Paleotocas gigantes na Região Metropolitana de Porto Alegre (estado do Rio Grande do Sul, Brasil).

Autores

  • Heinrich Theodor Frank Universidade Federal do Rio Grande do Sul https://orcid.org/0000-0003-1206-045X
  • Francisco Sekiguchi de Carvalho Buchmann Universidade Estadual Paulista
  • Leonardo Gonçalves de Lima Universidade Federal do Maranhão
  • Felipe Caron Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Renato Pereira Lopes Universidade Federal do Rio Grande do Sul https://orcid.org/0000-0002-4865-6426
  • Milene Fornari Universidade Federal Paulista

DOI:

https://doi.org/10.22456/1807-9806.127863

Palavras-chave:

Icnofósseis, Crotovinas, Megafauna, Megaichnus

Resumo

Túneis cavados por mamíferos semi-fossoriais da megafauna do Cenzóico da América do Sul são conhecidos como paleotocas e geralmente são descritos de registros isoladas ou de regiões bastante restritas. Condições especialmente favoráveis permitiram o mapeamento sistemático das paleotocas da Região Metropolitana de Porto Alegre (estado do Rio Grande do Sul, Brasil) ao longo de mais de uma década, cobrindo uma área de mais de 10 mil km2. Através de prospecção digital, estratégias de mídia e trabalho de campo foram encontrados mais de 400 túneis nesta região, geralmente em escavações antropogênicas de grande porte. Um registro com túneis pode compor-se de um túnel apenas ou por vários túneis, alcançando até duas ou três dezenas. Os túneis podem estar abertos ou então entulhados por sedimentos em maior ou menor grau. Mais de 80% dos túneis estão completamente preenchidos com sedimentos, sendo então classificados como crotovinas. Suas larguras variam entre 0.5 e 3.0 m e suas alturas entre 0.5 e 2.0 m. Frequentes são túneis com 1.4 m de diâmetro, cujo comprimentos originais foram estimados mais de 50 m. Traços de escavação nas paredes laterais e no teto são comuns, mas fósseis não foram encontrados. Em áreas muito planas como planícies de inundação ou em regiões de relevo muito acidentado (montanhoso) as paleotocas são raras a ausentes. A maior quantidade de túneis foi encontrada em regiões de relevo ondulado, relativamente estável, em diversos litotipos exceto sedimentos inconsolidados ou rochas magmáticas ou metamórficas inalteradas. É possível que cada colina ali tenha várias paleotocas, isoladas ou em grupos, ao redor de sua base. Assim, a região pode ser considerada a que possui a maior densidade conhecida de paleotocas desse tipo no mundo até agora.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Barboza E.G., Dillenburg S.R., Rosa M.L.C.C., Caron F., Lopes R.P., Watanabe D.S.Z. & Tomazelli L.J. 2021. Sistemas deposicionais e evolução geológica da planície costeira entre La Coronilla e Cabo de Santa Marta (Bacia de Pelotas): uma revisão. In: Jelinek, A.R., Sommer, C.A. (Eds.), Contribuições à Geologia do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Editora Compasso Lugar Cultura, Porto Alegre, p. 455-468. http://hdl.handle.net/10183/221964

Bechtel, A.P., Valdati, J., Rapanos, E.A., Weinschütz, L.C. & Ricetti, J.H.Z. 2022. Registro da “Megafauna do Quaternário” no Território do Geoparque Aspirante Caminhos dos Cânions do Sul, SC/RS. In: Seabra, G. (Ed): Educação Ambiental – uso, manejo e gestão de recursos naturais. Ituiutaba, MG, Ed. Barlavento, p. 498-508.

Berqvist, L.P. & Maciel, I. 1994. Icnofósseis de mamíferos (crotovinas) na Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 66(2): 189-197.

Bromley, R.G. 1990. Trace Fossils: Biology and Taphonomy. London, Unwin Hyman Ltd, London, 280 p.

Buatois, L.A. & Mángano, M.G. 2011. Ichnology: Organism-Substrate Interactions in Space and Time. Cambridge, Cambridge University Press, 370 p.

