Envenomation by Brown Spider (Loxosceles sp.) in a German Shepherd Bitch - Laboratory and Anatomopathological Findings
Acidente em cão Pastor Alemão por aranha-marrom
DOI:
https://doi.org/10.22456/1679-9216.139389Palavras-chave:
aranha-marrom, Loxosceles sp., cão, intoxicação, toxicologiaResumo
Contexto: Apesar de pequena em tamanho, a aranha-marrom (Loxosceles sp.) frequentemente tem o hábito de se esconder em locais intradomiciliares e escuros, causando acidentes em humanos e animais. Elas não são agressivas, mas as picadas ocorrem quando são comprimidas, atacando rapidamente e saindo imediatamente, dificultando o reconhecimento da aranha. A picada geralmente é indolor ou semelhante à picada de mosquito, dificultando perceber o acidente, principalmente para o proprietário de animais pequenos. Atualmente, não há soro antiloxoscelico disponível para uso veterinário contra picadas de aracnídeos, e o atraso na suspeita e diagnóstico do loxoscelismo geralmente é fatal. Este relato teve como objetivo descrever um caso de lesões dermonecróticas suspeitas de picada de Loxosceles sp. em um cão Pastor Alemão jovem.
Caso: Uma cadela Pastor Alemão de 6 meses de idade, pesando 27 kg, foi admitida com histórico de inchaço no membro torácico direito por mais de uma semana. O exame clínico revelou estupor, mucosas pálidas e linfonodos aumentados. Hematomas edematosos no membro torácico, espalhando-se amplamente pela região abdominal ventral, foram observados, incluindo necrose e uma pequena perfuração dupla (~0,3 cm) na região axilar, como inoculação por quelíceras de aranha. Leucocitose, agregação plaquetária elevada e alto fibrinogênio levaram à suspeita de picada de aranha-marrom. Uremia, hipoalbuminemia e fosfatase alcalina elevada, juntamente com urinálise (proteinúria intensa e sangue oculto), indicaram insuficiência renal aguda. A radiografia mostrou aumento de tecido mole no membro torácico direito. A ultrassonografia revelou condição hepática e esplenomegalia. Apesar da administração de cuidados de suporte de emergência, o paciente faleceu 12 horas após a admissão. A necropsia revelou dermatite necrótica e miosite necro-hemorrágica, necrose renal (tubular tóxica aguda) e hepática, edema pulmonar, congestão esplênica, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, mostrando alterações sistêmicas críticas compatíveis com a ação mionecrótica e hemorrágica do veneno da aranha-marrom. Embora a aranha nunca tenha sido encontrada, esse caso reforça o tratamento imediato e a inspeção clínica minuciosa para o diagnóstico preciso do loxoscelismo.
Discussão: O cão apresentou a forma viscerocutânea do loxoscelismo, com apresentações agressivas e fatais, com áreas necróticas no membro torácico e abdome ventral, além de leucocitose, agregação plaquetária, trombocitopenia, proteinúria e sangue oculto na urina. Considerando que o inchaço no membro torácico foi notado pelo proprietário por mais de uma semana e que o cão foi levado tardiamente ao hospital veterinário, sua condição clínica piorou, comprometendo os órgãos sistêmicos. O veneno de Loxosceles sp. inativa o complemento hemolítico do soro, induzindo coagulação rápida e oclusão de pequenos capilares, e subsequente necrose tecidual. Os sinais necróticos são principalmente causados por proteínas pertencentes à família de fosfolipase D ("toxinas dermonecróticas"), que também são responsáveis pela hemólise, trombocitopenia e insuficiência renal. Devido ao atraso na obtenção de intervenção veterinária desde o histórico e as complicações sistêmicas, o cão faleceu. A necropsia mostrou intensa necrose ao nível muscular e em órgãos sistêmicos, como observado no membro torácico direito, rins, fígado, cérebro e coração. Os achados patológicos foram compatíveis com acidentes com animais peçonhentos em que suas toxinas têm ação mionecrótica e hemorrágica. Juntamente com a presença de pequena perfuração dupla no membro torácico, sugestiva de inoculação por quelíceras de aranha, o diagnóstico clínico foi concluído. Embora a aranha nunca tenha sido encontrada, esse caso reforça o tratamento imediato e a inspeção clínica minuciosa para o diagnóstico preciso do loxoscelismo.
Downloads
Referências
Abraham A., Tilzer L., Hoehn S. & Thornton S.L. 2015. Therapeutic Plasma Exchange for Refractory Hemolysis After Brown Recluse Spider (Loxosceles reclusa) Envenomation. Journal of Medical Toxicology. 11(3): 364-367. DOI: 10.1007/s13181-015-0485-9. DOI: https://doi.org/10.1007/s13181-015-0485-9
Brazil. Ministério da Saúde. 2022. Panorama dos acidentes causados por aranhas no Brazil, de 2017 a 2021. [Fonte:<https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no31/view>].
Brazil. Ministério da Saúde. 2023. Notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net). Acidente por animais peçonhentos. [Fonte:<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/animaisp/bases/animaisbrnet.def>].
Brazil. Ministério da Saúde. 2023. Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS). Relatórios de Atendimentos Anuais. [Fonte:<http://www.cit.rs.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1
&Itemid=61>].
