Utilização de anel constritor ameróide para correção de duplo desvio portossistêmico extra-hepático em cão
DOI:
https://doi.org/10.22456/1679-9216.139627Palavras-chave:
Anomalias Vasculares, desvio portossistêmico, Constritor de anel ameróideResumo
Introdução: Os shunts portossistêmicos (PSS) são anomalias vasculares comuns em cães. Há uma prevalência de raças, sendo os cães de pequeno porte, principalmente os Yorkshire terriers, os mais afetados. A PSS pode ser extra-hepática ou intra-hepática, única ou múltipla, congênita ou adquirida e pode causar sinais clínicos neurológicos, gastrointestinais e urinários. Embora o tratamento clínico seja possível, sabe-se que a atenuação cirúrgica melhora significativamente a qualidade de vida dos pacientes com PSS. Este trabalho teve como objetivo relatar um caso de um canino com duas PSS que foram atenuadas cirurgicamente com uso de anel constritor de ameróide.
Caso: Uma fêmea de Yorkshire terrier, não castrada, com quatro meses de idade e pesando 3,3 kg, foi encaminhada para tratamento por suspeita de ingestão de fio de cobre. O exame físico revelou sinais neurológicos e sensibilidade abdominal. Com base na história e nos achados físicos do paciente, suspeitou-se de intoxicação por cobre e PSS foi considerado um possível diagnóstico. A radiografia lateral mostrou conteúdo gástrico heterogêneo e contendo estruturas radiopacas, indicando corpo estranho gástrico. O paciente foi submetido à celiotomia exploradora, o que confirmou a suspeita e permitiu sua retirada por gastrotomia. Durante o pós-operatório, o paciente teve recuperação lenta da anestesia e continuou apresentando sinais neurológicos. A tomografia computadorizada revelou um shunt porto-ázigos extra-hepático de 0,6 cm e um vaso anômalo de 0,25 cm originado do shunt porto-ázigos e inserido na veia cava caudal e nos ramos da veia gástrica. Após diagnóstico e estabilização dos sinais clínicos, foi realizada uma segunda celiotomia exploradora para correção de ambas as PSS. O primeiro vaso anômalo maior foi corrigido com a implantação de um anel constritor ameróide de 5 mm, enquanto um anel constritor de 3,5 mm foi implantado no segundo vaso anômalo. O paciente permaneceu estável no pós-operatório e recebeu alta cinco dias depois. No acompanhamento de sete dias, o paciente estava alerta, com apenas momentos ocasionais de agitação.
Discussão: O presente caso relata a presença de duplo shunt portossistêmico porto ázigos com presença de múltiplos ramos gástricos. As DP portoázigotas representam 25% de todos os shunts extra-hepáticos congênitos diagnosticados em cães. A atenuação cirúrgica é essencial para reduzir os sinais clínicos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com PSS. Um estudo com 128 cães com PSS congênita, acompanhados por 64 meses, demonstrou que a intervenção cirúrgica está diretamente associada ao aumento dos escores de qualidade de vida relacionados à saúde. Os shunts portossistêmicos são anomalias vasculares desafiadoras, tanto do ponto de vista clínico quanto cirúrgico. Em que, o manejo do caso envolvendo tratamento clínico para estabilização do paciente vinculado à manobra terapêutica cirúrgica é fator determinante para o sucesso do procedimento. Neste estudo, a modalidade de correção cirúrgica foi o implante de anel constritor de ameróide por meio de celiotomia. O anel constritor ameróide foi o primeiro dispositivo de oclusão gradual para atenuar shunts. Esta técnica tem se tornado mais comum na correção de shunts portossistêmicos congênitos em cães por ser segura e promover eficazmente o fechamento gradual dos shunts. É a terapia mais benéfica para os pacientes com maior taxa de sucesso do que outras técnicas, destacando a constante evolução da medicina veterinária, sendo o anel constritor ameróide um marco notável. No presente relato, a técnica cirúrgica utilizada, com uso do anel constritor ameróide, resultou em recuperação satisfatória do paciente que apresentava duplo shunt porto-ázigos portossistêmico.
Downloads
Referências
Bonamigo R. 2022. Intervalos de referência para exames laboratoriais de cães da região de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. 46f. Santa Maria, RS. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Santa Maria.
