Urolitíase vesical de estruvita em felino de dois meses de idade

Autores

  • Isadora Santos de Oliveira Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS, Brazil https://orcid.org/0009-0008-5887-4057
  • Catherine Dall'Agnol Krause Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS, Brazil https://orcid.org/0000-0001-7369-1939
  • Beatriz Lopes Simão Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS, Brazil https://orcid.org/0000-0002-7421-7654
  • Francielli dos Santos Borba Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS, Brazil https://orcid.org/0009-0003-1962-1077
  • Jade Paiva Del Manto Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS, Brazil https://orcid.org/0009-0002-6682-9068
  • Cristine Cezar Tietböhl Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS, Brazil
  • Catherine Bicca Fragoso Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS, Brazil
  • Ana Carolina Barreto Coelho Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS, Brazil https://orcid.org/0000-0002-5047-7363

DOI:

https://doi.org/10.22456/1679-9216.137684

Palavras-chave:

cistotomia, Diagnóstico, Ultrassonografia

Resumo

Background: A urolitíase vesical, condição complexa e multifatorial, é uma das principais afecções do trato urinário inferior e está relacionada à solidificação de cristais, denominados urólitos, devido à supersaturação da urina na bexiga. Tem maior incidência entre dois e sete anos de idade, com escassos relatos na literatura de felinos acometidos com menos de um ano. A ultrassonografia é uma importante ferramenta para auxiliar no diagnóstico de urolitíase vesical, principalmente associada ao uso do Doppler colorido. Este estudo tem como objetivo relatar uma ocorrência rara de urolitíase em bexiga em um felino de apenas dois meses de idade, enfatizando o diagnóstico ultrassonográfico.

Case: Um felino, fêmea, inteira, com dois meses de idade, foi atendido apresentando hematúria, polaquiúria e disúria há um dia. A paciente era fruto de uma cruza consanguínea entre uma gata siamesa e seu filho sem raça definida. A dieta do animal consistia em alimento seco comercial para filhotes em livre demanda e a ingestão de água era limitada. Na palpação constatou-se algia abdominal. Durante a consulta, foram observadas gotas de urina avermelhada e pequenos urólitos sendo expelidos pela vulva. A paciente foi submetida a um exame de ultrassonografia abdominal, que revelou um processo inflamatório na bexiga e uma litíase urinária intraluminal. Instituiu-se tratamento para cistite a base de antibiótico, anti-inflamatório não esteroidal e opioide por 3 dias, além de orientações gerais sobre dieta e manejo ambiental. No retorno para a última aplicação dos medicamentos, manifestou estrangúria e expeliu mais urólitos pela vulva. Devido a situação, a paciente foi encaminhada para realização de cistotomia. No decorrer do procedimento, sofreu três episódios de parada cardíaca, controlados pelo anestesista, e mais um no pós-operatório imediato, ao qual veio a óbito. Os cálculos retirados durante a cirurgia e os expelidos anteriormente foram encaminhados para análise qualitativa, que indicou presença de estruvita.

Discussion: O diagnóstico de urolitíase foi fundamentado no histórico do animal, no exame físico, no hemograma e na ultrassonografia com Doppler colorido. O animal tinha apenas dois meses de idade, faixa etária pouco acometida pela enfermidade. Felinos da raça Siamês apresentam predisposição para formação de cálculos de urato; entretanto, a paciente apresentou urolitíase por estruvita, concordando com as predisposições ditadas pela faixa etária e sexo. O hemograma revelou uma leve anemia e leucocitose por neutrofilia e monocitose, indicando uma possível inflamação e/ou infecção associada à urolitíase da paciente. O exame ultrassonográfico foi escolhido pelo baixo custo, por não expor a paciente filhote à radiação e por ser considerada mais sensível, quando comparada ao exame radiográfico. A superfície do urólito destaca-se na imagem ultrassonográfica como hiperecóica no lúmen vesical, gerando um intenso sombreamento acústico posterior. O quadro clínico da paciente levou a baixa repleção vesical e comprometeu a observação. Assim, o uso das técnicas ultrassonográficas desempenhou um papel crucial para o diagnóstico de urolitíase vesical: confirmação da presença do urólito, com modo Doppler, e do processo inflamatório com espessamento de parede da bexiga. O tratamento de urólitos de estruvita consiste em dissolução médica com dieta terapêutica. No presente caso, a paciente apresentou estranguria quatro dias após o início do tratamento com ração medicamentosa e, assim, a escolha pelo tratamento cirúrgico foi considerada. Diante da raridade desses eventos em felinos tão jovens, este relato destaca a necessidade e a relevância de diagnosticar precocemente e implementar estratégias terapêuticas específicas, fortalecendo a importância da ultrassonografia como uma ferramenta diagnóstica sensível e específica, mesmo diante de sintomas desafiadores em pacientes pediátricos.

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Arquivos adicionais

Publicado

2024-09-27

Como Citar

Santos de Oliveira, I., Dall’Agnol Krause, C., Lopes Simão, B., dos Santos Borba, F., Paiva Del Manto, J., Cezar Tietböhl, C., … Barreto Coelho, A. C. (2024). Urolitíase vesical de estruvita em felino de dois meses de idade. Acta Scientiae Veterinariae, 52. https://doi.org/10.22456/1679-9216.137684

Edição

Seção

Case Report

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