De Miranda A.L.S., Guerra-Duarte C., Lima S.A., Chávez-Olórtegui C. & Soto-Blanco B. 2021. History, challenges and perspectives on Loxosceles sp. (Brown spiders) antivenom production in Brazil. Toxicon. 192: 40-45. DOI: 10.1016/j.toxicon.2021.01.004. DOI: https://doi.org/10.1016/j.toxicon.2021.01.004
De Miranda A.L.S., Lima S.A., Botelho A.F.M., Campos M.T.G., Eckstein C., Minozzo J.C., Chávez-Olórtegui C. & Soto-Blanco B. 2022. Protective Effectiveness of an Immunization Protocol Against the Toxic Effects of Loxosceles intermedia Venom in Rabbits. Frontiers in Veterinary Science. 9:852917. DOI: 10.3389/fvets.2022.852917. DOI: https://doi.org/10.3389/fvets.2022.852917
Freitas Netto F., Mansani F.P., Rech E.B., Campos G.L., Souza G.M.A., Smokanitz G., Bueno L.G. & Skonieski P.T. 2022. Atividade nefrotóxica da peçonha de Loxosceles spp. Brazilian Journal of Development. 8(5): 33067-33079. DOI: 10.34117/bjdv8n5-029. DOI: https://doi.org/10.34117/bjdv8n5-029
Gremski L.H., Da Justa H.C., Polli N.L.C., Schluga P.H.C., Theodoro J.L., Wille A.C.M., Senff-Ribeiro A. & Veiga S.S. 2022. Systemic Loxoscelism, Less Frequent but More Deadly: The Involvement of Phospholipases D in the Pathophysiology of
Envenomation. Toxins. 15(1): 17. DOI: 10.3390/toxins15010017. DOI: https://doi.org/10.3390/toxins15010017
Hueza I.M. & Duarte M.M.N. 2020. Zootoxinas. In: Spinosa H.S., Górniak S.L. & Palermo-Neto S.L. (Eds). Toxicologia Aplicada à Medicina Veterinária. 2.ed. Rio de Janeiro: Manole, pp.138-152.
Köse A., Abaci E., Babus S.B. & Yazici A. 2021. Skin Necrosis, Diffuse Urticaria, and Cellulitis Due to Presumed Loxosceles Spider Bite. Wilderness & Environmental Medicine. 32(2): 198-203. DOI: 10.1016/j.wem.2020.12.005. DOI: https://doi.org/10.1016/j.wem.2020.12.005
Lima S.A., Guerra-Duarte C., Costal-Oliveira F., Mendes T.M., Figueiredo L.F.M., Oliveira D., Avila R.A.M., Ferrer V.P., Trevisan-Silva D., Veiga S.S., Minozzo J.C., Kalapothakis E. & Chávez-Olórtegui C. 2018. Recombinant Protein Containing B-Cell Epitopes of Different Loxosceles Spider Toxins Generates Neutralizing Antibodies in Immunized Rabbits. Frontiers in Immunology. 9: 653. DOI: 10.3389/fimmu.2018.00653. DOI: https://doi.org/10.3389/fimmu.2018.00653
Okamoto C.K., den Berg C.W., Masashi M., Gonçalves-de-Andrade R.M. & Tambourgi D.V. 2017. Tetracycline Reduces Kidney Damage Induced by Loxosceles Spider Venom. Toxins. 9(3): 90. DOI: 10.3390/toxins9030090. DOI: https://doi.org/10.3390/toxins9030090
Peterson M.E. & Adams C.M. 2011. Brown Recluse Spiders. In: Osweiler G.D., Hovda L.R., Brutlag A.G. & Lee J.A. (Eds). Blackwell’s Five-Minute Veterinary Consult - Small Animal Toxicology. 2nd edn. Hoboken: Wiley-Blackwell, pp.370-375.
Peterson M.E. & McNally J. 2012. Spider Envenomation: Brown Recluse. In: Peterson M.E. & McNally J. (Eds). Small Animal Toxicology. 3rd edn. Philadelphia: Saunders, pp.823-826. DOI: https://doi.org/10.1016/B978-1-4557-0717-1.00080-6
World Spider Catalog. 2023. Gen. Loxosceles Heineken & Lowe, 1832. World Spider Catalog. Version 25.0. Natural History Museum Bern. DOI: 10.24436/2 [Fonte:<http://wsc.nmbe.ch/genus/3087/Loxosceles>].
Yigit N., Bayram A., Ulasoglu D., Danisman T., Ocal I.C. & Sancak Z. 2008. Loxosceles Spider bite in Turkey (Loxosceles rufescens, Sicariidae, Araneae). Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases. 14(1): 178-187. DOI: DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-91992008000100016
1590/S1678-91992008000100016.
Arquivos adicionais
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Thaís Cristina Vann, Stefanie Bressan Waller, Eugênia Tavares Barwaldt, Sofia Fiorini Telli , Francesca Lopes Zibetti , Marta Priscila Vogt , Fabiane Borelli Grecco , Paula Priscila Correia Costa

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
This journal provides open access to all of its content on the principle that making research freely available to the public supports a greater global exchange of knowledge. Such access is associated with increased readership and increased citation of an author's work. For more information on this approach, see the Public Knowledge Project and Directory of Open Access Journals.
We define open access journals as journals that use a funding model that does not charge readers or their institutions for access. From the BOAI definition of "open access" we take the right of users to "read, download, copy, distribute, print, search, or link to the full texts of these articles" as mandatory for a journal to be included in the directory.
La Red y Portal Iberoamericano de Revistas Científicas de Veterinaria de Libre Acceso reúne a las principales publicaciones científicas editadas en España, Portugal, Latino América y otros países del ámbito latino