Buchmann, F.S.C., Lopes, R.P. & Caron, F. 2009. Icnofósseis (Paleotocas e Crotovinas) atribuídas a Mamíferos Extintos no Sudeste e Sul do Brasil. Revista Brasileira de Paleontologia, 12(3): 247-256. https://doi.org/10.4072/rbp.2009.3.07

Buchmann, F.S., Frank, H.T., Ferreira, V.M.S. & Cruz, E.A. 2016. Evidência de Vida Gregária em Paleotocas atribuídas a Mylodontidae (Preguiças-Gigantes). Revista Brasileira de Paleontologia, 19(2): 259-270. https://doi.org/10.4072/rbp.2016.2.09

Budke, A., Lima, G.L. & Carbonera, M. 2020. Análise de cavidades naturais presentes no oeste de Santa Catarina: um estudo de caso no município de Lindóia do Sul. Boletim Paranaense de Geociências, 77(1):1-12. https://doi.org/10.5380/geo.v77i0

Cardonatto, M.C. & Melchor, R.N. 2018. Large mammal burrows in late Miocene calcic paleosols from central Argentina: paleoenvironment, taphonomy and producers. Paleontology and Evolutionary Science, PeerJ 6: e4787. https://doi.org/10.7717/peerj.4787

Carmo, F.F., Carmo, F.F., Buchmann, F.S., Frank, H.T. & Jacobi, C.M. 2011. Primeiros registros de paleotocas desenvolvidas em formações ferríferas, Minas Gerais, Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 31, Ponta Grossa, PR, Anais. Available in https://www.cavernas.org.br/wp-content/uploads/2021/07/31cbe_531-540.pdf. Access in September 2022.

Cenizo, M., Soibelzon, E. & Saffer, M.M. 2016 Mammalian predator-prey relationships and reoccupation of burrows in the Pliocene of the Pampean Region (Argentina): new ichnological and taphonomic evidence. Historical Biology, 28(8): 1026-1040. https://doi.org/10.1080/08912963.2015.1089868

CPRM. Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais. 2008. Geologia e Recursos Minerais do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Escala 1:750.000.

Dondas, A., Isla, F.I. & Carballido, J.L. 2009. Paleocaves exhumed from the Miramar Formation (Ensenadan Stage-age, Pleistocene), Mar del Plata, Argentina. Quaternary International, 210(1-2): 44-50. https://doi.org/10.1016/j.quaint.2009.07.001

Faria, L.E., Santos, L.V., Martins, E.A., Silva, N.V.M. & Melo, B.S. 2019. A paleotoca no Parque das Mangabeiras: o primeiro registro de um fóssil em Belo Horizonte – MG. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 35, Bonito, MS. Available in http://www.cavernas.org.br/anais35cbe/35cbe_872-877.pdf Access in September 2022.

Fariña, R.A. 1996. Trophic Relationships among Lujanian Mammals. Evolutionary Theory, (11): 125-134.

Frank, H.T., Oliveira, L.D., Vicroski, F.N., Breier, R., Pasqualon, N.G., Araújo, T., Buchmann, F.S.C, Fornari, M., Lima, L.G., Lopes, R.P. & Caron, F. 2012a. The complex history of a sandstone-hosted cave in the state of Santa Catarina, Brazil. Revista Espeleo-Tema, 23(2): 87-101.

Frank, H.T., Buchmann, F.S.C., Lima, L.G., Fornari, M., Caron, F. & Lopes, R.P. 2012b. Cenozoic vertebrate tunnels in Southern Brazil. In: R.G. Netto; N.B. Carmona & F.M.W. Tognoli (eds.) Ichnology of Latin America - selected papers, Porto Alegre, Sociedade Brasileira de Paleontologia, p. 141-157 (Monografias 2).