Bristow P., Lipscomb V., Kummeling A., Packer R., Gerrits H., Homan K., Ortiz V., Newson K. & Tivers M. 2019. Health-related quality of life following surgical attenuation of congenital portosystemic shunts versus healthy controls. Journal of Small Animal Practice. 60(Suppl 1): 21-26. DOI: 10.1111/jsap.12927. DOI: https://doi.org/10.1111/jsap.12927
Gow A.G. 2017. Hepatic Encephalopathy. The Veterinary Clinical of North America Small Animal Practice. 47(Suppl 3): 585-599. DOI: 10.1016/j.cvsm.2016.11.008. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cvsm.2016.11.008
Hunt G.B., Culp W.T.N., Mayhew K.N., Mayhew P., Steffey M. & Zwingenberger A. 2014. Evaluation of In Vivo Behavior of Ameroid Ring Constrictors in Dogs with Congenital Extrahepatic Portosystemic Shunts Using Computed Tomography. Veterinary Surgery. 43(Suppl 7): 834-842. DOI: 10.1111/j.1532-950X.2014.12196.x. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1532-950X.2014.12196.x
Konstantinidis A.O., Patsikas M.N., Papazoglou L.G. & Adamama-Moraitou K.K. 2023. Congenital Portosystemic Shunts in Dogs and Cats: Classification, Pathophysiology, Clinical Presentation and Diagnosis. Veterinary Sciences. 10(Suppl 2): 160. DOI: 10.3390/vetsci10020160. DOI: https://doi.org/10.3390/vetsci10020160
Poggi E., Rubio D.G., Pérez Duarte F.J., Del Sol J.G., Borghetti L., Izzo F. & Cinti F. 2022. Laparoscopic portosystemic shunt attenuation in 20 dogs (2018-2021). Veterinary Surgery. 51(Suppl 1): 138-149. DOI: 10.1111/vsu.13785. DOI: https://doi.org/10.1111/vsu.13785
Santos C.J., Valadares R.C., Torres R.C.S. & Nepomuceno A.C. 2019. Ultrasonography and portography in the diagnosis of shunt portoazigos in a dog - case report. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. 71(Suppl 3): 863-868. DOI: 10.1590/1678-4162-10286. DOI: https://doi.org/10.1590/1678-4162-10286
Schmlaz M.J. & Radhakrishnan K. 2020. Vascular anomalies associeted with hepatic shunting. World Journal of Gastroenterology. 26(Suppl 42): 6582-6598. DOI: 10.3748/wjg.v26.i42.6582. DOI: https://doi.org/10.3748/wjg.v26.i42.6582
Serrano G., Charalambous M., Devriendt N., Rooster H., Mortier F. & Paepe D. 2019. Treatment of congenital extrahepatic portosystemic shunts in dogs: A systematic review and meta-analysis. Journal of Veterinary Internal Medicine. 33(Suppl 5): 1865-1879. DOI: 10.1111/jvim.15607. DOI: https://doi.org/10.1111/jvim.15607
Van Den Bossche L., Van Steenbeek F.G., Favier R.P., Kummeling A., Leegwater P.A.J. & Rothuizen J. 2012. Distribution of extrahepatic congenital portosystemic shunt morphology in predisposed dog breeds. BMC Veterinary Reserach. 8(Suppl 112): PMC3602064. DOI: 10.1186/1746-6148-8-112. DOI: https://doi.org/10.1186/1746-6148-8-112
Vogt J.C., Krahwinkel D.J., Bright R.M., Daniel G.B., Toal R.L. & Rohrbach B. 1996. Gradual occlusion of extrahepatic portosystemic shunts in dogs and cats using the ameroid constrictor. Veterinary Surgery. 25(Suppl 6): 405-502. DOI: 10.1111/j.1532-950x.1996.tb01449.x DOI: https://doi.org/10.1111/j.1532-950X.1996.tb01449.x
Watson P. 2017. Canine Breed-Specific Hepatopathies. Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice. 47(Suppl 3): 665-682. DOI:10.1016/j.cvsm.2016.11.013 DOI: https://doi.org/10.1016/j.cvsm.2016.11.013
White R.N., Parry A.T. & Shales C. 2018. Implications of shunt morphology for the surgical management of extrahepatic portosystemic shunts. Australian Veterinary Journal. 96(Suppl 11): 433-441. DOI: 10.1111/avj.12756. DOI: https://doi.org/10.1111/avj.12756
Arquivos adicionais
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Carolina Yumi Miyaguni Morais, Victória Cristina dos Santos, Catherine Konrad Nava Calva, Anna Vitória Hörbe, Rainer da Silva Reinstein, Cauê Pereira Toscano, Daniel Herreira Jarrouge, Maurício Veloso Brun

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
This journal provides open access to all of its content on the principle that making research freely available to the public supports a greater global exchange of knowledge. Such access is associated with increased readership and increased citation of an author's work. For more information on this approach, see the Public Knowledge Project and Directory of Open Access Journals.
We define open access journals as journals that use a funding model that does not charge readers or their institutions for access. From the BOAI definition of "open access" we take the right of users to "read, download, copy, distribute, print, search, or link to the full texts of these articles" as mandatory for a journal to be included in the directory.
La Red y Portal Iberoamericano de Revistas Científicas de Veterinaria de Libre Acceso reúne a las principales publicaciones científicas editadas en España, Portugal, Latino América y otros países del ámbito latino