiliano Casas, Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Universidad Tres Febrero [Buenos Aires] (UNTREF)