Frank, H.T., Lima, L.G., Gerhard, N.P., Caron, F., Buchmann, F.S.C, Fornari, M. & Lopes, R.P. 2013. Description and Interpretation of Cenozoic Vertebrate Ichnofossils in Rio Grande do Sul State, Brazil. Revista Brasileira de Paleontologia, 16(1): 83-96. https://doi.org/10.4072/rbp.2013.1.07

Frank, H.T., Althaus, C.E., Dario, E.M, Tramontina, F.R., Adriano, R.M. & Almeida, M.L. 2015. Underground chamber systems excavated by Cenozoic ground sloths in the state of Rio Grande do Sul, Brazil. Revista Brasileira de Paleontologia, 18(2): 273-284. https://doi.org/10.4072/rbp.2015.2.08

Frank, H.T., Caron, F., Lima, L.G., Buchmann, F.S.C. & Fornari, M. 2022. Paleotocas da Megafauna Cenozóica no Município de Urubici (Santa Catarina). Espeleologia Digital, 3: 39-45. Available on https://see.ufop.br/revista-espeleologia-digital. Access July 2022.

Gopher Tortoise Management Plan, 2012. Florida Fish and Wildlife Conservation Commission, Tallahassee, FL (USA), 243 p. Available on https://myfwc.com/media/1819/gt-management-plan.pdf. Access July 2022.

Hickman, G.C. 1990. Adaptativeness of tunnel system features in subterranean mammal burrows. In: E. Nevo & O. Reig (Eds.) Evolution of subterranean mammals at the organismal and molecular levels. Proceedings of the Fifth International Theriological Congress, p. 185-210.

Hostnig, R. 2019. Paleomadrigueras con petroglifos: el caso de Llamamachay en Colquemarca, Cusco. Boletin SIARB, 33: 24-35.

Imbellone, P. & Teruggi, M. 1988. Sedimentación crotovinica en secuencias cuaternarias bonaerenses. In: REUNIÓN ARGENTINA DE SEDIMENTOLOGÍA, 2, 1988. Actas, Buenos Aires, p. 125-129.

Imbellone, P., Teruggi, M. & Mormeneo, L. 1990. Crotovinas en sedimentos cuaternarios del partido de La Plata. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON LOESS – CADINQUA, 1990. Mar del Plata, p. 166-172.

Jarvis, J.U.M. & Sale, J.B. 1971. Burrowing and burrow patterns of East African mole rats Tachyoryctes, Heliophobius and Heterocephalus. Journal of the Zoological Society of London, 163: 451-479. https://doi.org/10.1111/j.1469-7998.1971.tb04544.x

Lopes, R.P., Frank, H.T., Buchmann, F.S.C & Caron, F. 2017. Megaichnus igen. Nov.: Giant Paleoburrows Attributed to Extinct Cenozoic Mammals from South America. Ichnos, 24(2): 133-145. https://doi.org/10.1080.10420940.2016.1223654

Marin, H.D., Sobiesiak, J.S., Souza, M.O.A., Haag, M.B., Quillfeldt, S.D., Betella, C.M., Abreu, E.P., Silva, F.D., Morais, G.L. & Frank, H.T., 2016. Ocorrência de Paleotocas na Duplicação da Rodovia BR-116 entre Guaíba e Tapes no Rio Grande do Sul, Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 48. 2016, Porto Alegre - RS. Anais... São Paulo-SP: Sociedade Brasileira de Geologia, 2016. Available in http://cbg2017anais.siteoficial.ws/. Access in July 2022.

Martin, A.J. 2017. The Evolution Underground. Pegasus Books, New York, 405 p.

Milani, E.J., Melo, J.H., Souza, P.A. & Fernandes, L.A. 2007. Bacia do Paraná. Boletim de Geociências – Petrobrás, 15(2): 265-287.

Nogueira, R., Ferreira, R.F., Frank, H.T., Lima, L.G., Buchmann, F.C.S., Fornari, M., Caron, F. & Lopes, R.P., 2012. Possíveis Escavadores de Paleotocas em Novo Hamburgo. In: REUNIÃO ACADÊMICA DA BIOLOGIA DA UNISINOS - RABU 2012. São Leopoldo, Resumos. Available in https://www.ufrgs.br/paleotocas/Producao.htm Access September 2022.

