Dos Bacurizais ás Roças: Ocupação e Uso dos Espaços no Território do Quilombo Bairro Alto, Salvaterra, Pará

Autores

  • Mayara Gonçalves Lima UFPA
  • Angela May Steward UFPA

Palavras-chave:

manejo dos recursos naturais, meios de vida, conflitos territoriais, Marajó, Amazônia.

Resumo

O presente estudo visa registrar como os quilombolas da comunidade do Bairro Alto, Salvaterra, PA, Brasil, ocupam e utilizam o espaço do seu território. Tem foco específico nas práticas de manejo com destaque para o manejo do bacuri (Platonia insignis) no contexto de constantes conflitos territoriais e a intensificação do interesse comercial pelo bacuri nos últimos dez anos. O estudo tem uma abordagem antropológica baseada na etnografia, utilizando os seguintes métodos: observação participante, entrevistas estruturadas semiestruturadas e histórias orais. Dados secundários oriundos de pesquisas bibliográficas também foram incorporados. Os resultados demonstram que os quilombolas utilizam os diversos ambientes do território e dedicam-se a atividades de roça, criação animal, pesca, caça e extrativismo. As roças de mandioca e os quintais são importantes espaços produtivos que contribuem para o sustento das famílias. O manejo do açaí (Euterpe oleracea L.) e do bacuri destacam-se como as atividades extrativistas mais recorrentes na comunidade. A coleta do bacuri nas florestas intensificou-se nos últimos anos devido ao aumento da procura da fruta nos mercados regionais, nacionais e internacionais. Por sua vez, o aumento na demanda resultou em transformações importantes nos sistemas das práticas quilombolas. Essas correlações se materializam no fato de que para garantir a reprodução social do grupo, os quilombolas estão pleiteando o título definitivo das suas terras e organizando-se para o planejamento sustentável do seu território.

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Biografia do Autor

Mayara Gonçalves Lima, UFPA

Mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável, Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas, Universidade Federal do Pará

Angela May Steward, UFPA

Professora adjunta, Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares/ Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas, Universidade Federal do Pará.

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Publicado

2021-03-28