Padberg-Drenkpol, J.A. 1933. Mysteriosas galerias subterrâneas em Santa Catarina. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Boletim do Museu Nacional, 9(1): 83-91.

Philipp, R. & Machado, R. 2005. The Late Neoproterozoic granitoid magmatism of the Pelotas Batolith, southern Brazil. Journal of South American Earth Sciences 19(4): 461-478. https://doi.org/10.1016/j.jsames.2005.06.010

Prous, A. 1991. Arqueologia brasileira. Brasília. Editora Universidade de Brasília, 605 p. ISBN 85-230-0316-9

Quintana, C.A. 1992. Estructura interna de una paleocueva, posiblemente de un Dasypodidae (Mammalia, Edentata) del Pleistoceno de Mar del Plata (Província de Buenos Aires, Argentina). Ameghiniana, 29(1): 87-91.

Reichmann, O.J. & Smith, S.C. 1990. Burrows and burrowing behavior by mammals. In: Genoways, H.H. (Ed.), Current Mammalogy. Plenum Press, New York, p. 197-244.

Ruchkys, U.A., Bittencourt, J.S. & Buchmann, F.S.C. 2014. A paleotoca da Serra do Gandarela e seu potencial como geossítio do Geoparque Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Caderno de Geografia, 24(42): 249-263. https://doi.org/10.5752/P.2318-2962.2014v24n42p249

Santos, R.F., Schipanski, H.J., Martello, A.R. & Vogel, H.F., 2021. Análise preliminar de paleotocas em Porto União-SC e União da Vitória-PR, Brasil. Research, Society and Development, 10(11): 01-13. https://doi.org/10.33448/rsd-v10i11.19176

Schipanski, H.J., Santos, R.F., Martello, A.R. & Vogel, H.F. 2021. Desmistificando a origem de um complexo de grutas no município de Porto União, Santa Catarina – Brasil. Revista GEOMAE, 12(2): 91-102. https://doi.org/10.33871/21783306.2021.12.2.91-102

Souberlich, R., Colmán, C., Ríos Dias, S.D. & Carlini, A. 2017. Primeras crotovinas en sedimentos Cuaternarios del Paraguay. In: PE-APA REUNIÓN DE COMUNICACIONES DE LA ASOCIACIÓN PALEONTOLÓGICA ARGENTINA - RCAPA, San Luis, 2018, Libro de Resúmenes, p. 72.

Vidal, G.T., Cavichiolo, C.D. & Dutra, D. 2019. Investigação de cavidade natural no município de Cerro Azul PR, que pode ser descrita como possível paleotoca. Curitiba, 16p. Monografia de Conclusão de Curso, Curso de Ciências Biológicas, Centro Universitário Campos de Andrade.

Vizcaíno, S.F., Zárate, M., Bargo, S.M. & Dondas, A. 2001. Pleistocene burrows in the Mar del Plata area (Argentina) and their probable builders. Acta Palaeontologica Polonica, 46(2): 289-301.

White, C.R. 2005. The allometry of burrow geometry. Journal of the Zoological Society of London, 265: 395-403. https://doi.org/10.1017/S0952836905006473

Zárate, M.A., Bargo, M.S., Vizcaíno, S.F., Dondas, A. & Scaglia, O. 1998. Estructuras biogénicas en el Cenozoico tardío de Mar del Plata (Argentina) atribuíbles a grandes mamíferos. Revista da Asociación Argentina de Sedimentologia, 5(2): 95-103.

Zero Hora, 1980. Surpresas no alargamento da avenida Bento Gonçalves. Porto Alegre, March 5th, 1980, p. 26-27.

Downloads

Publicado

2023-06-14

Como Citar

Frank, H. T., Sekiguchi de Carvalho Buchmann, F., Gonçalves de Lima, L., Caron, F., Pereira Lopes, R., & Fornari, M. (2023). Paleotocas gigantes na Região Metropolitana de Porto Alegre (estado do Rio Grande do Sul, Brasil). Pesquisas Em Geociências, 50(1), e127863. https://doi.org/10.22456/1807-9806.127863